A jornalista Manuela d'Ávila, que foi candidata a vice-presidente da República pelo PT na eleição de 2018, esteve na PUC-Rio para ministrar a Aula Magna do Departamento de Arquitetura e Urbanismo no dia 25 de setembro. O tema do encontro foi a política dos espaços, e a ex-deputada discutiu a responsabilidade dos profissionais da área de arquitetura na construção de uma cidade mais inclusiva.
Manuela foi recebida pelo Vice-Reitor Comunitário, professor Augusto Sampaio, pelo decano do CTCH, professor Julio Diniz, e pelo diretor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, professor Otavio Leonídio Ribeiro. Ela comentou que ficou honrada com o convite para conduzir uma aula de uma área que não era dela por formação e mas destacou que isso representa um avanço na arquitetura, no urbanismo e no espaço público que, segundo ela, não podem ser imaginados sem a política.
- Esse convite representa para mim a ideia de que as cidades são ambientes políticos. E, se queremos pensar o papel da política na vida das pessoas, independente das ideias e diferenças que possamos ter, precisamos transformar a cidade em espaço de construção do chamado bem-viver, do bem-estar, da ideia de que as pessoas podem partilhar de uma vida melhor.
Manuela chamou atenção para a urgência de ressignificar a política no Brasil, um país estruturado a partir da desigualdade econômica, racial e de gênero. Para isso, é preciso que o povo brasileiro se conheça melhor, acrescentou. De acordo com a jornalista, um dos aspectos dessa desigualdade é a distância entre a população e a academia, que ela chamou de historicamente elitista.
- Acho que a academia precisa saber que é muito pouco vinculada ao povo brasileiro. Nossas universidades são muito novas e sempre foram muito fechadas. Sempre foram acessadas por poucos, primeiro só os homens brancos, depois só homens e mulheres brancos. O primeiro respiro de democratização veio há dez anos. Qual é o impacto disso na produção do conhecimento? Tudo isso é fruto de um processo histórico que a gente precisa reconhecer para poder se entranhar.
Para Manuela, a forma como a política e a universidade brasileira foram construídas está intimamente ligada ao modo como as cidades foram pensadas. E ela chamou atenção para a urgência em relação a esse debate, porque as cidades se transformaram em um território de morte.
- Vocês vivem no exemplo mais acabado do nosso país, que é o Rio de Janeiro. A necropolítica não é mais um conceito abstrato. A morte é a morte, e todo mundo sabe que não são todos que morrem igual. Essa ressignificação para mim passa também pela ideia da política da vida, porque a falta de democracia é a política da morte, dos espaços de quem morre e de quem vive. A desigualdade constrói o direito de viver e de morrer, e o território sacramenta esse direito.
Para ela, é necessário compreender que a emancipação das pessoas ocorre com base em três elementos: a terra, o trabalho e o teto. A desigualdade do ter ou não ter se torna também a desigualdade dos corpos, do direito de ser ou não ser, em territórios onde há disputa de poder, observou. Manuela acrescentou que, se as cidades são espaços políticos, é preciso saber para quem queremos construir essas políticas.
- Nunca ouvi um relato de algum homem que tem pânico de orelhão como eu tenho, por exemplo, porque eles não suscetíveis à violência sexual como as mulheres. Os obstáculos das grandes cidades têm impactos diferentes em corpos diferentes. É preciso que a política leve isso em consideração.
Manuela considera que os arquitetos têm uma responsabilidade porque, na opinião da jornalista, tudo que é realizado pela humanidade está relacionado ao trabalho deles. Ela observou que tudo o que é desenvolvido em outras áreas do saber sofre o impacto dos projetos elaborados pelos arquitetos para as cidades. Ela ainda comentou que o Brasil deve procurar soluções próprias para as questões que enfrenta e que a mudança está nas mãos da próxima geração.
- Existem muitas respostas no nosso povo e eu tenho esperança que elas serão dadas pela geração de vocês. Se existe algo de muito bom em todos os horrores que estamos vivendo é a existência de uma geração de homens e mulheres jovens, recém entrados na universidade, e que agarraram a oportunidade de uma universidade mais democrática, e que não permitirá que a barbárie vença. Os nossos territórios, as nossas cidades e, portanto, a nossa política estão na mão dos jovens.