Comprometidos com o bem social
06/10/2017 14:55
Marcelo Antonio Ferreira

Iniciativa propõe interligar alunos do Ensino Médio de realidades sociais diferentes. O projeto usa conhecimento escolar a favor da comunidade

Estudantes da rede pública e particular se unem com objetivo de buscar soluções para problemas de diferentes domínios da Gávea Foto: Divulgação

As estudantes Gabriella Castro e Júlia Borges se conheceram perto da etapa final do curso de Relações Internacionais, e, ao perceberem que tinham em comum o interesse pelo segmento da educação e a vontade de criar um projeto social, uniram forças. Em setembro, elas deram início a uma iniciativa idealizada e estruturada por elas, a 2VI´s (Visão e Visibilidade). A proposta é diminuir as fronteiras sociais entre um grupo de alunos do Ensino Médio da rede pública e privada. Eles terão que transformar o conteúdo escolar em prática e aplicar para a solução de um problema na Gávea.

Os adolescentes são do CIEP Ayrton Senna, Escola Estadual André Maurois e da Escola Parque. Serão 30 jovens do 1º e 2º ano do Ensino Médio entre 15 a 20 anos, divididos em cinco subgrupos, e cada um representará uma área, entre elas: direitos humanos, meio ambiente, saúde, cultura e educação. Cada subgrupo terá que identificar um problema na Gávea, correspondente ao tema, e propor uma solução viável para uma banca. Os cinco terão um mentor, que são universitários voluntariados.

As aulas vão abordar um método disruptivo de ensino: as dinâmicas não incluirão a figura hierárquica do professor. Os mentores apenas vão incentivar e conduzir a troca entre os participantes. Segundo Júlia, o essencial é converter o aprendizado escolar em algo em prol da comunidade.

– A meta é fazer com pessoais locais, pois elas estão inseridas na localidade e saberão identificar os reais problemas. É também mostrar para os jovens que eles são capazes de fazer algo concreto para mudar a realidade. E isso se conectará à educação ao mostrar que o aprendizado escolar pode ser colocado em prática.  

A abordagem tem a finalidade de estimular a interação entre jovens de bairros próximos, mas também de realidades socioeconômicas distantes. Gabriella defende a ideia de que o contato entre eles é a principal ferramenta na redução do contraste entre grupos.

– O objetivo principal é querer diminuir a desigualdade social brasileira. E acreditamos que a forma disso ocorrer é pela educação. Dentro do segmento educacional, o que mais influencia é a criação de maior empatia entre as pessoas, e fazer acontecer a conexão entre alunos de diferentes realidades e cultura.

Esta é uma edição piloto do projeto que, para sair do papel, recebeu, além de um investimento das criadoras, uma verba arrecadada via crowdfunding e uma série de suporte voluntário de apoiadores. Em breve, elas pretendem lançar o 2VI´s como um projeto autossustentável, com uma maior abrangência de escolas e participantes. As meninas buscam como diferencial a inserção da prática na teoria.

– Dentro de relações internacionais, o que se vê é que muitas pessoas com embasamento teórico chegam aos locais e ditam o que acreditam ser o melhor. E não fazem uma pesquisa com a população local ou os questionam sobre o que realmente é necessário. E isso faz com que muitos projetos não deem certo.

A professora Luiza Martins, supervisora do Domínio Adicional de Empreendedorismo, foi uma das profissionais presentes na concepção do projeto. Ela explica que diversos setores da PUC fornecem auxílio para a proposta. O setor de Empreendedorismo, por exemplo, guiou a parte administrativa e financeira.

– Esse projeto desenvolve algumas habilidades e capacidades individuais se os alunos estiverem abertos a isso. As atividades, da forma que elas estão propondo, facilita esse desenvolvimento. Quando se pensa em estruturar um projeto que dá sentido ao que o aluno aprende na escola, chama a atenção. E elas já saem muito na frente pela relevância do que estão fazendo.
 
O empenho dos participantes é imprescindível, afirma Luiza. Para a proposta se fortalecer os estudantes devem se manter estimulados a continuar no projeto. Assim, ele consegue se manter no mercado.

– O resultado depende do engajamento dos alunos, e este é o desafio delas. O adolescente tem uma ideia de que tudo que a escola oferece é obrigatório e, consequentemente, chato. As escolas deram muito apoio e esse suporte não tem preço.

A diretora adjunta e professora de língua portuguesa da Escola Municipal André Maurois, Patrícia Soares, conta que antes do 2VI´s ser aceito, houve um processo triagem para se certificar que o acréscimo seria positivo. Para ela, a integração é essencial para que esses grupos possam encontrar semelhanças que são comuns à idade.

– É importante que todos conheçam a realidade do outro. Muitas vezes se pensa no estereótipo do aluno da escola particular e escola pública. Existem questões que são próprias da faixa etária deles, independente da realidade social. E questões que são, exclusivamente, da realidade social, podem ser trazidas para discussão. Se essa juventude perceber que eles juntos vão formar e ditar as regras do futuro, eles conseguirão formar uma sociedade mais igualitária.

Mais Recentes
Beleza a favor do ecossistema
Mercado de cosméticos veganos conquista consumidores que lutam contra a exploração animal
A voz que não pode ser calada
A liberdade de imprensa é considerada um direito social conquistado pelos profissionais da comunicação
Diplomacia na escola
Alunos da PUC participam da sexta edição MICC