O futuro do financiamento climático
13/03/2024 14:54
Redação

Seminário do IEPUC discute como atrair investimento para transição energética

A emergência climática está na agenda das maiores economias do mundo e um dos desafios é como viabilizar recursos financeiros e técnicos para projetos de redução de emissão de gases estufa e para promover uma transição energética sustentável. Estima-se que para manter o aumento da temperatura global em até 1,5º até o final deste século seriam necessários cerca de cinco trilhões de dólares.

O assunto é tema do encontro “Finanças climáticas: destravando os investimentos para a descarbonização”, promovido pelo Instituto de Energia da PUC-Rio (IEPUC), juntamente com a organização global KPMG e a IE University, da Espanha. O evento será nesta quinta-feira, 14, no auditório do RDC, e terá a participação do professor Luis Maldonado García-Pertierra, da IE University, e de Winston Fritsch, especialista e referência nacional na agenda de finanças e sustentabilidade.

O JORNAL DA PUC conversou com o professor Edmar de Almeida, pesquisador do IEPUC, sobre o encontro, que será fechado para convidados.

Prof. Edmar de Almeida: “Brasil é muito atrativo para investimentos em projetos de descarbonização”. Foto: Comunicar

 

Quais são os tipos de financiamento climático?

Prof. EDMAR DE ALMEIDA: O conceito de financiamento climático ainda está em construção. Na verdade, ele abarca todos os tipos de financiamento voltados para soluções de redução de emissões e para adaptação às mudanças climáticas. A ideia é criar uma classe de ativos e fontes de financiamentos com custo mais baixo para os empreendedores em projetos verdes. Dentre as modalidades de financiamento climático temos os fundos públicos nacionais e internacionais voltados para o combate às mudanças climáticas e os títulos de dívida verdes (green bonds), instrumentos de dívidas securitizadas verdes (Asset backed securities), Project financing verdes (Green Project Financing Operations). Estes mecanismos de financiamento possuem juros menores, seja via incentivos fiscais ou através de esquemas de garantia de crédito verde (GCGSs).

 

Que tipos têm sido adotados no Brasil, tanto no âmbito público quanto no privado?

Prof. EDMAR DE ALMEIDA: O Brasil é um país muito atrativo para investimentos em projetos de descarbonização e o financiamento climático é bastante utilizado. O próprio BNDES tem oferta de crédito via Programa Fundo Clima que se destina a aplicar a parcela de recursos reembolsáveis do Fundo Nacional sobre Mudança do Clima, ou Fundo Clima, criado pela Lei 12.114 em 9/12/2009. O Fundo Clima é um dos instrumentos da Política Nacional sobre Mudança do Clima com a finalidade de garantir recursos para apoio a projetos ou estudos e financiamento de empreendimentos que tenham como objetivo a mitigação das mudanças climáticas. É importante destacar ainda o Programa Brasileiro de Mobilização de Capital Privado Externo e Proteção Cambial para a Transformação Ecológica, lançado em fevereiro de 2024. O Programa visa fornecer mais estabilidade e previsibilidade ao quadro macroeconômico do país, de forma a criar condições estruturais para a atração de investimentos privados externos.

Em termos de regulação, como o Brasil tem se preparado para evitar o greenwashing (estratégia empresarial para camuflar práticas socioambientais nocivas) e para tornar os instrumentos mais efetivos?

Prof. EDMAR DE ALMEIDA: O greenwashing é a grande preocupação do momento no âmbito do mercado financeiro global. Para evitar o greenwashing será importante avançar no desenvolvimento de instrumentos, regras e certificações associados às finanças climáticas. É muito importante garantir que os recursos qualificados como “verdes” ou “sustentáveis” sejam efetivamente orientados para iniciativas efetivas de descarbonização da economia ou à adaptação. Para isto, é fundamental desenvolver metodologias de qualificação e certificação dos investimentos sustentáveis. Esta é uma agenda mundial. Não é apenas brasileira. O Banco Central do Brasil tem sido muito ativo na participação de discussões internacionais para busca de uma padronização das metodologias para classificação e certificação dos produtos financeiros verdes.

 

Qual o panorama do financiamento climático global?

Prof. EDMAR DE ALMEIDA: O montante de investimentos na transição energética, ou seja, em energias renováveis, CCUS, eficiência energética e transporte sustentável, vem crescendo rapidamente. Nos últimos 5 anos, saiu de cerca de 480 bilhões de dólares para cerca 1,1 trilhão de dólares. O volume de green bonds e outras modalidades de financiamento climático vem crescendo no mesmo ritmo.
 

Que contribuições o professor Luis Maldonado García-Pertierra poderá trazer durante o encontro na PUC-Rio?

Prof. EDMAR DE ALMEIDA: Prof. Luis Maldonado é um grande especialista no tema das finanças climáticas. Acredito que ele vai dar uma grande contribuição para o debate sobre o futuro do financiamento climático. Existem várias questões em aberto para viabilizar o aumento do financiamento alinhado com a ambição de emissões líquidas zero em 2050. O seminário será uma grande oportunidade para aprofundar o debate sobre como viabilizar a oferta de financiamento para países em desenvolvimento, em especial, para o Brasil. No nosso caso, este financiamento será fundamental para o aproveitamento das vantagens comparativas do Brasil na transição energética.

 

Em que consiste o convênio entre o IEPUC e a KPMG?

Prof. EDMAR DE ALMEIDA: O Instituto de Energia da PUC-Rio e a KPMG assinaram um convênio para empreender esforços para a Transição Energética e Descarbonização, através da criação do Núcleo KPMG/IEPUC de Transição Energética. O Núcleo tem como objetivos promover o conhecimento sobre a transição dos sistemas e mercados energéticos para um contexto de baixo carbono, através de estudos e eventos focados na análise das políticas energéticas, das estratégias empresariais e das inovações tecnológicas. O convênio busca ainda contribuir e influenciar o debate público acerca das melhores estratégias públicas e privadas para transição energética, além de promover a integração da Universidade com a sociedade. 

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