Descoberto novo uso da castanha
03/06/2013 12:56
Lucas Moretsohn/Foto Divulgação

Aluna desenvolve piso e revestimento com o uso de ouriço

Matéria-prima, o ouriço da castanha-do-pará é preparado para ser transformado em placas que servem de piso

Anne Karoline Mello, recém- -formada Mestre em Design pela PUC-Rio, desenvolveu um projeto que atribui uma nova utilidade ao ouriço da castanheira-do- -brasil, também conhecida como castanheira-do-pará. Ela utilizou o fruto como matéria-prima para produzir placas que podem servir de piso e revestimento, já que o material tem alta rigidez. Ela se inspirou nas próprias origens amazonenses para fazer o trabalho que foi tema da dissertação de fim de curso da designer.

O ouriço é a parte externa da castanha. É resistente, tem a aparência de um coco e pode conter entre 12 e 22 castanhas. Para realizar o trabalho, Anne foi até a comunidade ribeirinha Uixi, no interior do Amazonas. Lá, há cerca de 200 habitantes que vivem de caça, pesca e coleta da castanha, o segundo produto mais extraído da Amazônia; atrás somente do açaí.

Após a separação das castanhas próprias para o consumo, os ouriços são descartados e não têm local específico de destino. Portanto, eles ficam acumulados próximo às casas, o que oferece risco à saúde dos moradores.

– Como o ouriço tem forma curva, se ele fica descartado em um ambiente externo, acumula água das chuvas. Essa água parada propicia a proliferação de dengue e malária, que é muito comum na região – ressalta a designer.

A partir dessa preocupação, Anne trabalhou em laboratório para dar um novo destino ao material. Ela triturou o ouriço e misturou-o com resina de mamona, um produto biodegradável brasileiro, para poder elaborar as placas de piso. Além de ser um método de produção sustentável, o projeto de Anne inclui o conceito de “tecnologia social”.

– O meu trabalho acabou se tornando uma tecnologia social uma vez que eu desenvolvi uma metodologia replicável. O material foi feito de uma forma que eu usei baixa tecnologia, e apenas um maquinário utiliza energia. O resto é feito artesanalmente. Um método simples, rápido, que posso passar a diversas pessoas, diversas comunidades – explica Anne.

De acordo com a designer, ainda é preciso realizar mais experimentos para obter resultados concretos quanto à durabilidade do produto. Aplicar a tecnologia nas comunidades ribeirinhas é um passo futuro.

Para Fernando Betim, professor do Departamento de Artes e Design da PUC-Rio e orientador de Anne, o projeto coloca os habitantes da comunidade Uixi como participantes de um processo produtivo da própria região.

– Os ribeirinhos, no trabalho da Anne, receberam uma atenção especial para o aproveitamento de um material que era descartado na atividade produtiva agrícola – observa o professor.

Edição 270

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