Único cinema sobrevivente da Praça Floriano Peixoto, na Cinelândia, no Centro do Rio de Janeiro, o Cine Odeon completa 90 anos neste mês de abril. Área idealizada para ser uma Broadway brasileira, pelo espanhol Francisco Serrador, a região tomou a forma que tem hoje nos anos 1920, quando o imigrante comprou o terreno. A partir daí, foi construído um complexo de 11 cinemas até a década de 1940, e o local foi batizado com o nome pelo qual é conhecido até hoje. Mas entre os muitos cinemas que foram inaugurados, como o Cineac Trianon, o Cinema Parisiense, o Império, o Pathé e outros, apenas o Odeon sobreviveu e manteve a memória de uma época.
O espaço foi inaugurado com som diferenciado, poucas décadas após o cinema ter sido inventado, pois, nos anos 1940, os filmes já eram em estéreo. Em quase um século de história, o Odeon já foi fechado para reformas algumas vezes. Na última, em 2014, o estabelecimento voltou a ser administrado pelo Grupo Severiano Ribeiro, que era responsável pelo local desde a abertura até a década de 1990, quando foi transferido para o Grupo Estação.
A obra promoveu a manutenção de todo o estilo e tradição, mas colocou em prática algumas mudanças. O Odeon agora é um centro cultural e também exibe óperas, festivais, mostras e até transmissões de jogos de futebol em uma sala com capacidade para 550 pessoas - 320 no térreo e 230 no mezanino.
Para o Coordenador do curso de Cinema da PUC-Rio, professor Miguel Pereira, o Odeon não é só o carro-chefe da Cinelândia, mas cumpre um papel importante na história do cinema brasileiro.
– No Cine Odeon é que foram lançados os grandes filmes da história mundial e brasileira. É um cinema de um grupo de exibição 100% nacional, que também se tornou produtor de um momento importante para a cinematografia do Brasil com a chanchada – afirma Pereira.
Na reabertura, em maio de 2015, aspectos importantes da estrutura foram preservados, como o lustre na sala de exibição. O sino ainda toca, as cortinas se abrem e a sessão começa. E para retornar à tradição, funcionários da bilheteria e os lanterninhas agora usam uniformes de época. Uma das principais novidades foi o conceito de multiprogramação. O espaço não exibe um filme em quatro sessões, mas quatro filmes diferentes em quatro sessões e sempre alternando durante a semana. A cada semana, novos filmes entram em cartaz.
A nova proposta como centro cultural também trouxe para a sala uma variedade maior de público. Segundo a produtora de programação do Odeon Fernanda Oliveira, os festivais atraem pessoas de nichos sociais diferentes. O cinema abriga o Festival do Rio, o Animamundi e, em 2015, recebeu o Festival de encontro de cinema negro e o Festival de cinema gay, entre outros.
– Com o Festival do Rio, que durou duas semanas, o público foi intenso e muita gente soube que o Cine Odeon ainda estava aberto. A proposta como centro cultural tem atraído mais gente. Não ficamos só restritos aos filmes – diz a produtora.
Manter um cinema de rua no século XXI é uma tarefa difícil. O Odeon sobrevive hoje com a bilheteria e o aluguel do espaço para os festivais. O estabelecimento é parceiro de outras casas de cultura: um ingresso de cinema do Odeon garante meia-entrada no Circo Voador e vice-versa. O mesmo ocorre com o CCBB. O Odeon tem convênio com universidades como a PUC-Rio que, além de aulas inaugurais do curso de Cinema, exibiu
em 2015 filmes produzidos pelos alunos das disciplinas de Projeto 1 e 2.
Segundo Pereira, o cinema de rua ainda tem futuro. Para ele, o Rio é uma cidade agradável para se andar e sempre vai existir um público que prefere assistir aos filmes sem o excesso de marketing dos shoppings e sem pipoca.
– O Odeon, com a reforma, consegue competir com outros cinemas de rua e de shopping porque ele é absolutamente rentável. Ele começou a dar renda porque mudou completamente e virou centro cultural. Tem como você manter o cinema e todo mundo vê o Odeon hoje por causa do letreiro.