Na II Conferência Internacional de Estudos da Imigração Chinesa ao Brasil: Relações Interculturais, diversos estudiosos foram reunidos nos dias 5 e 6 de junho. Entre os profissionais estava a pesquisadora Jessieca Leo, que discutiu o tema migração de criadores culturais Hakka e como elas afetam a adaptação dessa identidade. Hakka, de acordo com Jessieca Leo, é a principal e maior população chinesa. As migrações, citou a pesquisadora, serviram para moldar a cultura Hakka ao longo dos anos, mas, hoje, a identidade desse povoado se tornou ambígua por se ajustar aos variados ambientes.
Doutorando na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Edivan Costa conversou com a plateia sobre as redes migratórias de chineses no município de São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Segundo Costa, 2.991 descendentes vivem na região, o que equivale a 6,25% dos chineses no Brasil. Um dos motivos para a presença dos asiáticos em São Gonçalo é a existência da BR-101 e da RJ-104, estradas que conectam a área a locais como Tijuca, Botafogo, Vila Isabel, Duque de Caxias e Nova Iguaçu, além ser um local expressivo de trocas. Grande parte dos imigrantes chineses em São Gonçalo, de acordo com o pesquisador, são originários das províncias de Guangdong e Fujian.
O bairro da Liberdade, em São Paulo, ganhou destaque na voz de Yin Qiao, mestranda em língua, literatura e cultura japonesa, na área de concentração de imigração. A pesquisadora contou que o local se originou com os japoneses, mas, hoje, o lugar é constituído também por chineses e coreanos. No mestrado, Yin Qiao faz um trabalho sobre o perfil dos imigrantes japoneses e chineses no bairro paulista, e dividiu a pesquisa nas categorias relações pessoais, cooperação das entidades sociais e negócios, com base em 200 questionários e mais de 30 entrevistados dos arredores.
- Nos resultados concluí que nas relações pessoais os japoneses e chineses não têm muita vontade de se relacionar uns com os outros. Apesar disso, a maioria dos imigrantes chineses descreveram os japoneses como amigáveis. Algo que vi na cooperação entre as entidades foram as aulas de mandarim realizadas na Enkyo e a apresentação de Taiko no Ano Novo Chinês. Contatos comerciais são poucos entre os dois grupos.
Outro assunto abordado no congresso foi a forma que os chineses são retratados na indústria de filmes. O professor Christopher Vecoli, da University of Illinois at Urbana-Champaign, analisou algumas obras hollywoodianas e estereótipos chineses na indústria cinematográfica, conteúdos audiovisuais feitos no Brasil, originalmente sob influência dos japoneses que viviam no país sul-americano. O O professor também comentou sobre documentários criados por chineses no Brasil e por brasileiros na China, que, segundo ele, são filmes que poderiam ser vistos tanto como mediação cultural e apropriação cultural. Vecoli ainda avaliou longas-metragens que expressam preconcepções dos locais e tempos em que foram concebidos.
- A Terra dos Deuses (1937) foi lindo, porém profundamente inautêntico. Uma pessoa branca interpretou a personagem chinesa Hakka, e as gravações foram realizadas em Los Angeles. Mas há casos opostos também, China, O Impérios do Centro (1987), do diretor João Moreira Salles, foi um excelente documentário retratando a cultura e história chinesa.
Durante a conferência, houve o lançamento do livro Chinês de Olhos Azuis, de Tarliz Liao, que fez uma palestra com a professora Liniana Liao. A obra é baseada na história do pai de Tarliz e Liniana, que são irmãos. Liao Weirong foi prisioneiro na guerra coreana e Tarliz Liao descreveu o pai como o homem da sua vida. O escritor disse que uma história sempre tem várias versões, mas procurou, depois da morte de Weirong, fazer com que as memórias da família vivessem eternamente.