Rio registra declínio na doação de medula
05/10/2017 13:40
Lethicia Amâncio

A crise econômica é um dos fatores responsáveis pela diminuição nos números de doadores no Estado este ano. Redome registra queda de mais da metade de novos cadastrados no Rio

O avanço de doenças limita o tempo de vida de muitos pacientes e, em alguns casos, a rapidez no tratamento é decisiva. Segundo o Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome), aproximadamente 850 pessoas aguardam um doador de medula óssea compatível no país. No Rio de Janeiro, atualmente, há 101 pessoas em busca de compatibilidade. Porém, a falta de recursos e de variedade no banco de doadores podem prejudicar quem está à espera de um transplante.

Segundo dados do Redome, em 2015, foram registrados no Rio de Janeiro mais de 15 mil novos cadastros para doação de medula óssea. Em 2016, esses números caíram para pouco mais de 6 mil e, até julho deste ano, apenas 1.037 novos doadores se cadastraram. O Rio tem cerca de 209 mil cadastros feitos no Redome. São Paulo, por exemplo, tem mais de 1 milhão.

Um dos fatores para a queda nos números é atribuído à crise econômica do Estado, com o encerramento das atividades de cadastro de doadores no Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti (Hemorio). Outra causa é o decreto da Portaria Federal Nº 2.132, do Ministério da Saúde. Em vigor desde 2013, ela definiu cotas para garantir a diversidade genética nos registros e dar uma maior oportunidade de identificação de doadores compatíveis.

O transplante de medula óssea é uma forma de tratamento para algumas doenças que afetam as células do sangue, como as leucemias. O processo substitui uma medula óssea doente, ou deficitária, por células normais da medula óssea doada, com o objetivo de reconstituir uma nova medula saudável.

Infográfico: Diogo Maduell


A médica Danielli Oliveira, do Redome, explica que o Instituto é o terceiro maior registro financiado por recursos públicos do mundo e atingiu o que se chama de estabilidade genética, isto é, variedade de gens. Mas, apesar disso, o instituto não consegue atender 100% da população. A médica esclarece que essa cota é uma forma de realocação de recursos, antes destinados ao cadastro de novos doadores e, agora, para o transplante.

– Temos um registro bastante diversificado do ponto de vista genético, a entrada indiscriminada de doadores não acrescenta diversidade genética. Hospitais públicos têm dificuldade de financiamento e precisam de mais recursos para fazer transplantes, só que uma parte desse recurso estava comprometida com novos doadores.

Apesar de uma redução dos novos números, os antigos cadastros ainda permanecem nos registros. A secretária Renata Rezende, moradora do bairro Vila da Penha, na Zona Norte do Rio, se cadastrou no Redome em 2008, durante uma campanha realizada pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), onde trabalha. Ela foi contatada no fim de 2016 pela equipe e informada que havia um possível receptor compatível. Após alguns exames, foi confirmada a compatibilidade com um menino de cinco anos.

– Nesse momento, a ficha caiu. Eu descobri que tinha uma pessoa que dependia de mim para viver, e isso me deu mais ânimo, mais vontade de fazer a doação – afirma a secretária.

Renata fez o procedimento, asim que ele foi marcado. Ela foi anestesiada e recebeu várias punções no osso do quadril, onde um pouco da medula óssea é aspirado. Danielli esclarece que isso não tem relação alguma com a coluna espinhal e não há riscos de o doador ficar paraplégico, como algumas pessoas acreditam. Sobre a recuperação, Renata afirma que foi rápida e simples, que voltou às atividades de rotina após o repouso por causa da anestesia. Ela disse que fará a doação novamente se for chamada e recomenda que mais pessoas façam.

– Eu estou pronta para outra! É uma coisa muito boa você poder ajudar, é uma forma de doar amor.

Uma outra modalidade de doação de medula é o método de SCUP, no qual o sangue umbilical e placentário é doado. Esse sangue é drenado e as células-tronco são separadas e podem permanecer armazenadas por vários anos no Banco de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário para serem transplantadas. A estudante de Geografia da UFF Izadora Medina fez o procedimento com o cordão umbilical da filha Violeta e soube da possibilidade da doação por um amigo que faz parte da página do Facebook NeoMedula. O grupo foi criado com o objetivo de promover campanhas de conscientização sobre a importância da doação de medula óssea.

O estudante de Engenharia da PUC-Rio Pedro Caccavo é voluntário na página desde a criação dela em 2016. Ele conta que começou a se envolver com a causa em 2013, ao descobrir que o primo estava com leucemia, e se tornou doador de sangue e cadastrado no Redome.

– Muita gente morre em hospitais porque não encontrou doador. A doença não escolhe quem matar, mas cabe a nós decidirmos se vamos tentar ajudar – afirma o estudante.

Para se tornar doador de medula óssea no Rio de Janeiro é necessário ter entre 18 e 55 anos e fazer o cadastro no Instituto Nacional do Câncer, no Centro da cidade. Para quem já é doador, é estritamente necessário que mantenha os dados atualizados no site redome.inca.gov.br.

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