Inovação para a sociedade
19/12/2019 21:40
Ana Carolina Moraes e Juan Pablo Rey

Diretor do Instituto Tecgraf/PUC-Rio, Marcelo Gattass, é homenageado com prêmio da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis

Marcelo Gattass é professor titular da PUC-Rio desde 1992. Foto: Amanda Dutra

O diretor do Instituto Tecgraf/PUC-Rio, professor Marcelo Gattass, titular do Departamento de Informática, recebeu a homenagem de Personalidade Inovação do Ano 2019. A cerimônia do Prêmio ANP de Inovação Tecnológica 2019 ocorreu no dia 28 de novembro, no Rio de Janeiro. O engenheiro foi escolhido “pela contribuição à pesquisa, ao desenvolvimento tecnológico e à inovação no setor energético brasileiro”, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. O professor conta que o prêmio é uma celebração do trabalho em conjunto realizado pelo Tecgraf e planeja internacionalização do Instituto.

 O que significou, para o senhor, receber este prêmio?

Marcelo Gattass - Para mim, foi uma felicidade bastante grande porque o primeiro trabalho que eu escrevi no setor de petróleo foi em 1978. Eu tenho 40 anos nessa área. Acho que foi um reconhecimento importante também para o Instituto Tecgraf da PUC-Rio, que foi criado por volta de 1985, e reúne mais de 400 profissionais nos projetos. No Rio de Janeiro, a área com maior atividade econômica é a do petróleo. O Instituto tem um reconhecimento importante no setor. O meu caminho foi longo, mas prazeroso e com muito apoio da Universidade e dos colegas. Mas ainda é um caminho incompleto. A gente tem muitos sonhos pela frente. Eu quero transformar a Gávea em um polo de conhecimento. Há a ideia do Vale da Gávea, inspirada no Vale do Silício, em que a PUC-Rio realizaria uma transformação no bairro como um lugar de desenvolvimento humano e científico.

Quais são os principais desafios da Universidade nesta área de pesquisa?

Marcelo Gattass - A velocidade. O que diferencia alguém como Bill Gates ou Zuckerberg é que eles se envolveram mais rápido do que os outros com a inovação. Eu acredito que precisamos ligar mais a Universidade com a sociedade. Os alunos já chegam aqui com uma vontade de desenvolver projetos que causem impacto na vida das pessoas. Acho importante dizer que muitos se enganam e acham que mudanças dispensam boa formação científica. Isso não é verdade. Todos os empreendedores bem-sucedidos eram brilhantes na forma de trabalhar, mas antes estavam em locais de muito conhecimento, em excelentes universidades americanas. Lá, aprenderam bastante e souberam transferir esse conhecimento para a sociedade. No processo de aprendizado, é fundamental que o aluno entenda a relevância do objeto de estudo, antes de aprender a teoria. E melhor ainda fazer isso em interação com a sociedade. Esse conhecimento é que torna a PUC-Rio diferente. Não são só os prédios ou as árvores que compõem esse diferencial. Entrei na PUC-Rio como professor em 1975, e há mais de 40 anos, acompanho a instituição. Minha ligação com a Universidade é muito forte, faz parte do meu projeto de vida, e entender a nova geração é um desafio constante e, confesso, às vezes, difícil.

Como o senhor se mantém atualizado com tantos anos no mercado?

Marcelo Gattass - Com o apoio da Universidade. Meus cursos nunca se repetem. É difícil e, ao mesmo tempo, uma oportunidade. Para isso, é preciso aprender coisas novas o tempo todo, ver o que mudou e como mudou. Para quem trabalha com tecnologia, é inaceitável dar uma aula de programação com uma linguagem que os alunos não usam mais. Tenho que estar sempre com as últimas novidades na manga. Além disso, tenho ajuda dos próprios alunos, é uma troca. O ambiente me mantém atualizado.

Como surgiu o interesse pessoal pelo setor energético?

Marcelo Gattass - Na realidade, meu interesse sempre foi aproximar a pesquisa da sociedade. Honestamente, o setor energético não foi uma escolha. Na época, eu trabalhava na Engenharia, não na Informática. Procurei várias empresas da mesma área e percebi que elas não viam a Universidade como uma possível parceira. A primeira empresa a ter essa visão foi a Petrobras. Ela me deu uma oportunidade, em 1985, que foi a semente de tudo. Hoje, temos relações ótimas com muitas empresas, mas a Petrobras foi a responsável pelo primeiro impacto e, por isso, ficamos muito ligados ao setor de petróleo. Uma vez, em um jantar com o reitor da Universidade de Cambridge, fui questionado sobre a minha área de atuação e respondi que, se um pesquisador virar as costas para o seu povo, ele não vai fazer absolutamente nada de bom para a humanidade.

A homenagem ocorreu durante o Prêmio ANP de Inovação Tecnológica 2019. Foto: Amanda Dutra

Como as pesquisas do Tecgraf podem colaborar com o setor na busca de alternativas energéticas?

Marcelo Gattass - É preciso perceber os anseios da sociedade de sair do combustível fóssil para uma energia limpa, mas a situação real é que ainda dependemos muito dos recursos do petróleo. Se acharmos uma alternativa para as empresas de energia produzirem sem combustível fóssil, ótimo, vamos trabalhar nessa direção. Mas temos que pesquisar primeiro, para depois propor uma alternativa. Eu citaria muitas situações em que os projetos que realizamos com a Petrobras e várias outras empresas tornou o trabalho mais seguro e impediu perdas de vidas ou desastres ambientais. Hoje, trabalhamos com o sequestro de carbono para que a produção não tenha tanto impacto no meio ambiente. Essa medida não vem do nada, e sim de uma busca árdua por soluções. As empresas têm que ser responsáveis, e a Petrobras é muito. A PUC-Rio tem um compromisso com o meio ambiente muito forte. Queremos atuar com as empresas para achar uma solução mais sustentável. Por isso, o Instituto vai continuar trabalhando forte com o setor de petróleo e gás, e claro, toda vez que houver uma oportunidade, vamos nos dedicar com entusiasmo na busca de outras fontes de energia para a sociedade.

Dos trabalhos desenvolvidos na área, há algum de destaque?

Marcelo Gattass - Eu sempre lembro dos últimos. Estamos trabalhando com o desenvolvimento de uma tecnologia para a Eneva, empresa do setor de gás e produção de energia elétrica do norte do país. Desenvolvemos algoritmos de inteligência computacional para auxiliar na busca do gás e, com isso, melhoramos a capacidade de trabalho deles. Outro projeto do Tecgraf foi a criação de um sistema utilizado em todas as plataformas de petróleo. Ele é o responsável pela estabilidade estrutural. Depois que essa tecnologia foi instalada, nunca mais uma plataforma virou. Quem trabalha na prevenção não é notado. O dia em que isso ocorre é porque o serviço falhou.

 O que significa para PUC-Rio ter essa longa parceria com a Petrobras?

Marcelo Gattass - A Petrobras plantou uma semente que tem condições de se desenvolver sozinha, o que não ocorre muito em outras universidades que têm parcerias. Um dos pontos que posso destacar foi a construção do prédio do Tecgraf, que resultou em uma grande transformação no campus da PUC-Rio. A Universidade passa por mudanças e busca novas formas de financiamento por meio de contratos. A Petrobras foi a primeira a acreditar nisso. Hoje, já temos outras empresas de petróleo com uma participação grande, como a Shell. Por outro lado, a PUC-Rio ajudou a Petrobras em vários dos seus desafios. É uma relação muito positiva.

Quais são os planos para os próximos anos no Tecgraf?

Marcelo Gattass - Temos que criar uma sustentabilidade maior. Para isso, queremos abrir laços de cooperação com a Europa, China, Estados Unidos e Canadá. Temos que buscar parceiros internacionais para o nosso tipo de trabalho porque a sustentação financeira de uma ideia depende de uma presença global hoje em dia. Desde que foi criado, há 33 anos, o Instituto Tecgraf é autossustentável na PUC-Rio. Sabemos que as áreas técnicas e científicas têm mais oportunidades de produzir resultados que tragam recursos para a Universidade. Agora, temos que buscar mais parcerias internacionais e não depender das políticas do Brasil, que mudam o tempo todo. A preocupação é com a perenidade do Instituto.

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