Famosas bolachas voltam às lojas e fazem sucesso
01/04/2014 12:05
Gabriela Mattos/Foto: Gabriela Mattos

Vendas de LPs aumentam 63% em relação a 2012, segundo a Polysom

Uma banca de jornal com 1.300 vinis e cinco exemplares de jornais por dia. Quem passa na esquina da Rua Mariz e Barros com a Campos Sales, na Tijuca, é surpreendido com o ambiente da D’Vinil Discos. Há oito meses no bairro, a banca é um reflexo do investimento do jornalista Fabio Antonio nas famosas “bolachas”, desde 2003. De acordo com registros da única fábrica de LPs da América Latina, a Polysom, a volta do interesse em vinis é um dado concreto no mercado musical. Segundo a empresa, no ano passado, houve um aumento de 63% nas vendas em relação a 2012.


Para o dono da D’Vinil Discos, Fabio Antonio, o LP tem um som melhor que o CD e o MP3, por não ser equalizado.

 – Os jovens ficam encantados com o som do vinil, não sabem o que é grave e agudo. Quando os clientes me pedem para passar o som do vinil para o CD, eu preservo a qualidade original, até os chiados – explica.

Famosos na década de 1950, os vinis surgiram para substituir os discos de goma-laca de 78 rotações e com uma dimensão de 25 centímetros. Mais resistente e flexível, o primeiro vinil foi criado pela produtora Columbia, em 1948. Além das novas características físicas, estes discos foram diferenciados pela longa duração ou long playing (LP): com 33 rotações e 30 centímetros. Antes com nove minutos, cada lado do vinil passou a comportar 20 minutos de duração musical.

Segundo o professor Paulo Cesar Araújo, do Departamento de Comunicação Social, além do início da Bossa Nova, os LPs marcaram o começo da moderna música brasileira. Com 12 faixas musicais – seis de cada lado –, o disco Chega de Saudade (Odeon), de João Gilberto, foi lançado em 1959.

– Ainda vivemos regidos por este álbum – acrescenta o professor.

O mercado de vinis também foi marcado pelas capas artísticas dos LPs, como a do Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Parlophone/ Capitol), de 1967, e Abbey Road (Apple Records), de 1969, dos Beatles, e The Dark Side of the moon (EMI Records), de 1973, do Pink Floyd. De acordo com Arthur Dapieve, colunista do jornal O Globo e professor do Departamento de Comunicação Social, as capas criavam uma identidade visual para os vinis e ajudavam a organizá-los nas prateleiras das lojas.

– Além de peças artísticas, as capas também viraram um artigo de marketing. E as de CDs não têm o mesmo efeito, pois as de vinil têm 12 polegadas. As melhores capas de CDs entendem que eles são menores, então é preciso obter um bom efeito com menos meios – explica.

Com a chegada do compact disc (CD), em 1979, e das músicas em MP3, em 1997, as vendas de vinis declinaram. Em nota divulgada pela Polysom, o consultor João Augusto afirma que o CD fez sucesso por oferecer vantagens em relação aos LPs, como a portabilidade.

– O compact disc tem a facilidade de se ouvir a faixa que se quer em um simples toque de tecla. Tudo o que o vinil não tinha – observa.

Ao contrário do que se imaginava, os vinis voltaram às prateleiras mesmo inseridos em uma era digital. Em 2013, a Polysom fabricou mais de 130 mil LPs – mais de 23 mil unidades produzidas em relação a 2012. Entre os cerca de 50 títulos nacionais fabricados pela Polysom, estão Nunca tem fim, de O Rappa, e Acabou Chorare, dos Novos Baianos. A fábrica recebe apoio de gravadoras, como a Warner, a Som Livre, a Deck e a Universal. Além do áudio, Paulo Cesar afirma que o vinil criou o conceito de álbum. O professor explica que o LP permitiu uma união entre as faixas, o que valorizava o artista e a música.

– O processo de gravação já estava se modernizando desde os anos 1940, mas o LP permitiu criar uma obra completa. O século XX é o século do álbum, do disco, e o vinil contribuiu para isso – analisa.

Colecionador de cerca de 300 vinis, o tecnólogo de processamento de dados Demétrius Medrado frequenta a D’Vinil desde a fundação da banca na Tijuca: 13 de julho do ano passado. Assim como uma obra de arte, Demétrius ressalta que o vinil está ligado ao valor sentimental de cada pessoa.

– Quanto mais raro for o álbum, maior é o valor dele – argumenta.

Edição 279

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