A importância da Política do Cuidado
03/05/2024 16:36
Laura Tura

Em três anos, Joyce Trindade melhorou e impactou a vida de mais de 600 mil mulheres

Nilza Rogéria, Joyce Trindade e Antônio Carlos de Oliveira organizam a roda de conversa sobre políticas públicas para mulheres. Foto: Marina Kersting

A cidade do Rio de Janeiro tem o maior orçamento para investimento em políticas públicas para mulheres do Brasil. Para a ex-secretária Municipal de Políticas de Promoção da Mulher Joyce Trindade (de janeiro de 2021 até 2024), é preciso mudar a perspectiva de criação de políticas públicas no estado ao colocar a ótica de gênero no centro. As mulheres são base central de famílias e lideranças comunitárias. Elas carregam a responsabilidade de garantir uma vida digna para si e para os outros. Com a certeza de cuidado e bem-estar, Joyce acredita que é possível transformar gerações. 

A gestora fez um trabalho de grande impacto na Secretaria da Mulher e a transformou na maior secretária deste nicho do Brasil. Joyce Trindade impactou mais de 650 mil mulheres e inaugurou mais de 26 equipamentos, como Casas da Mulher Carioca no estado do Rio, o Núcleo Especializado de Atendimento Psicoterapêutico para mulheres em situação de violência e o Centro Especializado de Atendimento à Mulher, entre muitos outros.

Joyce Trindade busca transformar vidas através do diálogo. Foto: Marina Kersting

O Núcleo de Estudos em Saúde e Gênero (Negas), em uma iniciativa com o Grupo de Pesquisa Sobre Violências e Políticas Públicas, dois movimentos da PUC-Rio, convidou Joyce Trindade para uma roda de conversa no dia 12 de abril, sobre políticas de cuidado para mulheres. Com a coordenação dos professores do Departamento de Serviço Social da PUC-Rio - Nilza Rogeria e Antonio Carlos de Oliveira - os alunos ouviram e discutiram questões problemáticas e importantes para garantir segurança e bem-estar para as mulheres.

Joyce explicou porque se tornou uma gestora pública. Ela contou quais políticas foram essenciais durante seu crescimento profissional. Ela constatou uma série de direitos que são considerados básicos para o desenvolvimento de um cidadão: o direito de sonhar, o direito à cultura e ao imaginário social que possibilitam almejar, com bases sólidas, futuras aspirações.

A ex-secretária conta quais foram as motivações para começar a carreira. Foto: Marina Kersting

A ex-secretária destacou a importância do apoio familiar para alcançar objetivos e como isso moldou sua visão sobre a política pública e o papel das mulheres na sociedade. Nascida em Cosmos, na Zona Oeste carioca, ela percebeu que as oportunidades variam de acordo com as características da família.

— Tive acesso ao cuidado, ao amor, à alimentação, a uma casa e ao básico da política pública que o cidadão deveria ter. A falta do amor nunca foi um problema para mim. Mas na minha família, que é muito grande, meus primos, por exemplo,  não tiveram as mesmas oportunidades. Consigo ver diretamente a diferença de ter uma base familiar fortalecida – afirmou Joyce.

Um dos projetos liderados por Joyce enquanto estava na Secretaria é o programa Gerando Futuro, lançado pelo Super Centro Carioca de Saúde para pensar em políticas públicas para mães cariocas da cidade do Rio de Janeiro. O programa oferece apoio durante a gravidez e visa acompanhar gestantes em situação de vulnerabilidade com pouco acesso à informação. As mulheres podem repensar a gestação e aprender formas de planejar um futuro, organizar questões financeiras e  providenciar recursos nutricionais para a mãe e o bebê.

–  Se você chega no lugar que é referência, que é bonito e cheiroso, a mulher diz: ‘eu quero voltar, eu tenho alguém que cuida de mim’. Política pública do cuidado é prezar pela excelência, por uma política que faça sentido – explicou a ex-secretária.

A gestora fala sobre as diferentes óticas possíveis dentro das políticas públicas. Foto: Marina Kersting

Joyce discutiu também a importância de considerar diferentes perspectivas sobre ótica de gênero na construção de políticas públicas em múltiplos conceitos geográficos. Ela acredita que em diferentes áreas da cidade, há contextos socioeconômicos e culturais distintos. As políticas precisam ser adaptadas a essas diferentes realidades. A gestora considera essencial dar oportunidades aos trabalhadores locais, que conseguem se comunicar com mais facilidade com a comunidade, que vai  usufruir melhor os recursos oferecidos.

Segundo Joyce, é possível ver a prioridade de um governo ou de um político a partir do orçamento investido. É preciso ter em mente que a ótica interseccional traduz outras formas de discriminação e desigualdade, como raça e classe social e devem ser abordadas. Deve-se também entender as formas de distribuição de orçamento para que seja feita de forma igualitária, com o entendimento dos conceitos de ótica do cuidado, raça, classe e território.

– Onde está o dinheiro é onde está a prioridade. Fazer política pública é caro, principalmente de excelência. Servir bem ao público custa muito. Por isso, são precisos milhões e milhões. É necessário entender o que é um orçamento público, é lá que está o desafio.

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