Representatividade no mercado de trabalho
19/05/2021 14:19
Nathalia Movilla

Três décadas depois da criação da Lei de Cotas, empresas e instituições analisam a importância da inclusão

Há 30 anos, a lei 8.213/91, conhecida como Lei de Cotas para pessoas com deficiências (PcDs), foi sancionada pelo então presidente da República Fernando Collor. A obrigação, vigente até hoje, determina que as empresas reservem de 2% a 5% das vagas para os PcDs, de acordo com o número de funcionários na folha de pagamento. A Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) iniciou o projeto de contratação de PcDs para ascensoristas há mais de dez anos, e o foco principal é a inclusão.

Funcionária aposentada da Shell Brasil, Fatima Camilo iniciou a trajetória para inclusão de pessoas portadoras de deficiência em 2011, em um projeto de contratação, comunicação e desenvolvimento. Após o fim deste programa, Fatima passou a fazer parte de um grupo para debater as facilidades e dificuldades enfrentadas pelos PcDs. 

Ainda a serviço da companhia, ela precisou do auxílio de cadeira de rodas para se locomover por causa de problemas sérios de saúde. Desta maneira, ela passou a vivenciar como é o dia a dia de um PcD. 

- Com certeza o olhar muda muito, pois você sente na pele as dificuldades. Por mais que queira se colocar no lugar de um PcD, mesmo vivenciando em treinamento, é totalmente diferente do dia a dia, que eu fui descobrindo à medida que o desafio aparecia.  

Grupo do projeto de contratação, comunicação e desenvolvimento

Ascensorista da PUC-Rio há quinze anos e muito querido, principalmente pelos alunos e professores do Departamento de Comunicação Social, Paulo Cesar Brito iniciou a história na instituição na década de 1970. Em 1973, o portador de poliomielite ingressou como faxineiro, porém, o nascimento do primeiro filho e as dificuldades financeiras obrigaram o funcionário se desligar da Universidade. Mas o caminho dele voltou a se cruzar com a instituição em 2006. Após todos estes anos, Paulo Cesar, carinhosamente chamado de “PC”, reflete sobre a experiência e diz que o reconhecimento das pessoas e da PUC-Rio o fortaleceram. 

- Apesar de sempre ter sido considerado um campeão, pois trabalhei com futebol por muitos anos, sendo sempre vencedor e muito elogiado pelas pessoas, foi na PUC-Rio que me senti muito feliz pelo reconhecimento do meu trabalho. Ali, eu consigo ver o carinho, a troca de sentimentos e respeito por mim além do trabalho. É uma sensação incrível. Muito feliz.

Segundo Marcela Santos Cavalcanti, que trabalha na Gerência de Recursos Humanos da PUC-Rio, existe uma parceria com o Centro de Vida Independente (CVI), associação que apoia e luta por pessoas com deficiência desde 1988, e com o Núcleo de Apoio e Inclusão da Pessoa com Deficiência (NAIPD). Marcela ainda ressalta o significado de desenvolver um programa de inclusão, que inclui uma série de atitudes em diferentes frentes. 

- Sensibilizar a alta direção institucional sobre a importância do programa, estabelecer parcerias com instituições especializadas, promover a integração do novo funcionário na instituição, acompanhar o seu desenvolvimento durante o período de adaptação e monitorar o desenvolvimento profissional em conjunto com o gestor. A realização de avaliações constantes do espaço físico onde atuam também é de extrema relevância, assim como palestras e treinamentos para todos os funcionários sobre diversidade.

No último mês, a Escola de Negócios da PUC-Rio (IAG) promoveu uma webinar com o tema Diversidade e Inclusão na Prática das Organizações e a presidente da B-Power, rede pela equidade racial da Shell Brasil, Denise Santos participou da palestra para abordar a questão do racismo. 

A executiva nasceu e foi criada em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, entretanto, passava as férias na casa da madrinha, em Copacabana, Zona Sul. Engenheira formada pelo CEFET e funcionária da Shell há quase 14 anos, Denise relembrou na palestra momentos da infância e destacou a importância da representatividade. 

- Minha identidade negra surgiu aos seis anos de idade, e foi muito importante, porque é difícil se reconhecer como negro em um país que a base da sociedade ainda é pautada pelos efeitos da escravidão e do racismo. Entendia e aceitava que eu era negra, me tornei visível, mas não via ninguém parecido comigo nas férias (na Zona Sul). Não tinha nenhum negro nos restaurantes que eu frequentava, no Clube Costa Brava, no cinema, no Leblon, em Copacabana. A partir disso, comecei a perceber que em Nova Iguaçu também era assim. O número de alunos negros na minha escola, que era de elite, eu contava nos dedos de uma mão só. 

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