60 anos de Golpe, mas a censura continua
19/03/2024 17:56
Geovanna Veiga

PUC-Rio promove o Seminário “História, Memória e Luta no presente - Reflexões a partir de imagens e testemunhos da Ditadura Militar Brasileira”

Este ano completam-se 60 anos do Golpe Militar no Brasil. Por isso, a Universidade organizou, dos dias 11 a 13 de março, aulas abertas ao público com discussões sobre o período histórico. Com duas mesas de debates por dia, os temas foram do racismo à resistência feminina e a relação com os desafios enfrentados na época da ditadura. As discussões contaram com a presença da vereadora do PSOL Mônica Cunha, da cineasta Tereza Trautman e do sambista Noca da Portela.

A primeira palestra foi sobre História Audiovisual com a participação dos professores do Departamento de Comunicação Patricia Machado e Andèa França, e da professora do Departamento de História Larissa Corrêa, todas da PUC-Rio. Elas debateram sobre os arquivos e a construção de memórias da Ditadura Militar.

Durante a apresentação do tema  “Entre rupturas e continuidade: Violência de Estado no presente e a luta por direitos” foi exibido o filme "Nossos Mortos Têm Voz" (2018), de Fernando de Souza e Gabriel Barbosa. O documentário destaca relatos de mães e familiares de vítimas da violência estatal na Baixada Fluminense. O foco da conversa foi a atuação do Estado e das forças policiais, especialmente em relação à discriminação racial e à violência contra jovens negros.

Mônica Cunha palestra “Entre rupturas e continuidade: Violência de Estado no presente e a luta por direitos”. Foto: Caio Matheus

O diretor e cofundador da produtora Quiprocó Filmes Gabriel Barbosa ressaltou  que a violência contra pessoas racializadas é estrutural, desde os primórdios da história do Brasil, e não surge apenas durante a Ditadura Militar. Ele atribui à ditadura a responsabilidade de estruturar e fortalecer as técnicas de tortura e repressão de forma que ultrapassasse as que já existiam no país. Assim, a instituição não inaugurou a violência do Estado, mas a tornou mais eficaz e cruel, com uma potência de violência muito maior.

Em seu discurso, a vereadora Mônica Cunha expressou a satisfação em ver esse debate dentro de uma instituição como a PUC e destacou a importância de abrir espaços dentro de outras universidades.

— A importância do debate dentro da PUC é gigante. As pessoas que assumem lugares decisivos na sociedade saem das universidades. Embora tenhamos avançado na questão racial, nós ainda não conseguimos alcançar todas as esferas de poder.  É bom que os estudantes tenham acesso a essa formação.

Mônica Cunha agradeceu a oportunidade de falar na PUC-Rio. Foto: Caio Matheus

A censura à cultura foi tema de debate no segundo dia: “Imorais - Filmes proibidos e perseguidos pela Ditadura Militar”. A mesa era composta pelos professores Wallace Andriolli da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e Gabriel Guedes da PUC-Rio e a cineasta Tereza Trautman. Durante a palestra foi exibido o filme “Os homens que já tive” (1973),  de Tereza Trautman. Durante a conversa, a diretora lembrou a experiência de testemunhar colegas e professores sendo presos e censurados. O que a impulsionou a fazer o filme foi a proibição constante e geral em relação a todos os assuntos. Para ela, o importante era mostrar o que estava escondido. A cineasta compartilhou a aflição de enfrentar a censura que o filme sofreu um dia após o lançamento. Foi necessário recorrer à polícia, que lhe deu uma lista do que poderia ou não ser exibido nas telas do cinema. 

Trautman disse que a ditadura afeta até hoje a forma com que lidamos com crimes em nosso país e que a censura sofrida pelos artistas durante esse período ainda existe, citando principalmente a censura de livros.

— A ditadura de 64 não acabou ainda, ela vive. Porque houve anistia dos crimes, não houve julgamento geral, isso abre portas para o Brasil de hoje.

Cineasta Tereza Trautman discutiu a censura à cultura durante a Ditadura Militar. Foto: Caio Matheus

Encerrando o ciclo de palestras, foi exibido o terceiro episódio da série “Enredos da Liberdade - O carnaval das diretas (1984-1985)”, na Globoplay.  O documentário mostra a atuação indireta das escolas de samba nos movimentos populares, que pediam as votações diretas.

A palestra teve a participação animada de Noca da Portela que, aos 91 anos de idade, compareceu para compartilhar sobre sua experiência durante a Ditadura. Ele destacou a importância do samba, dos sambistas e das escolas no processo de redemocratização.

— Eu participei ativamente, rodei o Brasil inteiro pedindo a volta da democracia e por isso me considero um cidadão brasileiro.

Noca da Portela discutiu o papel das escolas de samba na redemocratização. Foto: Kathleen Chelles

No seminário, também foram abordados os temas "Resistências femininas: história oral, memórias e testemunhos" e "Imagens da prisão: a luta pela anistia ampla, geral e irrestrita nas telas".

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