DESPOLUIÇÃO DA LAGOA EM FOCO PARA O G20
30/08/2024 10:00
Gabriela Oliveira e Thaís Helena Andrade

Soluções debatidas potencializam regeneração ambiental do corpo d’água

Conferência A Lagoa Rodrigo de Freitas no G20. (Foto: Matheus Santos)

A PUC-Rio sediou conferência sobre a despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas no G20, reunindo professores da casa e profissionais atuantes na área ambiental para discussão sobre os desafios e as soluções para a recuperação do corpo d’água em destaque. O tema faz parte da agenda de discussão do G20, principal fórum de cooperação econômica internacional que reúne os chefes de Estado ou de Governo das 20 maiores economias do mundo, e que será presidido pelo Brasil em 2024.

Por iniciativa do Comitê de Bacia da Região Hidrográfica da Baía de Guanabara e dos Sistemas Lagunares de Maricá e Jacarepaguá (CBH Baía de Guanabara), em parceria com o Comitê Cristo G20, do Santuário Arquidiocesano Cristo Redentor, o encontro foi realizado no Espaço Franciso - Casa de Inovação da PUC-Rio, e celebrou a “Década do Oceano” - proposta criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para implementar acordo comum para a Agenda 2030. Palestras apresentaram o estado atual da Lagoa Rodrigo de Freitas e as soluções pensadas para o enfrentamento de problemas históricos e para a melhoria das águas do local.

Palestraram pela PUC-Rio o Reitor Pe. Anderson Antonio Pedroso, S.J., os Professores do Departamento de Engenharia Civil e Meio Ambiente, Ana Cristina Malheiros e Antônio Krishnamurti Beleño de Oliveira, bem como o Diretor do Departamento de Química, Prof. Renato Carreira.

A Profª do Departamento de Engenharia Civil e Meio Ambiente, Ana Cristina Malheiros, explicou o contexto histórico de ocupação da bacia hidrográfica da Lagoa Rodrigo de Freitas, focando na formação do ‘Vale da Gávea’, no risco hidrológico da região e nos fatores que provocam as inundações. Nesse ponto, Ana mencionou o projeto ‘Gávea do Rio’, elaborado pela PUC-Rio, que busca conectar ciência, cultura e políticas públicas para transformação socioambiental e econômica do bairro, se interligando com a Lagoa.

Com o tema “O Plástico nosso de cada dia”, o Prof. Renato Carreira abordou o ciclo de vida do plástico na natureza, a partir da produção de grande quantidade de resíduos que acabam virando microplástico e chegando aos oceanos. Nesse ponto, destacou a participação da PUC-Rio em pesquisa desenvolvida para análise da presença de microplásticos no entorno das Ilhas Cagarras, bem como outros trabalhos desenvolvidos no Departamento de Química:

- Uma questão importantíssima na questão do plástico é o ciclo de vida do material. Boa parte do que a gente produz e consome é material de ciclo de vida muito curto, o que gera grande quantidade de resíduos que acaba depois virando o microplástico que vai chegar nos oceanos. A gente terminou agora uma pesquisa no Mona Cagarras, tendo sido feita uma análise de microplásticos no entorno da Ilha. Tem alguns trabalhos que têm saído sobre isso. A ideia é chamar atenção para esse material, pois o microplástico hoje é visto como um poluente persistente, pois fica muito tempo no meio.

Prof. Renato Carreira. (Foto: Matheus Santos)

A representante da Associação Brasileira de Combate ao Lixo do Mar (ABLM),  Marlise Araújo, complementou o assunto ao mencionar o impacto dos microplásticos não só nos ecossistemas, mas na saúde humana. A profissional afirmou que os microplásticos estão penetrando nas células humanas e podem liberar produtos químicos no corpo, causando inflamações e o acúmulo de partículas em órgãos internos, como o fígado e os rins. A consequência desse acúmulo vai desde reações alérgicas até queda de fertilidade. 

Quando se fala nos desafios do manejo da Lagoa Rodrigo de Freitas, é indispensável destacar que as inundações provocadas pelas fortes chuvas afetam, sim, a vida dos moradores da região. Em sua palestra, o Prof. Assistente do Departamento de Engenharia Civil e Meio Ambiente da PUC-Rio, Antônio Krishnamurti, abordou o tema e apresentou os modelos hidrodinâmicos como ferramenta capaz de diagnosticar mais precisamente as áreas que vão acumular mais água e fornecer soluções para prevenir as cheias. 

– O modelo permite analisar a situação atual das chuvas e seu impacto na cidade, considerando tanto a hidrologia quanto a dinâmica das chuvas. Ele ajuda a comparar cenários atuais com futuros e a preparar alternativas para enfrentar a intensificação de problemas climáticos, como o aumento das chuvas e do nível do mar, especialmente na bacia hidrográfica da Lagoa Rodrigo de Freitas.

Ana Cristina Malheiros, Suema Branco, Adriana Bocaiúva, Antonio Krishnamurti de crachá a direita e demais participantes do seminário . (Foto: Matheus Santos)

No painel voltado à apresentação de soluções para o melhor manejo da Lagoa Rodrigo de Freitas, a bióloga, representante do  Conselho Regional de Biologia 2º Região RJ/ES (CRBio-02) e Coordenadora do Subcomitê do Sistema Lagunar da Lagoa Rodrigo de Freitas, Suema Branco, afirmou a importância das plantas aquáticas Ruppia marítima para o espelho d’água, acrescentando que, apesar dos desafios envolvendo a biomassa excedente, ela se mantém como um fator crucial para a despoluição. A própria bióloga desenvolve um projeto que visa a pesquisa sobre os benefícios da planta. 

Em sua participação, o diretor institucional da Concessionária Águas do Rio, Sinval de Andrade, expôs algumas ações práticas que a empresa vem implementando para despoluir e desobstruir as principais galerias de água sob sua responsabilidade, dentre as quais a Lagoa Rodrigo de Freitas.

- A Águas do Rio está completando três anos do processo de concessão e a primeira medida tomada foi fazer um convênio/parceria com o biólogo Mário Moscatelli para recuperação do manguezal no entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas. Isso já teve resultados marcantes, como a volta da biodiversidade: vários animais da fauna que não estavam mais presentes no local, voltaram. Além disso, foram tomadas medidas de engenharia aparentemente simples, mas que deram um efeito muito grande na qualidade da água. Foram recuperadas 13 estações elevatórias no entorno da Lagoa que a protegem do despejo de esgoto, bem como recuperou-se os quadros elétricos e desobstruiu-se galerias do perímetro. O primeiro resultado foi que rapidamente estancou-se o lançamento de esgoto e a Lagoa voltou rapidamente a ter uma água mais límpida, o que nos deixa muito feliz.

Diretor institucional da Águas do Rio, Sinval de Andrade. (Foto: Matheus Santos)

Apesar dos resultados obtidos, Sinval de Andrade ressalta que o trabalho é conjunto, dependendo da integração não somente com os órgãos ambientais da Administração Pública ou com entidades atuantes no meio ambiente, mas também com a população local. Isto é o que diferencia o trabalho realizado, possibilitando a obtenção de soluções mais eficientes para a melhoria das águas da região.

- O aspecto que eu acho muito importante nesse trabalho é a integração com outras entidades. A Lagoa Rodrigo de Freitas é cuidada pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, que opera as comportas ao redor, com a qual temos parceria. Também fizemos parceria com o Comitê de Bacias na parte de fiscalização de lançamentos irregulares, assim como com o INEA (Instituto Estadual do Meio Ambiente) e com a patrulha ambiental da Prefeitura. O melhor de tudo isso foi a parceria feita com os moradores da região:  através do programa Afluentes, temos uma rede de contato de moradores que se comunicam diretamente conosco e nos alertam ao primeiro sinal de lançamento irregular no sistema. O meio ambiente não tem herói; tem a sociedade organizada com um propósito claro e trabalhando em conjunto.

Como forma de chamar a população a participar das ações de fiscalização e monitoramento do meio ambiente, Sinval de Andrade explicou que a concessionária Águas do Rio está aberta à visitação de todos os interessados.

- Temos um centro de operações que funciona 24 horas por dia e que pode receber visitas, para que as pessoas possam conhecer o trabalho que está sendo feito. Temos um programa de educação ambiental aberto a toda a sociedade de maneira geral. É só agendar ou entrar em contato com nossas equipes que estamos à disposição.

O encontro também reuniu o Coordenador de Relações Internacionais do Comitê Cristo G20, Gilson Araujo Junior, e outras importantes lideranças atuantes no meio ambiental, tais como a Diretora-Presidente da Comitê de Bacia da Região Hidrográfica da Baía de Guanabara (CBH Baía de Guanabara), Adriana Bocaiuva; a integrante da Colônia de Pescadores de Copacabana (Z13) e membro titular do Subcomitê do Sistema Lagunar da Lagoa Rodrigo de Freitas (Mandato 2018-2020), Kátia Miranda; o diretor de operações da Plastic Bank no Brasil, Miguel Paranaguá, com atuação focada em economia regenerativa; o educador ambiental da Recicloteca da ONG Ecomarapendi, Eduardo Bernhardt, e a Vice Coordenadora do Subcomitê Jacarepaguá do CBH Baía de Guanabara e dos Sistemas Lagunares de Jacarepaguá e Maricá (Mandato 2018-2020), Vera Chevalier; bem como a professora, socióloga e ex-vereadora da cidade do Rio de Janeiro, Aspásia Camargo.

Reitor da PUC-Rio, Pe. Anderson Pedroso. (Foto: Matheus Santos)

Em sua colocação, o Reitor da PUC-Rio, Pe. Anderson Antonio Pedroso, S.J., que também participa como conselheiro em um dos grupos de engajamento do Comitê Cristo G20, destacou a criação dos Projetos Amazonizar e Gávea do Rio no âmbito da universidade, direcionados ao cuidado do meio ambiente no entorno do campus.

- O tema socioambiental nos coloca diante de algo essencial chamado pelo Papa Francisco como nossa casa comum. Uma universidade tem que ter impacto global e local de suas pesquisas, formar pessoas com visão de país, começando por onde vivemos, que é o bairro da Gávea e a Lagoa. É preciso entender as lógicas socioambientais para propor soluções. O impacto global da PUC é chamado Amazonizar, que é uma plataforma de projetos, e no impacto local, se insere a plataforma de projetos Gávea do Rio, conectando o bairro à Lagoa Rodrigo de Freitas, sendo todo um ecossistema a ser recuperado. 

Discutir na Casa de Inovação a preservação da Lagoa Rodrigo de Freitas, cartão-postal da cidade e berço de parte da biodiversidade característica do bioma Mata Atlântica, traduziu importante passo da PUC-Rio no sentido de unir-se aos esforços de despoluição em andamento em prol justamente da melhoria da qualidade de vida das próximas gerações, do desenvolvimento sustentável, da saúde e do meio ambiente, temas estes que compõem a agenda do G20.

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