Gestão e liderança das escolas
05/04/2019 17:49
Gustavo Magalhães e Clara Martins

Livro organizado pelo Grupo de Pesquisa Gestão e Qualidade da Educação (GESQ) aborda os novos caminhos para a administração escolar

Livro Gestão escolar e qualidade da educação: caminhos e horizontes de pesquisa. Foto: Larissa Gomes

O conceito de liderança, as dificuldades da gestão e a importância dos dados educacionais são alguns dos temas abordados pelo livro Gestão escolar e qualidade da educação: caminhos e horizontes de pesquisa, apresentado no seminário que ocorreu na quarta-feira, 3. A obra busca entender os contextos, processos, agentes e resultados da escolarização. Além disso, propõe uma conversa entre os diversos estudos na área, com foco na qualidade e intervenção dessa realidade em busca de melhorias.

As autoras Cynthia Paes de Carvalho, Ana Cristina Prado de Oliveira e Maria Luiza Canedo reuniram no livro um conjunto de diálogos entre pesquisas sobre gestão escolar. A obra articula análises quantitativas e a percepções dos agentes envolvidos na administração e na implementação de políticas educacionais.

As pesquisadoras debateram os efeitos dos dados que obtiveram nas pesquisas e enxergam neles possibilidade de trazer mudanças para a escola, seja por meio da leitura e da utilização de estatísticas educacionais ou pela operacionalização de sistemas. Contudo, Ana Cristina afirmou que essas análises não são percebidas da mesma forma pela maioria das gestões.

– Entender esses resultados como possibilidade efetiva de alguma mudança para discussões e construções para as escolas não foi uma questão achada pela pesquisa.

De acordo com Ana, que é doutora em Educação pela PUC-Rio, os estudos ao redor do mundo são convergentes em certos aspectos da escolarização pública, mesmo que a cultura e a geografia distanciem esses locais. Para ela, o GESQ procura trabalhar nesse intercâmbio de pesquisa, com o objetivo de internacionalizar e promover o multiculturalismo da gestão escolar.

– Embora sejamos países tão distantes, temos coisas que dá para conversar. E isso nos desafia a pensar a necessidade de reconstrução contextual do próprio termo liderança no nosso contexto brasileiro e no nosso contexto de gestão escolar.

Segundo Ana Cristina, a satisfação dos docentes com o trabalho é uma questão importante para a implementação de políticas públicas nas redes pública de ensino. A doutora disse ainda que a alta evasão e rotatividade dos professores e diretores não ajuda para a qualidade de ensino nas escolas públicas. E ressaltou a carência de um diálogo mais frequente dos grupos de pesquisa com as escolas e com as redes.

– As escolas municipais estão sempre sobrecarregadas com seus próprios problemas que tem pouco espaço para acolher isso. Mas continuamos achando importante essa relação. A demanda que nos vem é mínima para nossa capacidade de trabalho. Às vezes, pagam consultoria internacional para coisa que a universidade faria de graça. É preciso azeitar essa relação.

Público atento ao debate. Foto: Larissa Gomes

Durante o seminário, o professor Ângelo Ricardo de Souza, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), declarou que a realidade no ambiente acadêmico não dialoga com os dados. Segundo Souza, eles são importantes, mas não traduzem a realidade, pois há uma discrepância entre o que ocorre de fato dentro das escolas e o que as análises mostram. Nesse olhar, para ele, é mais relevante analisar as estatísticas comparativamente com resultados anteriores.

– São informações importantes, mas não quer dizer que o dado seja absoluto e de que fato seja aquilo. É mais importante ver como a variável se comporta ao longo do tempo. O dado não pode ser fotografia. Ele varia, depende de cada realidade.

Para o professor, existe um conflito, o qual chamou de descompasso duplo, com as análises. A parte interna desse comportamento se refere ao fato de não ter professores formados para lidar com geração e análise das informações. Por outro lado, quem faz as pesquisas, geralmente, usa critérios externos demais à realidade escolar, afirmou Ângelo Souza.

As autoras Cynthia Paes de Carvalho, Ana Cristina Prado de Oliveira e Maria Luiza Canedo. Foto: Larissa Gomes

O livro aborda um debate para o trabalho de líder do diretor como possibilidade de trazer mudanças significativas para propostas educacionais das escolas. Entretanto, de acordo com Ana Cristina, há uma resistência a esse conceito de liderança. Outro problema é a falta de escuta e consulta aos diretores para implementação dessas alterações.

– Chega um novo sistema e ninguém pergunta ao diretor se essa mudança será útil. Às vezes, para aquele contexto, pode ser mais do mesmo.

Os estudos também apontam para as interações entre os professores e o diretor. Em muitos casos, essa relação facilita a sintonia nas salas de aula, repercutindo positivamente nos resultados dos alunos. Para a doutora, os gestores têm responsabilidade específica como implementadores das políticas, pois a figura tem relevância para a eficácia das propostas educacionais.

– Estudos nos inspiraram a criar um índice para falar sobre essa liderança do diretor, como os professores avaliam e reconhecem sua importância no estímulo ao trabalho. É nessa perspectiva que consideramos a liderança.

Dentro desse ponto, Ângelo Souza discorreu sobre a percepção do clima escolar, relacionado à organização e à cooperação entre os docentes e alunos. De acordo com o professor, o clima deve ser lido de um jeito mais amplo, incluindo três componentes: ambiente, tempo e pessoas. Logo, segundo ele, não se trata somente das condições espaciais, mas também das interações humanas. A partir disso, será possível saber se há um espaço favorável ou não para a qualidade educacional, afirma o professor.

– A escola não se faz no individual. Não é a soma do resultado dos indivíduos, é muito mais do que isso.

 

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