Os prejuízos naturais no planeta hoje não são uma crise ambiental, mas um desgaste antropológico, afirmou o reitor da PUC-Rio, padre Josafá de Siqueira, biólogo e especialista em educação ambiental, ao participar do Simpósio Poluição Ambiental, na Academia Nacional de Medicina, nesta quinta-feira, 14. O reitor destacou que o homem finge lidar com recursos naturais ilimitados, enquanto o ideal para o ecossistema seria o alcance do equilíbrio entre lucro e sustentabilidade:
– O mundo nos mostra sinais negativos dos nossos atos, como o derretimento das calotas polares, a crise hídrica, a diminuição da fauna e flora, e, ainda assim, o ser humano não toma medidas drásticas para a conservação do nosso planeta. Ele continua descartando lixo, liberando agrotóxico e poluindo o ar – afirmou padre Josafá, acrescentando que essa postura é um desrespeito a Deus, “que nos deu esse ecossistema para administrar e não para destruir”, à natureza e ao próximo, “que também precisa dos recursos naturais para sobreviver”.
A partir de uma abordagem humanística e filosófica da Encíclica da Laudato Sí, do Papa Francisco, lançada há pouco mais de um ano, o reitor observou que o interesse humano, ao se deparar com fluxo de resultados imediatos e valores e princípios, é individualista e antropocêntrico. Citou como exemplo o avanço tecnológico – que, segundo o Papa, não foi acompanhado pelo desenvolvimento do ser humano – como fascínio que serve de remédio para os males do ser humano. Reconhecendo que a racionalidade tecnológica é muito importante para a medicina, a agricultura, a educação, entre outros setores, o reitor lembrou que “a missão de todos é preservar nossa casa comum”.
Por fim, padre Josafá elencou cinco problemas resultantes desse desinteresse humano: ético, social, antropológico, teológico e espiritual. O primeiro implica hábitos e costumes egoístas; o segundo, a falta de visão integrada em sociedade; o terceiro, a consideração de que direitos humanos são superiores a limites com a natureza; o quarto, a necessidade de administrarmos a natureza, e não dominá-la; e o último, a certeza de que doenças no corpo físico, causadas por poluição, afetam a saúde espiritual.
Participaram ainda do Simpósio Poluição Ambiental, organizado pelo acadêmico Walter Araujo Zin, os professores Sandra M.F. de Oliveira e Azevedo, Israel Felzenszwalb, André Riguetti, e Paulo Hilário Nascimento Saldiva, da USP. A íntegra dos debates está disponível em vídeo no site da ANM.