Memória, legado, amizade e educação foram as principais marcas presentes na inauguração da Coleção Konder na Biblioteca Central da PUC-Rio na tarde de 29 de junho. A incorporação de mais de cinco mil volumes da coletânea pessoal de Leandro Konder, filósofo marxista que foi professor do Departamento de Educação e morreu em 2014, foi celebrada entre familiares, professores e amigos de um docente que deixou profundas lembranças na Universidade.
As falas do Reitor da PUC-Rio, Padre Anderson Antonio Pedroso, S.J., da Professora Emérita Margarida de Souza Neves, do Departamento de História, e da diretora da Divisão de Bibliotecas e Documentação, Ana Ribeiro, conduziram a cerimônia. Com bastante emoção, os três ressaltaram o vínculo entre Konder e a PUC-Rio.
Na abertura, o Reitor reforçou a importância da biblioteca como local que torna o pensamento cada vez mais público, de encontro de saberes e de confraternização intelectual. É por meio dela que Konder, segundo Padre Anderson, vai poder fazer ser lembrado por aqueles que o conheceram e apresentado aos que não puderam ter contato com o filósofo. A coleção, nesse sentido, será também uma forma de conhecimento do pensamento do professor com profundidade.
Em seguida, Ana Ribeiro compartilhou que o desejo de Leandro Konder de ter a biblioteca pessoal incorporada à bibliografia da PUC-Rio foi manifestado ainda em vida. A diretora ainda revelou que os livros do filósofo contém mais de 1.200 anotações e dedicatórias recebidas das mais diversas naturezas. A coleção é, para Ana Ribeiro, caminho para conhecer a vida de Leandro Konder e os pensamentos que inspiraram o conhecimento dele e produção intelectual. Apesar da ênfase ser em filosofia, ciência política e sociologia, o acervo conta também com literatura, crônicas e poesias.
- Uma seleção de obras cuidadosa que reflete uma vida de estudos e produção autoral de um brilhante intelectual que tivemos a honra de ter como docente em nossa Universidade. O professor Konder ingressou no Departamento de Educação em 1985 e atuou como professor durante muitos anos, se dedicou à formação de novos acadêmicos, orientou inúmeros pesquisadores e influenciou uma geração de estudiosos. Por esse viés, desejava que a biblioteca da PUC-Rio, local que muito frequentou, acolhesse sua coleção.
Responsável pela mediação da vinda da coleção para a DBD e amiga pessoal de Leandro Konder, a professora Margarida de Souza Neves prestou homenagem intelectual e afetuosa a ele. Para ela, foi impossível não lembrar das vezes que viu o docente subir as escadas da Biblioteca Central para trabalhar ao longo dos anos. Ao agradecer à família Konder pela colaboração durante o processo de incorporação do acervo, Margarida contou como Leandro Konder era querido dentro e fora da comunidade acadêmica, e fez questão de comentar que a inauguração também se estendia às pessoas que fizeram parte da vida e da obra de Leandro Konder.
Nem os anos de pandemia e a lenta burocracia do processo de disponibilização do acervo impediram que ele, enfim, pudesse ser anexado. Esta finalização representa, para Margarida Neves, algo muito significativo, pois o único lugar em que Leandro Konder se sentiu plenamente feliz foi o ambiente acadêmico. Foi este ambiente que Konder entendeu como lugar de liberdade e, por isto, existe um compromisso sério em manter o acervo à disposição na Biblioteca Central.
- Leandro anotava muito, é possível identificar perfeitamente a época em que leu cada livro, e às vezes as diferentes épocas em que o mesmo livro foi lido, pelas anotações. Você acaba percebendo pelas canetas que vão variando, em algumas épocas são azuis e, em outras, vermelhas. Daí é possível mapear e fazer uma cronologia das suas leituras. A BIC preta, em particular, acabou fazendo parte da identidade dele - compartilhou a professora.
A família de Konder também esteve presente na solenidade e mostrou emoção com a homenagem. Viúva do professor, Cristina Konder disse que o desejo do marido de doar os próprios livros estava alinhado com uma vida baseada em generosidade com o saber, disposição para compartilhar conhecimento com os alunos.
- Quando ele chegava em casa e tinha dado uma boa aula, a satisfação dele ao comentar sobre isso aparecia quando seus olhos brilhavam. Ele era uma pessoa muito acessível, era fácil de entender, mas também não fazia concessões, e seus alunos que queriam ser participativos tinham que estudar para acompanhá-lo. E o acompanhavam muito.