Jornalistas em mutação foi o tema do último debate da 1ª Semana do Jornalismo, na sexta-feira, 31. Os jornalistas Gilberto Scofield, Sidney Garambone, Aydano André Mota e o fotógrafo Sergio Moraes abordaram as mudanças no mercado de comunicação e como profissionais tiveram que se adaptar para permanecer na ativa. Durante cinco dias, o encontro organizado pelo Departamento de Comunicação Social reuniu 50 jornalistas, 40 organizações e 20 professores e pesquisadores.
Diretor de estratégia e negócios da Agência Lupa, primeira agência de notícias do Brasil a se especializar na técnica jornalística conhecida como fact-checking, ou checagem de fatos, Gilberto Scofield destacou a importância da versatilidade e inquietude na profissão para se adaptar às diferentes propostas que surgirem. Ele explicou que a Lupa desenvolveu um método para verificar uma possível notícia falsa.
- Nós pegamos declarações verificáveis e confrontamos com bases de dados sérias e cientificamente fundamentadas para saber se o que está sendo falado é um absurdo ou se mantém dentro de dados oficiais verificáveis. Toda vez que alguém clica numa nota no Facebook e diz que alguma coisa é falsa, o Facebook manda esse post para nós. Temos ferramentas que conseguem perceber com bastante intensidade como uma mentira vai levantando voo.
Editor-chefe dos programas Bem, Amigos!, Boleiragem e Grande Círculo, do Sportv, Sidney Garambone contou casos de bastidores das gravações e ressaltou a importância de o jornalista se manter atualizado ao máximo. Ele explicou detalhadamente sobre o novo programa, Grande Círculo, exibido no Sportv e no Esporte Espetacular, da Rede Globo, e relatou um episódio ocorrido com Galvão Bueno, um dos entrevistados da atração.
- O programa é uma espécie de Roda Viva do esporte, com nomes consagrados e que possam surpreender. Quando pensamos em fazer uma entrevista com o Galvão, houve uma resistência interna para que não entrevistássemos um cara da emissora, pois acharam que seria chapa branca. Para resolver, chamamos pela primeira vez entrevistadores de outros canais, como a Renata Fan, da Bandeirantes, o Paulo Amigão, da ESPN, e o Sérgio Rodrigues.
O fotógrafo-chefe da Reuters no Brasil, Sergio Moraes exibiu em imagens parte dos quase 40 anos de carreira. Ele mostrou a evolução dos equipamentos e da velocidade em que as fotos eram publicadas ao longo do tempo, e contou sobre um dos seus cliques favoritos: Ronaldo Fenômeno, após toda a polêmica em campo na final da Copa do Mundo da França, em 1998.
- A foto ficou marcada pela história do Ronaldo que não ia jogar, mas acabou jogando. Nós, no campo, nem sabíamos o que estava acontecendo, porque, quando veio a primeira lista dos titulares, o Edmundo estava no lugar dele. Depois veio uma lista com o Ronaldo, o que parecia um erro. A foto que eu tirei nesse dia acabou sendo a foto do Ronaldo nessa Copa e está até em um documentário sobre fotos marcantes de Copa do Mundo.
Ficou com Aydano André Mota, um dos editores do Projeto #Colabora, a missão de ser o último palestrante da 1ª Semana do Jornalismo. Ele criticou o modelo das mídias tradicionais, classificando-o como ultrapassado e previsível. Aydano também destacou algumas características de quem consegue manter-se em sintonia com o avanço da profissão: a obsessão pela qualidade, a criatividade e a pluralidade.
- As pessoas precisam mais e mais de informações de qualidade, de checagem. Não faz sentido a crise da comunicação nesse cenário. Minha tese é que a crise não é da mídia, mas das empresas de mídia. É um modelo hoje excessivamente corporativo. Se você viu a televisão ou entrou na rede social, vai adivinhar a primeira página do jornal no dia seguinte invariavelmente, é muito lento, não tem diálogo. Esse é um modelo no qual o jornal impresso ainda está preso.
No final do encontro, os professores Lilian Saback, Felipe Gomberg e Ítala Maduell, do Departamento de Comunicação Social, fizeram o encerramento oficial da 1ª Semana do Jornalismo, destacando o sucesso de público e o nível das discussões que ocorreram ao longo da semana.