A construção de um viver criativo
01/11/2021 15:48
Carolina Smolentzov e Lorena Teixeira

Departamento de Psicologia organiza pela segunda vez série de palestras inspiradas nas ideias do psicanalista Donald Winnicott

Organizada pelo Departamento de Psicologia, a série de palestras Viver Criativo II elegeu como primeira discussão o tema “A criatividade e a criação” em homenagem ao educador Paulo Freire (1921-1997). A mesa-redonda foi realizada no dia 22 de outubro, e a Diretora do Departamento de Psicologia, professora Luciana Pessoa, comentou que a ideia do debate era levantar reflexões e abordar a importância do diálogo interdisciplinar. Para exemplificar a troca entre os departamentos, a Diretora do Departamento de Comunicação, professora Tatiana Siciliano, citou uma frase de Paulo Freire: “Ninguém nasce feito, é experimentando-nos no mundo que nós nos fazemos.”

O decano do Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH), professor Júlio Diniz, abriu a primeira rodada de discussões junto a decano do Centro de Ciências Sociais (CCS), Luiz Roberto Cunha. Ele comentou sobre o projeto em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) integrando os três centros e com a criação de um laboratório de inovações. Os dois decanos afirmaram que pandemia trouxe a questão da interdisciplinaridade, e proporcionou a união dos centros e da PUC-Rio. Cunha lembrou que, depois de quase dois anos de ajustes por causa do isolamento social, agora o momento é outro, de pensar a forma do retorno.

- Eu acredito muito na presença do Espírito Santo na Terra, principalmente, nas ações da PUC-Rio. A pandemia mostrou mais uma vez que nós professores e funcionários conseguimos sobreviver bem e, agora, vamos todos, juntos, enfrentar o desafio da volta – assinalou.

A mesa foi coordenada pela professora Tânia Pereira, do Departamento de Letras, e Celso Gutfreind e Luiz Marcírio Machado, ambos estudiosos da obra e do legado do pediatra e psicanalista Donald Winnicott, participaram da discussão. Psicanalista e escritor, Gutfreind abriu o debate com uma reflexão sobre a importância da criação como ferramenta para a resistência, principalmente em tempos sombrios.

Galeria de Fotos de Donald Winnicott

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Ele construiu o argumento ao redor da importância da fala e da criação para a felicidade. Para isso, o psicanalista fez uma série de considerações a partir do pensamento de Winnicott como, por exemplo, quando tratou da questão do adolescente — já que a psicanálise costuma tratar do bebê. Segundo Gutfreind, a expressão criativa, que pode ser na fala, nas artes, nos gestos, permite que o ser humano recrie sempre objetos dessa criatividade. Ele ressaltou também um aspecto proposto por Freud e aprofundado pelo pediatra britânico de que os criativos não são submetidos, nem apenas cumpridores de ordens.

Celso Gutfreind

— A metapsicologia de Winnicott é sempre criativa, poeta e peculiar. Ele situa o adolescente na continuidade do bebê, mas sem ser este bebê. O criativo tem muito disso, de poder juntar o que não foi juntado, poder criar sem medo do ridículo e da censura. Um olhar criativo em direção à análise do psicanalista talvez precise desta coragem, e é também desviar na metapsicologia oficial, como ele fez. Isto é arriscado, mas quando a criamos, nós arriscamos.

O segundo convidado, o psiquiatra e psicanalista Luiz Marcírio Machado, da Sociedade Psicanalítica de Pelotas, iniciou a fala caracterizando a criatividade como aquilo que diferencia o ser humano enquanto espécie. Ao longo da discussão, ele demonstrou que a criatividade é um potencial inerente a todos, mas que precisa ser transformada para se tornar criação, algo concreto.

Da mesma forma que a criatividade pode ser muito benéfica, como nas descobertas científicas, nas obras de arte, na literatura e poesia, ela nem sempre está associada à ética. Em certos momentos, a destrutividade também pode ser criativa. Marcírio lembrou do exemplo do pai da aviação, Alberto Santos Dumont, que cometeu suicídio quando viu seu invento usado para bombardear cidades e causar destruição durante a Primeira Guerra Mundial.

Marcírio enfatizou haver duas correntes na psicanálise que procuram entender a questão da criatividade de formas distintas. A primeira delas, presente em Freud, afirma que todo processo de criar decorre da transformação daquilo o psicanalista definiu como pulsão ou libido, em palavras, atos e conceitos.

Luiz Marcírio Machado

Ao fazer um paralelo com a questão da adolescência tratada por Gutfreind, Marcílio descreveu a segunda corrente a partir do que Winnicott chamou de Criatividade primária. Ela ocorre nos bebês, que não estão submetidos à relação com o tempo e o espaço, e por isso podem ter a experiência de produzir algo que efetivamente não existia. Nessa corrente, a criatividade primária, ao contrário do que Freud afirmou, é a expressão da pulsão dentro do espaço transicional.

— Esse bebê, que vai continuar neste adolescente, e que na melhor das hipóteses vai continuar no adulto, cria como se tivesse magicamente tirando um coelho da cartola. Ele vai continuar existindo graças ao fato de que Winnicott imaginou um espaço transicional entre as duas realidades: a imaginação e a realidade externa. O brincar é criar uma realidade paralela. Ele disse não haver maneira de sermos criativos efetivamente, de construirmos um viver criativo, se não for através do brincar.

Além dos convidados, a mesa de debates contou com a participação dos diretores dos departamentos de Letras e Artes Cênicas, Alexandre Montaury, e do de Filosofia, Edgar Lyra.

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