A Rede Jesuíta de Educação Básica reuniu no Pilotis Kennedy da PUC-Rio e no Colégio Santo Inácio - RJ, representantes de 17 unidades de educação básica da Rede, educadores, famílias e estudantes para o II Congresso RJE | VII Congresso Inaciano de Educação, com o tema “Tradição em Inovar”. O encontro envolveu conferências, mesas-redondas e oficinas, além de exposição de pôsteres contendo artigos dos alunos do ensino médio das escolas da Rede.
Nesse sentido, o secretário-executivo da RJE e coordenador geral do Congresso, Pedro Risaffi, complementou:
- É um encontro que reúne pessoas de todas as unidades, entre professores e estudantes, para discutir sobre a nossa tradição educativa e os avanços feitos nos últimos 10 anos de Rede, apontando para futuros de inovação.
O Congresso contou com transmissão gratuita e simultânea pela internet. Na abertura, o diretor da RJE, Fernando Guidini, destacou a importância de ressignificar a educação jesuíta. Os três principais objetivos levantados para a discussão foram: definir o centro da ação inovadora; compreender e evidenciar os sinais da inovação implementada nos colégios da Rede; e pensar caminhos para o avanço da pedagogia inaciana.
- Os desafios que se colocam nessa perspectiva são, juntamente, trabalhar com o corpo de professores e com as lideranças jesuítas o significado do que é tradição, e fazer com que eles compreendam que na identidade inaciana repousa a necessidade de abrir-se à nova realidade, olhando as tecnologias, os espaços, o currículo, a forma de aprendizado das novas gerações, o país, para que assim seja possível propor coisas novas.
O principal assunto das palestras desenvolvidas foi a inovação no contexto educativo, pelo fato de se aproximar da tradição jesuítica, que não é estática no tempo, mas atenta a responder aos desafios da sociedade contemporânea. Na conferência de abertura intitulada “A tradição espiritual e pedagógica inaciana propulsora de inovações educacionais”, o secretário mundial para a Educação Básica da Companhia de Jesus, Pe. José Alberto Mesa, S.J., salientou que a inovação é parte da fidelidade jesuítica com a educação da juventude e que esta representa a renovação do mundo.
- Temos que inovar para sermos fiéis à nossa tradição e missão. Gosto muito da imagem de Santo Inácio de Loyola caminhando, porque é um convite à educação da Companhia de Jesus para que caminhemos também. Assim como o mundo não para, a educação da Companhia não pode ser interrompida.
Em sua palestra, o Pe. Mesa apontou como propostas de inovação educacional: a educação integral; criação de laboratórios de inovação didática para surgimento de novos métodos ou modos informativos; trabalho em rede global para solução dos problemas do mundo; fidelidade criativa e pacto educativo global, em consonância com as diretrizes da UNESCO.
- A tradição jesuíta é justamente não se acomodar, mas sim descobrir, redefinir e alcançar. Ter santa audácia. As fronteiras e os limites não são obstáculos ou términos; devemos trabalhar em rede para nosso fortalecimento e busca da excelência.
Na segunda conferência “Inovação na educação contemporânea em vista de um futuro cheio de esperança”, palestraram o educador espanhol, membro do Conselho Consultivo da Fundação Tomillo e autor da obra “Por que educamos?”, David Martín Díaz, bem como o educador filipino, decano do Gokongwei Brothers School of Education and Learning Design e autor da obra “Aprender por Refração”, Pe. Johnny Go, S.J., com mediação da Professora e Assessora pedagógica da RJE, Ana Loureiro.
Díaz, que tem vasta experiência profissional com a juventude, destacou que educar pressupõe um propósito, uma reflexão permanente no campo da ética, sendo necessária a análise das práticas educativas para que sejam eficientes e treinem o aluno para a transformação do mundo. Além disso, afirmou que a cultura do esforço presente na busca pela excelência humana precisa ser melhor avaliada para que a educação, de fato, forme agentes de mudança.
- A educação precisa ser ética, nos obrigando a buscar a versão mais humana de nós mesmos. Educamos na excelência educativa e na humana também, e isso é o que diferencia a tradição pedagógica inaciana sobre o porquê educar. A educação tem o compromisso de trabalhar para minimizar os problemas e aumentar os solucionadores, pessoas capazes de consertar o que não funciona.
O Pe. Johnny enfatizou que aprender requer refração, sendo primordial o aluno explorar e experimentar diferentes formas de compreender uma ideia. Disse ainda que a autêntica aprendizagem pressupõe que o aluno mude o conteúdo recebido, o desdobre e o torne seu, reforçando os principais ingredientes da pedagogia inaciana: experiência, reflexão e ação.
- Os alunos não podem ser apenas papagaios do que aprendem com os professores e os livros didáticos. Eles precisam trabalhar com o conteúdo, desembrulhar as ideias e fazê-las suas. O aprendizado deve envolver tentativa e erro juntamente com o feedback dos professores, para assim os alunos ajustarem seu desempenho a partir das falhas.
Ana Loureiro, por sua vez, salientou a importância de colocar a pessoa do aluno no centro do processo educativo, considerando as suas expectativas e a realidade na qual está inserido. A ideia é que ele viva a experiência da melhor forma possível e seja capaz de transformar o mundo, não sendo aquele estudante que apenas recebe a transformação, mas que também transforma.
- Esperamos que todas as discussões, palestras, conferências, oficinas que estão sendo realizadas nesse Congresso impactem positivamente as equipes educativas no sentido da inovação. O fundamental para todo educador, seja da educação básica ou da universidade, é estar aberto a todas as inovações, antenado aos sinais dos tempos, ao aluno não abstratamente considerado, mas sim concreto, real, brasileiro, tendo em vista as suas expectativas, a sua realidade e os seus anseios. Que antes da figura do professor e da importância do próprio conhecimento, se leve em conta a realidade dos alunos. O objetivo principal é atualizar a educação, formando cidadãos que transformem o mundo em algo melhor.
Ana Loureiro acrescentou que a proposta do Congresso é refletir a tradição da educação jesuíta, revisitando-a, ampliando-a e incorporando-a nos currículos educacionais contemporâneos, pois isso leva à inovação pedagógica.
- A tradição tem uma importância muito grande. Falar da tradição não é falar de algo conservador ou fixado no passado, mas sim de uma potência que leva à inovação. É um terreno fértil inspirador e impulsionador da inovação.
No segundo dia do Congresso, ocorreu o Encontro “Provocações Estudantis”, no qual alunos da Rede fizeram apresentações, ao estilo Ted Talks, para compartilhar suas percepções sobre a relação entre tradição e inovação no ensino. Os jovens foram acompanhados pela professora e assessora pedagógica do Colégio Santo Inácio, Luciana Aché, que realçou a importância de dar voz aos estudantes e colocá-los em evidência.
- Em vez de o professor estar sempre em destaque, nós colocamos o aluno nesse lugar. A partir disso, podemos ver o fruto do nosso trabalho e entender por que, para que e por quem a gente faz o que faz todos os dias.
A aluna do Colégio Santo Inácio, Laura Baptista, foi uma das palestrantes do encontro, tratando sobre a importância da educação integral frente à mercantilização do ensino. Além do mais, considerou sua vivência com a RJE essencial para incorporar a visão de uma formação que valorize a individualidade dos estudantes.
- A educação carece de uma perspectiva atenta à pessoalidade de cada um. Assim, a minha palestra trouxe o ponto de vista dos alunos em um sentido mais amplo, não somente em relação a notas e capacidade acadêmica, mas também sobre outros âmbitos que englobam uma formação integral, cidadã e humana.
O II Congresso RJE | VII Congresso Inaciano de Educação buscou exaltar a tradição inaciana em questionar e inovar continuamente, sendo uma oportunidade para debater as melhores pedagogias, currículos e estratégias para a proposta jesuítica de ensino.