O dia de reflexões sobre o educador teve início com a professora da Universidade Elisa Siqueira e o professor da UFF Osmar Fávero, que debateram sobre as fichas de cultura do sistema de alfabetização.
Na parte da tarde, a professora Maria Inês Marcondes discutiu sobre o contexto Latino-Americano e nos Estados Unidos e o reconhecimento internacional do autor. Para compor a mesa-redonda, as professoras da Universidade do Estado do Pará (UEPA) Ivanilde Oliveira e Tania Lobato debateram sobre a relação de Freire com a América Latina. No desfecho da programação, o professor da UEPA João da Mota Neto palestrou sobre a característica decolonial de denúncias e de libertação do pernambucano.
Mais que alfabetizar, o objetivo de Paulo Freire (1921-1997) era incentivar, por meio da educação, as classes desfavorecidas, os oprimidos, a se libertarem e se transformarem em donos de suas ações e de suas histórias. Por isso, a filosofia do pensador é contemporânea e universal, pois, seu discurso se estende por todos os excluídos. Nesse sentido, a principal obra do autor é intitulada Pedagogia do oprimido, na qual está presente a essência de ideologia que defendeu em vida. Um dos trabalhos mais conhecidos é o método de alfabetização de adultos, que, inclusive, recebeu o nome de Freire.
De acordo com a professora Maria Inês, Paulo Freire trouxe o ponto de vista da nova na educação, que não é somente um método de ensino, mas como uma concepção crítica, já apontava a desvalorização que os professores sofrem hoje.
— Freire apresentou uma nova teoria do conhecimento, uma visão de mundo. Essa ligação da pedagogia com a cultura e com a problemática social.
Para a professora Ivanilde, o pensamento de Paulo Freire é contemporâneo porque vai além do campo político. De acordo com ela, a pedagogia inclusiva do autor torna qualquer oprimido parte da discussão, e isso envolve questão de etnia, de gênero e de qualquer outra forma de exclusão, além de ser necessária para a formação social das pessoas.
— Paulo Freire não traz apenas a perspectiva política, ele traz, sobretudo, a perspectiva ética. Faz criticas ao sistema neoliberal, ao seu fatalismo e ao imobilismo desse sistema, às desigualdades sociais. Ele foi uma pessoa que trouxe princípios e práticas educacionais voltadas para as pessoas excluídas, das classes populares. Ressalta a importância de construirmos uma educação humanista, solidária, colaborativa, que forme pessoas mais humanas.
O professor Mota Neto afirma que o aspecto político da obra de Freire não pode ser negado porque o educador propôs um método educacional que modificasse totalmente a estrutura social.
— Nós não podemos reduzir Freire apenas a criador de uma proposta metodológica. Ele produziu um pensamento pedagógico eminentemente político que estava ligado diretamente à ideia de que era preciso transformar radicalmente a sociedade. De forma que a sociedade a ser construída fosse solidária, democrática, justa, em que não haja oprimidos e opressores, ricos e pobres, explorados e exploradores.