Tecnologia a serviço da saúde
23/11/2015 04:51
Gisele Barros / Ilustração: Diogo Maduell

Chip implantado na superfície da retina, por meio de cirurgia oftalmológica, ajuda paciente a recuperar a visão.  

A implantação de um chip na retina é uma nova técnica que pode ajudar pessoas a recuperar a visão. O raro procedimento foi feito 150 vezes pelo mundo e somente um brasileiro já realizou essa operação, o oftalmologista Flávio Rezende Filho. Rezende é chefe do Departamento de Retina da Universidade de Montreal, no Canadá, e professor da Escola Médica de Pós-Graduação da PUC-Rio.

Implantado na superfície da retina, o eletrodo tem um cabo que se conecta com uma peça eletrônica na parte branca do olho. Ao lado dessa peça eletrônica há uma antena que transmite as informações para a outra antena instalada nos óculos que deve ser usado pelo paciente. Existe uma microcâmera inserida no centro dos óculos, que capta as imagens que serão visualizadas pela pessoa. O dispositivo é controlado por um computador de bolso, no qual é possível regular também a quantidade de luz que será captada pela câmera.

A cirurgia é indicada apenas para pessoas que perderam a visão ao longo do tempo, quando alguma doença – na maioria dos casos, genética- afeta as células fotorreceptoras do olho. O restante das funções ópticas continua funcionando, mas as distrofias impedem que a luz seja traduzida em impulso nervoso que permite a visão. O aparelho utilizado nessa técnica capta a luz e estimula as células que ainda funcionam na retina.Assim, a imagem é levada até o cérebro pelo nervo óptico e o paciente volta a enxergar.

 

 O procedimento é um desafio. Operações na retina normalmente duram de 20 minutos a duas horas, mas nesse caso, a cirurgia é realizada em quatro horas e meia. Para dominar a nova técnica, Rezende participou de um treinamento intensivo com um cirurgião experiente na Itália e de um encontro mundial com médicos especializados nesse tipo de prótese retiniana.

 – É uma nova era na cirurgia vitroretiniana. Nós não estávamos acostumados com a implantação de nenhum equipamento eletrônico nos olhos. O tamanho dos objetos que precisamos colocar dentro do olho ainda é muito grande. A dificuldade de manusear coisas grandes dentro de um espaço pequeno torna a cirurgia um desafio.

Como toda a cirurgia, essa também oferece riscos. O tamanho do equipamento que precisa ser implantado no olho pode gerar complicações como a falta de pressão e a deiscência (abertura de suturas) do tecido da parte branca do olho, que pode ficar muito esticada. O resultado também não é imediato. É necessário que o olho do paciente esteja completamente cicatrizado antes que a câmera seja ligada. Este período dura de quatro a oito semanas. A paciente operada por Rezende ainda está no processo de cicatrização, mas provavelmente ligará a câmera pela primeira vez no próximo mês.

 A nova visão não é como a humana e sim, digital, resultado do agrupamento de pixels. A tecnologia atual também só oferece aos pacientes a possibilidade de ver em preto e branco. A companhia responsável já afirmou que em 2016 a nova versão do aparelho deve possibilitar que se enxergue em cores. Segundo o professor da PUC-Rio, é necessário um treinamento intensivo e muita motivação por parte do paciente para se acostumar com outra maneira de ver o mundo.

 Rezende tem como meta trazer essa cirurgia para o Brasil. Segundo o médico, a companhia responsável pelo equipamento já apresentou a proposta à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e ele torce para que em meados de 2016 a tecnologia esteja no país. Para isso, é necessária também a presença de um médico que tenha feito essa operação para realizar cursos e participar da primeira sessão. O custo do equipamento também é um obstáculo. Sem incluir gastos com centro cirúrgico ou honorário de médicos são necessários US$ 150 mil para fazer o implante.

 – É uma cirurgia bastante dispendiosa. No Canadá, como o sistema de medicina é socializado, estamos pleiteando perante o governo a possibilidade de oferecer essa tecnologia à população que precisa do equipamento. As doenças que comprometem os fotorreceptores são relativamente raras. Isso significa que no momento atual não haverá uma quantidade enorme de pacientes, o que talvez nos beneficie a convencer o governo a começar a financiar isso, servindo de exemplo para o Brasil.

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