A PUC-Rio recebe, desta quarta-feira, 25, a sábado, 28, a Associação de Estudos Brasileiros (Brasa), que realiza o XIV Congresso Internacional da Associação. A abertura ocorreu no Ginásio, com a presença do Reitor da Universidade, padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J., do presidente da Brasa, Bryan McCann, da diretora da Coordenação Central de Cooperação Internacional (CCCI), professora Angela Paiva, da presidente da Associação de Brasilianistas na Europa, Mônica Raisa Schpun, e dos co-organizadores do encontro Márcia Rinaldi e Ramon Stern. Na abertura, houve uma homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada em abril deste ano.
Organizada pela Coordenação Central de Cooperação Internacional (CCCI) da PUC-Rio, a edição conta com a presença de aproximadamente mil pesquisadores de diversos países e de diferentes áreas do conhecimento que estudam sobre o Brasil. Durante os quatro dias, eles vão participar dos painéis e debates na parte da manhã e da tarde. Na programação, haverá também lançamentos de livros e roda de jongo.
Na abertura, o Reitor agradeceu a presença de todos e destacou a importância de discutir os temas sobre o Brasil, principalmente na atual situação sociopolítica do país. Ele destacou também a interdisciplinaridade do congresso, que está ligada à política da Universidade de troca entre os departamentos.
– A PUC tem que acolher diferentes encontros que abordam questões de interesse da sociedade. Espero que o congresso realize os seus objetivos, que é exatamente fazer o debate interdisciplinar, interdepartamental, e que no final possa trazer conclusões práticas não só para a Universidade, mas para a sociedade como um todo.
O presidente da Brasa, professor Bryan McCann, da Georgetown University, explicou que a função do congresso é compartilhar e criar uma rede de troca entre os pesquisadores, já que, segundo ele, o mundo acadêmico pode ser muito isolado. McCann explicou que a função da Associação é ser interdisciplinar. Nesta edição, por exemplo, serão apresentados mais de cem trabalhos de diferentes temas. Durante a abertura, o presidente lembrou a figura da vereadora Marielle Franco e afirmou que o trabalho dela era muito ligado aos objetivos da Brasa.
— Em termos da associação, de modo geral, acho que o objetivo é abrir o congresso com essa homenagem a Marielle Franco e ter a memória de Marielle sempre presente como uma diretriz do congresso. Que a nossa visão seja uma visão como a dela.
A professora Angela Paiva afirmou que a realização do congresso consolida e marca a importância internacional da Universidade que, como ela lembrou, é considerada a mais internacionalizada do país, de acordo com o último ranking. Angela disse que a Brasa tem a preocupação de desenvolver pesquisa que auxilie os menos favorecidos e, por isso, acredita que a homenagem a Marielle é importante.
— A Brasa tem uma preocupação muito forte de trabalhar com as minorias. As pesquisas são sobre desigualdade, repressão, sobre qualquer forma de injustiça, essas são as grandes pesquisas da Brasa. E a homenagem a Marielle é muito simbólica, porque ela representa essa luta, a luta de uma mulher negra que veio da favela, foi aluna no Departamento de Ciências Sociais, e que foi silenciada porque estava denunciando formas violentas em áreas da cidade do Rio de Janeiro.
Durante a abertura, Renata Souza, que era chefe de gabinete da vereadora Marielle Franco, conduziu a homenagem ao ler, emocionada, um poema que fez para Marielle. Para Renata, o ato internacionaliza a figura e os debates da ex-vereadora, além de reforçar o pedido de justiça e questionar qual tipo de política assassinou Marielle.
A Brasa é um grupo interdisciplinar e internacional de acadêmicos que apoiam e promovem os estudos brasileiros, principalmente nas ciências humanas e sociais, ao redor do mundo. Criada em 1992 com o objetivo de promover e continuar os estudos do país. Por isso, a cada dois anos é realizado o congresso internacional para divulgar e debater esses estudos.
Plenárias
Durante os quatro dias, diversas plenárias ocorrerão no campus da PUC-Rio sobre os mais variados temas. No primeiro dia de congresso, um dos encontros discutiu o tema Direitos, Aspirações e Inclusão: os desafios da democracia brasileira. Participaram do debate os pesquisadores Samuel Johnson, da University of Miami, Mariana Sierra e Diego Bustos, da University of New México, com mediação da vice-presidente da Brasa, professora Leila Lehnen, da Brown University.
PhD em Estudos sobre literatura, linguística e cultura, pela Universidade de Miami, o americano abordou o livro A queda do céu, de Davi Kopenawa. Segundo ele, o livro foi uma junção da etnografia acadêmica de Bruce Albert, um antropólogo francês, e a cosmologia de Kopenawa, um índio da tribo Yanomami, localizada no norte do Brasil, na fronteira com a Venezuela. Entre os temas, foi abordada a visão cosmológica da tribo e a denúncia da incursão do agronegócio nas áreas indígenas.
De acordo com Johnson, o ato de expor a visão de mundo da tribo para o Ocidente já foi um ato de resistência e, para ele, não é apenas mais um trabalho antropológico, é, também, literatura. Johnson enxerga a obra além do conteúdo acadêmico e disse estar disposto a aumentar o público do livro.
- A cultura ocidental está tentando abrir novas maneiras de pensar meio ambiente e a democracia. No livro, Kopenawa está se comunicando com outros humanos, qualquer ser vivente e ele problematiza o significado de ser humano. Para Kopenawa, qualquer ser vivente tem origem humana. É muito mais que a antropologia e mais que só uma disciplina, é um testemunho.
A colombiana Mariana Sierra, mestre em Língua Espanhola pela Universidade de São Paulo, trouxe para a plenária uma leitura sobre a semelhança entre os filmes Riocorrente (2013) e Aquarius (2016). De acordo com ela, os dois filmes