Na palestra Mística e Futebol - Entre a bola de couro e a de cristal, o antropólogo Roberto DaMatta, professor do Departamento de Ciências Sociais, comparou o goleiro a um sacerdote; a bola à hóstia; e os torcedores aos profanos. O encontro foi promovido pela Cátedra Carlo Maria Martini e pelo Departamento de Teologia, no dia 27 de maio, e contou com a mediação da professora Maria Clara Bingemer, Vice-Decana do CTCH.
Segundo DaMatta, diferente de outros esportes, o futebol é incerto, com viradas durante as partidas que se assemelham com as reviravoltas da vida, o que faz com que os torcedores apelem para o sobrenatural. Para o antropólogo, o futebol é uma atividade que apresenta semelhanças com o misticismo religioso, já que os torcedores têm fé e esperança que determinado time vença.
– Existe a questão do acidente, da imprevisibilidade, da excelência, da beleza. É um encontro entre o corpo e a alma, porque os grandes jogadores são os que inventam jogadas, que são esteticamente muito bonitas e que surgem em um momento do jogo.
DaMatta observou que a sociedade brasileira ama, admira e pratica o esporte, que foi, e ainda é, um elemento importante para a construção da identidade nacional. Cinco vezes campeão do mundo, o futebol brasileiro foi, na opinião do professor, um dos primeiros instrumentos de autoafirmação positiva e de autoestima do país.
– O Brasil é definido pelo futebol, que também ajuda a construir o nosso país, essa nossa expressão. O futebol brasileiro, hoje, é uma dimensão importante do mundial. Nós transformamos esse esporte inglês em um esporte que, hoje, é muito mais brasileiro em termos de estilo de jogar e de invenção de jogadas. O Brasil deu uma contribuição à arte futebolística, que é, certamente, única – assinalou.
De acordo com DaMatta, uma das principais diferenças entre a Copa de 1950 e a de 2014 é a forma como o país se organizou para receber o evento. Com os transtornos causados pelas obras, o trânsito e os riscos de manifestações, muitas pessoas podem optar por assistir aos jogos pela TV, como se o campeonato não fosse no Brasil.
O antropólogo abordou assuntos como o movimento Não vai ter Copa e se mostrou a favor da realização do evento no país.
– O futebol é ritual, é arte. Você pode fazer um movimento e dizer: Não queremos museus. Você vai proibir um país de construir museus, em vez de escolas? Não é uma questão de um ou outro. Tem que fazer os dois. A reclamação é exatamente a dissonância que você tem hoje. Hospitais vergonhosos, escolas primárias vergonhosas e esses estádios, do ponto de vista de projeção, suntuosos e o preço deles aumenta – concluiu.