Uma cultura de paz num país em conflito
30/05/2014 15:22
PE. Josafá Carlos De Siqueira, S.J.

O reitor fala sobre a atualidade da sociedade brasileira que vive uma sucessão de conflitos e inquietações, onde com frequência ocorrem manifestações e greves em diferentes setores do tecido social.

Vivemos atualmente na sociedade brasileira uma sucessão de conflitos e inquietações, onde com frequência ocorrem manifestações e greves em diferentes setores do tecido social. A busca por uma melhor qualidade de vida, moradia, saúde, educação, transporte, entre outras, são externadas nas diferentes manifestações, ora pacificamente, ora em forma de vandalismo. O descrédito com algumas instituições, o aumento da consciência política da população, os sucessivos casos de corrupção e o cansaço pelas promessas não cumpridas impedem, muitas vezes, o diálogo e a busca de consenso em questões relacionadas com o exercício da pluralidade da liberdade humana.

Além desses agravantes, temos uma cultura midiática que ajuda a intensificar os conflitos, transformando os noticiários em verdadeiros espaços policialescos, em que os contravalores têm a primazia, deixando de enfatizar os inúmeros valores sociais que são vividos pessoal e comunitariamente no cotidiano da existência.

Mesmo diante desses condicionantes externos, que direta ou indiretamente têm reflexos na saúde psicológica das pessoas, não podemos abrir mão do desejo de construir uma cultura de paz. A busca incessante de consenso em coisas simples e complexas, que fazem parte da vida humana e social, é fundamental para criar-se uma cultura de paz, que não significa negar os conflitos ou abandonar os desafios, mas enfrentá-los de forma serena, madura e imbuída de um espirito de fé. Sonhar com um mundo de paz não é uma utopia, mas um desejo que emana no mais profundo de cada ser humano. Fomos criados para viver a aporia entre o conflito e a paz, sem deixar que as contradições da história nos roubem o direito de manter interior e exteriormente a paz que nasce na busca incessante da verdade. O que mais compromete uma cultura da paz é a falta de verdade das coisas que são essenciais para o ser humano. Portanto, faz-se necessário, se queremos construir uma cultura de paz, que haja compromisso com a verdade, pois esta inadequação entre a nossa consciência e a realidade é que tem gerado uma série de contradições e aberrações na vida em sociedade. A falta de compromisso com a verdade no mundo virtual, sobretudo no mau uso das redes sociais, tem provocado linchamentos, acusações e condenações, atingindo pessoas inocentes que são confundidas com outras, pagando injustamente o preço com suas vidas. Não é este o caminho de uma sociedade que busca construir uma cultura de paz.

Peçamos a Deus muita sabedoria para continuar esta árdua missão de sermos agentes construtores da paz e mediadores de consenso, sabendo que é missão de cada cidadão testemunhar os verdadeiros valores que norteiam a vida pessoal e social. Num país formado por uma brasilidade acolhedora, alegre e miscigenada, a cultura da paz é fundamental para o convívio fraterno entre as diferentes raças, cores e opiniões. Se isto é uma exigência para todos, o compromisso é maior para os cristãos, pois este imperativo é um atributo ético e moral que recebemos de Jesus Cristo, que nos confiou a missão de sermos agentes multiplicadores de uma paz diferente, onde imanência e transcendência estão profundamente imbricadas. "Felizes os que promovem a paz, porque eles serão chamados filhos de Deus" (Mt.5,9). "A paz esteja convosco" (Jo.20,19).

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