Um aquário de reflexão no meio da Bienal Internacional do Livro. Assim definiu o cientista político Carlos Eduardo Martins o espaço de paredes envidraçadas do Café Universitário, onde foi realizada, no dia 13 de setembro, a mesa-redonda 1989-2009 – 20 anos da queda o Muro de Berlim, promovida pela Editora PUC-Rio e pelas Edições Loyola. O encontro foi a principal atração organizada pela PUC-Rio na Bienal e reuniu, além de Martins, o jornalista Álvaro Caldas, o historiador Oswaldo Munteal e o filósofo Rossano Pecoraro.
Álvaro Caldas, autor do livro Tirando o Capuz, em que relata sua experiência na militância esquerdista durante o regime militar, iniciou a discussão valendo-se de versos do poeta Carlos Drummond de Andrade. “Tínhamos apenas duas mãos e o sentimento do mundo”, recitou, acrescentando que os mesmos versos fizeram parte do discurso de Miguel Arraes quando de sua posse como governador de Pernambuco em 1962. Segundo Caldas, o verso escrito durante a Segunda Guerra Mundial ilustra bem o que significou a queda do muro para as “duas mãos” – esquerda e direita – do pensamento político-ideológico da segunda metade do século XX.
Tratando do contexto sócio-econômico que a Alemanha viveu depois da reunificação, Carlos Eduardo Martins constatou que, com a queda do Muro de Berlim, novos “muros” se levantaram, como o do atraso econômico dos países que viveram regimes socialistas, em especial a Alemanha Oriental, e o fenômeno da imigração do leste europeu para a porção ocidental do continente. Do ponto de vista geopolítico e estratégico, o muro, erguido em 1961, representou, segundo Martins, uma divisão arbitrária do mundo; consequentemente, a queda do muro não marcou o fim do ideário socialista, que tende a se renovar no século XXI. “As grandes revoluções socialistas, como a cubana, a chinesa, escaparam completamente desse muro, que foi uma questão estatal, burocrática”, explicou.
Já Oswaldo Munteal criticou a interpretação acadêmica e midiática do que significou o acontecimento. “Caiu o muro, mas não caiu a máscara”, disparou Munteal, de todos o mais enfático e incisivo. Ele se referia ao liberalismo que tomou conta do cenário político e econômico mundial depois da queda do muro. Segundo o historiador, esse “liberalismo” não passa de um engodo da política conservadora americana, selada no Consenso de Washington, encontro que definiu as diretrizes para que as nações “não-alinhadas” entrassem para o clube dos países desenvolvidos. “Houve uma tentativa de explicar a História a partir das revoluções liberais, descartando a dinâmica da contra-revolução de
Rossano Pecoraro, citando A Colônia Penal, de Franz Kafka, endossou a opinião de Munteal. “Não há um instante sequer em que o indivíduo não seja controlado”, afirmou, acrescentando que 89 “não é nem deve ser entendido como a continuação do espírito libertário de
Edição 222