9o ELAEE: Dependência energética
16/08/2024 15:43
Eduarda Farias

Transição energética precisa ser progressiva e cautelosa, afirma Zylberstajn

Profissionais do setor de energia debatem transição energética no 9° ELAEE. Foto: Caio Matheus

Em meio ao investimento crescente em fontes renováveis, o petróleo e o gás ainda são necessários pelas próximas décadas. Assim projetaram especialistas reunidos no 9° Encontro Latino-Americano de Economia da Energia (ELAEE), entre 28 e 30 de julho, na PUC-Rio. Profissionais do setor enfatizaram, ao longo do painel “Prospecções para Petróleo e Gás: novas fronteiras na América Latina”, que os dois combustíveis integram a transição energética.

Mediador do debate, o professor do Instituto de Energia da PUC-Rio David Zylberstajn ponderou que “é impossível a mudança repentina de fontes de energia pelo mundo”. Embora reconheça a importância de uma transição rápida, o ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP) observa que o processo deve ser progressivo e cauteloso, e dar prioridade à “distribuição ideal” de energia para a população.

— A população global vai aumentar em dois bilhões de pessoas até 2050. A situação no mundo é grave devido às mudanças climáticas e às dificuldades no processo de transição para um mundo descarbonizado. Este é o grande desafio. Fala-se muito da produção e da oferta de petróleo e gás, só que do outro lado a demanda tem de mudar. As pessoas precisam se habituar a um modelo de desenvolvimento e de consumo de energia com menos emissão de carbono.

Alberto Ferrin ressaltou o destaque dos países latino-americanos nos próximos anos. Foto: Caio Matheus

O desafio envolve a conciliação entre a necessidade de matrizes energéticas limpas e as extensas demandas socioeconômicas. O presidente da ExxonMobil Brasil, Alberto Ferrin, observou que o crescimento da população mundial, o desenvolvimento das cidades e as taxas de consumo nos próximos anos vão exigir ainda “muita energia”, o que significa recorrer ao petróleo e ao gás. A América Latina, acrescentou ele, revela-se protagonista nesse cenário, com regiões ainda não exploradas que precisam de investimento:

— É preciso ir atrás de investimentos agora, para ver o resultado nos próximos anos. Precisamos da estabilidade e da segurança energética que o petróleo e o gás trazem durante a transição. Eles vão continuar importantes na maior parte do processo — assegurou o executivo.

A Exxon é uma das maiores empresas de petróleo e gás do mundo. Ela domina a exploração e a produção petroleira na Guiana e no norte da América do Sul. Ferrin estima que já foram descobertos, desde 2015, mais de 11 bilhões de barris de óleo equivalente (boe, unidade de medida que converte volume de gás natural em volume de óleo). Correspondem a um recorde global de descobertas offshore (fora da costa) no período.

O presidente da multinacional ressaltou que projetos como o da Guiana demandam anos de pesquisa, planejamento, adaptação e análise de dados; “e demoram para apresentar resultados”. Por isso, o investimento no petróleo e no gás segue representativo nas próximas décadas, reforçou Ferrin.

Estudantes e profissionais de todo o continente estiveram no Auditório do RDC da PUC-Rio para o painel. Foto: Caio Matheus

A Margem Equatorial, no litoral do Rio Grande do Norte, destaca-se como uma das últimas fronteiras petrolíferas ainda não exploradas no país. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) estima que o volume de petróleo e gás na Margem Equatorial beira os 30 bilhões de barris – valor equivalente ao explorado no Campo de Búzios, no Rio de Janeiro. Na avaliação da diretora-executiva de Gás Natural do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás, Sylvie D’apote, o lugar é essencial para suprir a demanda energética durante a transição, mesmo com o aumento nas demandas por energia limpa e as pressões pelo fim da exploração de fontes não renováveis.

—  Existe interesse de várias empresas em explorar a área, mas também há oposição. A primeira é ideológica: se estamos querendo transicionar, por que explorar novas áreas? Outro aspecto diz respeito ao fato de ser uma área sensível. Acredito que a exploração pode trazer benefícios para a população local, que é muito pobre. Se você pensar que um dos principais motivos para o desmatamento é a pobreza, o investimento nesta área combateria a pobreza e o desmatamento.

Além da Guiana e do Brasil, a Argentina também é considerada, por especialistas do setor, uma opção promissora na chamada indústria de baixo custo. O sócio-diretor da Gas Energy Latin America, Álvaro Ríos, destacou, em especial, a região da Vaca Muerta, um megacampo de gás natural no norte da Patagônia Argentina. O executivo ponderou, contudo, que o desenvolvimento de projetos para produção e estocagem de gás ainda requer investimento, principalmente diante da crise econômica instalada no país. Rios também apontou a necessidade da Argentina em estruturar a exploração do gás, com a reversão de gasodutos já existentes e a construção de novos.

O 9° Encontro Latino-Americano de Economia da Energia (ELAEE) mostra dependência energética de petróleo e gás. Foto: Caio Matheus

Organizado pelas associações latino-americana, internacional e brasileira de Economia da Energia, o 9o ELAEE promoveu discussões em torno do tema “Transição Energética, Mercados de Energia Latino-americanos e Trajetórias de Desenvolvimento: Descarbonizando a Economia Mundial”. Zylberstajn realçou a contribuição da Universidade para debater e superar os desafios energéticos:

— Aqui na PUC-Rio, no Instituto de Energia, você é um agente de entendimento, de formação de pessoas capazes de trabalhar nesse processo, de informar a sociedade com artigos e pesquisas e procurar sempre melhorar a forma como se consome energia. Porque consumir energia é da vida, né? Você nasce e passa a consumir energia. Cada pessoa que nasce é um predador natural.

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