Parque de Inovação Sustentável da Rocinha terá seis projetos desenvolvidos por departamentos da PUC-Rio

No dia 30 de março, o Parque de Inovação Sustentável da Rocinha apresentou os 26 projetos selecionados para o edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), entre eles seis são da PUC-Rio. A FAPERJ visa apoiar projetos de ciência, tecnologia e inovação no local, e a recepção e entrega de outorga do edital ocorreu no complexo esportivo da comunidade. O valor total dos recursos financeiros alocados é de R$9 milhões, com no máximo R$ 500 mil para uma das iniciativas.

O engenheiro químico com pós-graduação em administração e extensão em empreendedorismo, José Alberto Aranha, atua na governança do Parque de Inovação Sustentável da Rocinha e trabalha com o desenvolvimento da favela desde a fundação do projeto Gênesis da PUC-Rio em 1992. Segundo ele, a iniciativa montou três incubadoras: uma tecnológica, uma social e outra cultural. Depois de vinte oito anos dedicados ao Gênesis, José Alberto Aranha começou a atuar na área de cidades inteligentes. A partir dessas experiências, ele afirmou ter pensado na ideia que ajudou a modelar o Parque de Inovação Social e Sustentável.  O ex-professor comentou que o parque tem como objetivo auxiliar a realização de projetos que façam diferença na vida dos moradores.

- Espero que esta iniciativa se torne em um sistema de multiplicação para que consigamos ajudar as pessoas em novas maneiras de pensar. Se conseguirmos que os jovens pensem diferente, eles serão capazes de encontrar soluções para os problemas. Ao encontrá-los, poderão sistematizar e distribui-los para outras pessoas. Creio que, assim, poderemos resolver o problema do mundo: todos passarão a ser ativos dentro da sociedade, poderemos todos trabalharmos juntos.

A iniciativa Antecipando Futuros Desejáveis, do Núcleo de Estudos e Ação sobre o Menor da PUC-Rio, o NEAM, está entre as propostas contempladas. Diretora do Departamento de Artes & Design, professora Jackeline Farbiarz, coordena o projeto com a professora Marina Lemmertz Moreira. A designer disse que o NEAM auxilia a formação de jovens de comunidades há quarenta anos e busca valorizar, por meio educacional, as áreas profissionais que eles consideram mais interessantes.

- Nesse vivencia, recebemos jovens e a cada vez que trabalhávamos com eles, com várias oficinas a partir das demandas, fomos entendendo os focos principais de interesse. Percebemos que o design, por meio do audiovisual, era um interesse muito grande. A programação e o design de jogos também. Entendemos que cada uma dessas possibilidades de curso tem uma potência diferente de aprendizado para esses jovens.

A proposta UNIR - Centro de Pesquisas e Articulação de Conhecimentos Rocinha - PUC-Rio, é outra iniciativa da Universidade. Quem está à frente desta colaboração é o diretor do Departamento de Ciências Sociais, professor Marcelo Burgos. O plano prevê o desenvolvimento de uma plataforma que será um repositório de dados georreferenciados sobre a Rocinha, com informações sobre habitação, meio ambiente, educação e cultura. Haverá três dimensões horizontais, que definem constrangimentos e recursos que condicionam a vida dos moradores do local, que seja instituições de seguridade social, infraestrutura urbana e dimensão econômica.

O professor expressou entusiasmo ao relatar quando a equipe do UNIR descobriu que a FAPERJ abriu financiamento para projetos em colaboração com a Rocinha. E, segundo Burgos, isto também evidencia a relação de proximidade que a PUC-Rio tem com a comunidade.

- Imediatamente vislumbramos colocar em prática um sonho, quando elegeram a Rocinha para o primeiro edital da FAPERJ. Já havia um movimento na Universidade com professores, pesquisadores, com intenção de estruturar um projeto de pesquisa com foco na Rocinha, pois reconhecemos que a PUC tem uma longa história de relação com a comunidade. Vamos estruturar um centro de pesquisa de extensão para potencializar a capacidade de relação da Universidade com uma grande favela como a Rocinha.

Outro projeto em destaque no edital foi o Rocinha Técnicas de Transferência e Sustentabilidade e Laboratórios Makers, vinculado ao Instituto Tamo Junto Rocinha, em parceria com a Universidade. Ele foi idealizado por Davison Coutinho, funcionário e aluno de doutorado de Design na PUC-Rio. Ele explicou que o projeto será desenvolvido em três direções. Uma delas é em colaboração com o Departamento de Engenharia de Materiais, pois, de acordo com Coutinho, eles têm técnicas de reaproveitamento de garrafas PET e plástico para a substituição da areia lavada para construções. Com este material, serão construídos mobiliários urbanos, chão e casas na comunidade, a partir da reciclagem do PET, que é um produto que não tem valor para reciclagem quando é contaminado. Ele afirmou que, desta forma será possível ainda reduzir a poluição na comunidade. 

Coutinho ressaltou que o projeto é voltado para além de obras na comunidade. Junto ao Departamento de Artes & Design, serão fabricados produtos 3D, a partir da reciclagem, destinados ao entretenimento e aprendizado dos moradores e colaboradores. Coutinho também apontou a importância educativa para a existência e continuidade da iniciativa.

- O nosso terceiro viés é educativo, com a criação de pílulas e materiais de comunicação. Porque nada vamos conseguir fazer sem a participação da comunidade neste movimento de redução da poluição da Rocinha. Estas pílulas audiovisuais serão feitas pelo professor Ernani Ferraz, do Departamento de Comunicação Social. 

Comunicadores digitais

 
Fala Pra a Gente é uma iniciativa em parceria com o Departamento de Comunicação e o Departamento de Serviço Social, organizado pelo Coordenador da Educação à Distância da PUC-Rio, professor Gustavo Robichez.  A ideia é uma iniciativa vocacionada com a comunidade, a qual tem como objetivo formar comunicadores digitiais. Segundo o coordenador, junto ao projeto Fala Roça e o Museu Sankofa, eles farão ações de informação e capacitação de influenciadores e pessoas que tenham aptidão para a comunicação e queiram trabalhar na área. O professor ressaltou os desafios na criação e propagação da iniciativa. 

- É um projeto que vai tentar amplificar as vozes que já existem dentro da comunidade. O projeto está organizado em três grandes desafios: primeiramente, liderança feminina, pois queremos dar vozes a este movimento - a professora Nilza Rogério é a líder dessa provocação. O segundo tem a ver com empreendedorismo social, quem sabe possamos contribuir com outros projetos para incentiva-los a se expor por meio do uso das mídias sociais; e terceiramente dar voz à arte, música, culinária entre outros aspectos importantes da comunidade.

O professor Rafael Sergio Gonçalves, do Departamento de Ciências Sociais, está à frente do projeto Biblioteca Virtual e Percurso Histórico por imagens: História e Memória da Rocinha, que será um mapeamento de tudo que foi produzido e ocorre na Rocinha. A ideia, segundo Gonçalves é que este seja um serviço para o Museu Sankofa, que reserva informações chaves sobre a história da comunidade. Para o professor, existem linhas importantes para a criação desta plataforma que possam promover diferentes impactos duradouros à comunidade.

- Tem um elemento importante no que diz respeito na parte acadêmica, a produção de políticas públicas, a gestores, a agentes de saúde. É importante que tenhamos um espaço por meio de um livro ou um site, nos quais seja possível acessar essa produção em domínios diferentes. E também é importante criar um percurso histórico de imagens, pois a imagem tem um caráter pedagógico e de impacto.