CAPES na PUC-Rio: Desafios da pós-graduação
03/09/2024 08:55
Gabriela Araujo e Thaís Helena Andrade

Presidente da CAPES discute o futuro da pós-graduação na universidade

Denise Pires de Carvalho e participantes na palestra. (Foto: Matheus Santos)

O auditório do RDC da PUC-Rio foi palco de palestra sobre os avanços e desafios da pós-graduação no Brasil, ministrada pela Presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, Profª Denise Pires de Carvalho. Na ocasião, foi anunciado um novo programa de internacionalização para atrair a vinda de maior número de professores visitantes e estudantes estrangeiros de mestrado e doutorado, para realizarem estágios em instituições brasileiras, aumentando a cooperação internacional.

Como parte dos esforços empregados na melhoria da qualidade e da competitividade dos programas de pós brasileiros no cenário internacional, Denise de Carvalho destacou o aumento do investimento em programas internacionais em 2023. O cenário, no entanto, se mantém com maior número de brasileiros estudando no exterior do que estrangeiros no Brasil. Como estratégia para reverter a situação, foi anunciada a abertura do edital do programa ‘Move la America’, estabelecido como ideia de rede de cooperação temática para internacionalização e maior inclusão das discussões promovidas. 

– Hoje já não há mais necessidade de brasileiros irem ao exterior cursar doutorados plenos, a não ser em áreas muito específicas. Por isso a importância de estágios do tipo sanduíche, no qual os estudantes vão e retornam, estágios de pós-doutorado, e também a vinda de estrangeiros e professores visitantes de outros países para o Brasil. No momento estamos com edital aberto para receber pós-graduandos de toda a América Latina e Caribe, e pretendemos com o novo programa a ser lançado até o final do ano, que possamos receber pós-graduandos do mundo inteiro. Serão programas em rede, mais estratégicos e com eixos determinados a serem definidos pela comissão de trabalho. –  expõe a professora.

Presidente da CAPES na palestra. (Foto: Gabriela Araujo)

Entre o público presente estavam o Reitor da PUC-Rio, Pe. Anderson Antonio Pedroso, S.J., a Vice-Reitora Acadêmica de Ensino e Pesquisa, Marley Vellasco, o Coordenador Central de Pós-Graduação e Pesquisa, Prof. Marco Cremona, além do Decano do Centro Técnico-Científico (CTC), Prof. Sidnei Paciornik. As inscrições para o comparecimento presencial rapidamente se esgotaram, segundo Marley Vellasco, que informou a presença de pessoas assistindo de forma remota. 

A CAPES é uma fundação vinculada ao Ministério da Educação - MEC que atua na expansão e consolidação da pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) em todos os estados brasileiros. A Presidente Denise Pires fala sobre a PUC-Rio e seu desempenho na fundação:

– A PUC-Rio é um exemplo de instituição nacional que tem cursos da mais alta excelência, muitos com as notas mais altas da CAPES. Então, inicialmente, eu parabenizo a toda a comunidade da PUC-Rio por isso. O que nós pretendemos é que haja ainda mais cursos de excelência no país. Para isso a comunidade da PUC é fundamental, abrindo novos cursos em áreas novas e estratégicas, e mantendo a qualidade característica desta Universidade – pontuou Denise.

Durante o encontro, Denise de Carvalho também abordou os desafios enfrentados na estagnação da produção científica nacional, na diferença salarial existente entre a formação de nível técnico e de nível superior, e na redução de assimetrias, relacionando a produção científica com o desenvolvimento dos programas de pós-graduação no Brasil, que ocorreu de forma mais atrasada em relação a outros países da América Latina.

- Todo o sistema brasileiro é novo. A CAPES foi criada há 73 anos e o CNPQ também, e foi aí que começou o movimento de desenvolvimento da ciência brasileira, de forma tardia. As universidades são criadas apenas no início do Século XX no Brasil, o fazendo ser um dos últimos da América Latina.

Retrato da Pós-Graduação por Denise Pires de Carvalho. (Foto: Matheus Santos)

A pós-graduação stricto-sensu, que compreende Mestrado e Doutorado, foi institucionalizada no país em 1965, e atualmente conta com 425 instituições, mais quatro mil programas instalados por todos os estados e mais de 400 mil pós-graduandos no território nacional, sendo 82 mil titulados. A distribuição dos programas de pós pelas regiões, no entanto, se dá de forma assimétrica e não equitativa, segundo Denise, o que será objeto de Censo a ser lançado até o final do ano, para fins de uma atuação mais estratégica do órgão governamental.                                                                       

- Não queremos apenas aumentar a quantidade de mestres e doutores no Brasil, mas também garantir a qualidade. Daí a importância de se olhar os cursos consolidados nota 5, 6 e 7, bem como os cursos que podem vir a ser consolidados nas regiões onde há muita assimetria, tais como as Regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste. É nos cursos 6 e 7 que acontece o melhor treinamento para os nossos pós-doutores para depois poderem atuar como docentes dos cursos 3 e 4 do país. Além disso, não podemos continuar com uma pós-graduação que tem a maior parte de seus pós-graduandos mulheres, mas a maior parte de seus docentes é composta por homens. Daí será lançado até o final do ano o Censo da pós-graduação, necessário para demonstrar o retrato da pós-graduação brasileira para fins de implantação de políticas públicas. Buscamos, através do Censo, a redução de assimetrias associada a programas de equidade.

Além das medidas abordadas, a Profª Denise de Carvalho ressaltou que o financiamento da ciência, tecnologia e inovação é objeto de política pública nos últimos seis anos, sendo certo que o reajuste e aumento das bolsas dos pós-graduandos se apresenta não apenas como forma de atrair maior número de estudantes, mas como proposta de melhoria da qualificação dos profissionais formados.

- Não há professor demais no Brasil. Ainda há muitos professores da educação básica que não têm formação na área que ministra a disciplina. Apenas 3% dos professores da educação básica possuem mestrado e ainda há percentual enorme de professores na educação superior que ainda não são mestres. [...] O reajuste no atual governo foi de 40% nas bolsas de mestrado e doutorado, e 26,8% nas bolsas de pós-doutoramento. Esse reajuste espera-se que atraia mais estudantes, mas não basta ele. É preciso reajustar de novo e conceder mais bolsas.   



O Reitor Pe. Anderson Pedroso, S.J., ressaltou na sessão a necessidade de autonomia universitária e liberdade de cátedra para que a PUC continue a promover transformações sociais significativas através da pesquisa, sem se submeter a pressões de mercado.

– Temos como fundamento e tradição o pensamento social claro de impacto e transformação do país, através da pesquisa. Assim, reafirmamos o papel da PUC na transformação do país, buscando uma sociedade mais justa, igualitária. Por isso, precisamos da autonomia universitária e da liberdade de cátedra, fortalecendo uma pesquisa que não se dobre a lógicas de mercado e seja capaz de responder aos desafios fundamentais da sociedade. – pontuou o Reitor.

O Reitor da PUC-Rio faz comentários durante o encontro. (Foto: Matheus Santos)

A melhoria da qualidade da produção científica nacional auxilia na expectativa de redução da desigualdade social brasileira. Daí advém a importância do financiamento da ciência e da valorização dos profissionais já formados, pois, de acordo com Denise de Carvalho, no Brasil da atualidade, o maior promotor de mobilidade social é a educação. É nesse contexto que a PUC-Rio e demais universidades brasileiras e faculdades ganham papel de relevante destaque.

Mais Recentes
Os vários papéis da polícia no Mundo Atlântico
Encontros da História da PUC-Rio reuniram palestrantes da Itália, México e Brasil
O 'Solidarismo' e os tempos atuais
Obra de Pe. Ávila é relançada em seminário na PUC-Rio
Alunos terão desconto em moradia universitária
PUC-Rio fechou parceria com Uliving, maior rede deste tipo de serviço no país