Uma viagem à China
05/04/2019 18:47
Paula Veiga

ECOA, através de palestras, trouxe perspectiva chinesa sobre diferentes assuntos

Encontro reúne divesos palestrantes. Foto: Maloni Cuerci

Com o objetivo de aproximar o Brasil da China, do ponto de vista cultural, social e tecnológico, a Universidade promoveu, nos dias 26 e 27 de março, o ECOA China, uma iniciativa do Departamento de Informática da PUC-Rio. Um dos organizadores do encontro, Rafael Nasser, do Laboratório de Engenharia de Software (LES), disse que, ao promover um seminário como esse, a ideia é também entender um pouco como as empresas chinesas atuam no Brasil, e, por outro lado, identificar as oportunidades que elas podem trazer para o país.

De acordo com Nasser, foram convidados para participar do ECOA China especialistas que pudessem apresentar conhecimento relevante sobre a relação Brasil e China. Durante os dois dias de encontro, foram mais de 40 palestrantes. Segundo ele, houve a preocupação de reunir opiniões do mercado e não se restringir apenas a uma visão acadêmica sobre o assunto.

- Há uma frase da Câmara de Comércio Brasil China: chinês só faz negócio quando se relaciona. Para interagir, deve conhecer a cultura. Uma brincadeira interessante é que quando chinês ri e balança a cabeça não significa que ele está concordando, quer dizer que ele entendeu o que você disse. É importante compreender a forma de pensar e agir para poder estabelecer um diálogo e fazer negócios, trabalhar junto. A cultura é um dificultador, mas, uma vez que é superada, os povos têm muito potencial para se relacionar.

 

Katia Vega e Hugo Fuks falam sobre Shenzhen. Foto: Amanda Dutra

O diretor do Departamento de Informática, professor Hugo Fuks, afirmou que o ECOA busca a documentação de qualidade, de maneira compacta e que favoreça o consumo. Mostrar às pessoas as tecnologias disponíveis e a aplicação delas é uma das missões do ECOA, assinalou Fuks.

- É importante que sejamos interdisciplinares, pois, se não formos, a tecnologia não será usada, não vai prestar - observou.

Professora da Universidade da Califórnia-Davis (UC Davis) e designer de tecnologias de beleza, Katia Vega abriu a programação do ECOA no turno da tarde. O trabalho de Katia consiste em utilizar tecnologia na superfície da pele: na unha, nos cílios, no cabelo, para as pessoas poderem interagir com outros objetos. A professora contou que estava no encontro para compartilhar a experiência profissional quando esteve em Shenzhen, maior cidade de criação de eletrônicos no mundo, na China.

Hugo Fuks, que também atua como coordenador pedagógico do ECOA, comentou que, em Shenzhen, a inovação é valorizada durante o processo de fabricação. De acordo com Fuks, a filosofia nessa cidade chinesa é mostrar que quem inova na confecção, moderniza em tudo depois. Ele afirmou também que, hoje, os makers (criadores) se deslocam para onde existem essas empresas. Nas palavras do diretor do Departamento de Informática, Shenzhen é uma vitrine da China que cresce.

- Tinha uma época que se falava de BRICS, e o Brasil é BRICS. Mas para por aí. Quando você vê a dimensão das coisas, não tem comparação. A 25 de Março é uma rua no fim esquecido de Shenzhen. Nessa cidade chinesa, são prédios e prédios, onde o consumidor pode escolher uma variedade de coisas, sua cabeça roda. E é importante a cabeça rodar para quem quer criar. É aí que saímos da caixa. Nessa hora, para o maker, estar em Shenzhen faz a diferença. É como estar na Disneylândia.

Troca Cultural

Atleta da Seleção Brasileira de Kung Fu, Gabriel Guarino falou sobre aspectos culturais da arte marcial e ainda fez uma demonstração ao público. De acordo com o lutador, por conta da cultura, a percepção do conteúdo é diferente ao brasileiro e ao chinês.  Guarino explicou que a passagem de conhecimento cultural no Kung Fu pode ocorrer de duas formas. A primeira, de acordo com o lutador, é a partir de um processo corporal, em que o aluno internaliza a cultura na prática do esporte. A outra é a cultura que é passada pelo professor por meio de explicações, somadas aos estudos feitos pelos alunos.

- O ruim são os contextos de transmissão. Até por motivo histórico, muitos mestres foram da China à América para ensinar. Parte deste conteúdo se perde porque não temos acesso ao idioma. A minha mestra é de uma região que fala cantonês, eu estou estudando mandarim. Hoje consigo acessar os conteúdos escritos que ela tem porque a leitura é unificada, mas tem uma parcela da transmissão oral que perdemos dado que, apesar de falar o suficiente de inglês, ela não domina o português.

 

O encontro reúne várias perspectivas sobre a China dentro e fora do cenário brasileiro. Foto: Amanda Dutra

A tecnologia de forma transversal

Diretor executivo da Riosoft, o empresário Alberto Blois contou sobre a experiência com a China dentro de uma instituição sem fins lucrativos. Todo ano a empresa, em parceria com a PUC-Rio, organiza o encontro Rioinfo. Diferentes segmentos da economia, como indústria automotiva, agronegócio, indústria cervejeira, comércio, varejo, educação, saúde, seguros e finanças são discutidos com o viés tecnológico. Dos estados brasileiros, 21 estão presentes, além da representação internacional, como a chinesa.

De acordo com o empresário, a China é uma variável importante na equação mundial, portanto, é importante para o Brasil que a China participe de encontros como a Rioinfo. Ele também afirmou que o contato com os estrangeiros é uma forma de visualizar e entender o momento atual do mercado exterior.

- A China quer atuar no mercado brasileiro e os brasileiros sonham com o mercado chinês de quase 1,5 bilhão de habitantes. Essa colaboração empresarial e comercial é muito importante, passa também por uma parceria técnica de integrar produto, tecnologia. Com o país asiático ainda há a diferença cultural, mas as pessoas com rapidez se encontram e se ajeitam. A principal linguagem e motivação é a realização de um negócio, com isso se resolve qualquer problema.

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