Diálogo entre a Igreja e a Sinagoga
11/11/2015 14:13
Olívia Nielebock e Dayane Barbosa/ Fotos: Weiller Filho

Nos dias 10 e 11 de novembro, seminário promovido pelo Departamento de Teologia discute a importância da primeira declaração oficial sobre o diálogo com outras religiões

A intolerância religiosa é tema frequente abordado pelo Papa Francisco. O assunto, porém, é discutido a bastante tempo e já foi abordado em documento oficial da Igreja Católica, por meio da Declaração Nostra Aetate, que discorre sobre as relações da Igreja com as religiões não cristãs, datada de 28 de Outubro de 1965. Em celebração dos 50 anos da Nostra Aetete, ocorre na Universidade o seminário A Igreja e a Sinagoga em Diálogo, que pretende aprofundar o estudo do documento. O primeiro dia do encontro contou com a conferência do ex-reitor da PUC-Rio padre Jesus Hortal, S.J., que fez uma relação entre os textos bíblicos e o Documento pontifício.

A abertura do seminário foi realizada, no dia 10 de novembro, pela professora Maria Teresa Cardoso, do Departamento de Teologia, e pela doutora em Teologia pela PUC-Rio Francilaide Ronsi. Maria Teresa Cardoso referiu-se à Nostra Aetate como uma virada de perspectiva na Igreja.

- Essa declaração foi um recomeço. Estamos em um momento amistoso, de trocas. Essa declaração inaugurou a abertura de corações e o desejo do diálogo. Consideramos hoje o outro como um dom para nós, o clima é de estima, de encontro e de amizade.

Padre Jesus Hortal afirmou que o diálogo entre Igreja e Sinagoga não é fácil por causa da intolerância, das discussões e das incompreensões que existem dos dois lados. Ele apresentou as divergências entre Cristianismo e Judaísmo desde o Novo Testamento até a declaração de 1965.

- No início de tudo, o Cristianismo surgiu como rival do Judaísmo. Por isso, pode-se encontrar na Bíblia expressões que podem ser consideradas anti-judaicas, como Nova Aliança ou Novo Povo de Deus. No entanto, muitos são, na verdade, os pontos de contato entre as religiões, como as Bem-Aventuranças de Jesus e os Dez Mandamentos de Moisés. É preciso que consideremos também o tempo em que esses textos foram escritos e a quem eles se destinavam.

A partir da análise do texto bíblico, o professor observa uma distinção entre o livro de João e os demais evangelhos. Segundo ele, os adversários de Jesus são retratados nos demais livros de forma específica e consistiam em grupos pequenos e elitizados, porém o termo judeu praticamente não é falado. Porém, no texto de João, o termo é utilizado 65 vezes e adotado para simplificar.

- Nas outras passagens, esses textos são destinados a povos de origem judaica que identificam esses grupos, essas denominações. No texto de João, a palavra judeus é usada para facilitar essa compreensão por outros povos, o que gera uma interpretação errada.

Os primeiros conflitos entre as comunidades religiosas datam dos tempos de Herodes, em que os cristãos foram perseguidos. O jesuíta explica ainda a principal diferença entre a carta de São Paulo aos Gálatas e a declaração da Nostra Aetete: o objetivo de ser escrita. De acordo com padre Hortal, em ambas são feitas declarações de admiração ao povo judeu, sem condenações. No entanto, na primeira, há o objetivo da conversão. Na segunda, são ressaltadas a herança e a esperança em comum, bem como enfatizada a fraternidade universal e a reprovação de toda discriminação racial ou religiosa que, conforme o documento, é contrária ao pensamento de Cristo. A intenção de converter os judeus não existe, no entanto, no Documento.

Ainda no encontro, Francilaide Ronsi fez um panorama sobre as relações atuais entre os dois grupos religiosos e falou sobre a experiência no Rio de Janeiro com a Fraternidade Cristã-Judaica, instituição que promove projetos de interação entre os fiéis das duas religiões. Segundo ela, o movimento Juventude Inter-religiosa do Rio de Janeiro (JIRJ) nasceu a partir do desejo de levar a experiência religiosa para dentro das salas de aula de colégios do Rio de Janeiro, como o Colégio Santo Inácio e o Liessin.

Na segunda conferência, o arquiteto Mariano Akerman abordou sobre as representações esculturais da Igreja e da Sinagoga e os atributos pertencentes a cada uma delas. Ele explicou que a Sinagoga, por muito tempo, foi representada como uma figura insegura, envergonhada, enquanto a figura da ‘Eclesia’ aparentava estar segura de si. O arquiteto abordou também sobre símbolos presentes nos dois templos.
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