Saída da crise exige investimento em educação e fontes renováveis
05/05/2017 19:25
Paula Ferro Freitas

Assim prescrevem os economistas Sérgio Besserman e Manuel Thedim, em debate na PUC-Rio. Para eles, recuperação do Rio demanda esforços prioritários aplicados na renovação do modelo educacional, em fontes energéticas como a biomassa e na economia criativa.

Manuel Thedim e Sergio Besserman. Foto: Isabella Lacerda

Há mais de um ano o Rio confronta-se com a pergunta de um milhão de dólares: como sair do buraco cavado por crises econômica e política sem precedentes? Para os economistas Manuel Thedim e Sérgio Besserman, a recuperação passa pela economia sustentável. Assim eles destacaram no seminário A Crise do Rio de Janeiro em Debate, organizado pelo Departamento de Ciências Sociais, em parceria com o Núcleo de Estudos e Projetos da Cidade (Central).

Presidente do Jardim Botânico e professor de Economia da Universidade, Besserman avalia que a crise fluminense tem raízes em miopias históricas da gestão pública, como a "falta de visão de excelência no processo de trabalho". Ainda de acordo com o ex-presidente do IBGE, estes lapsos de gestão prejudicaram o tratamento de assuntos estratégicos como a exploração de petróleo. Ele qualifica como equivocado "o uso precoce dos royalties", e ponta a falta de planejamento de longo prazo – similar ao fundo soberano da Noruega, compara. O plano norueguês, observa Besserman, usa os royalties associados ao combustível fóssil como uma reserva para investimentos em "tempos de vacas magras". Uma espécie de provisionamento:

– A ideia dos royalties é se preparar para coisas ruins, como vazamentos. O erro vem desde a origem, e os royalties começam a ser usados para renegociar a dívida futura e para despesas imediatas.

Economista de acento ambiental, integrante do conselho diretor da WWF, Sérgio Besserman pondera que o Rio sofre ainda as consequências da crise mundial de 2008. Combinadas a uma política expansionista de gastos, levaram a um endividamento exponencial em relativamente pouco tempo. Segundo o especialista, o aumento chegou a um nível "insustentável", a ponto de comprometer o orçamento e a capacidade de honrar compromissos essenciais. Na avaliação dele, para o estado deixar o fundo do poço, é necessário mais do que o saneamento financeiro e do esperado socorro federal:

– Pôr as contas em dia é obrigação para evitar a catástrofe absoluta. Entretanto, não é garantia de crescimento e desenvolvimento econômico. Se for só isso, seja com a PEC dos gastos ou com a reforma da Previdência, iremos a um cenário muito mais confortável. O problema é cairmos na armadilha da renda média. O Brasil ficaria na mediocridade.

Diretor-executivo do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), o também economista Manuel Thedim acrescenta que, além do reequilíbrio das contas pública, é preciso estabilizar a relação entre a sociedade e o Estado. Ele sugere a reestruturação do arcabouço institucional:

– A demanda social brasileira não cabe mais no orçamento. Não há solução possível de longo prazo se o modo de a sociedade brasileira encarar o Estado não mudar. É preciso mudar o que a sociedade espera do Estado e, portanto, como as leis são trabalhadas. Depois, focar no fim da pobreza e acabar com a desigualdade.

Já Besserman condiciona uma efetiva virada de jogo também à valorização da educação como vetor preponderante ao crescimento econômico sustentado. Para o economista, o país precisa conjugar esforços públicos e privados prioritários ao setor, que ainda se encontra entre os piores do mundo – como atesta, por exemplo, o Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes (Pisa): entre os 72 países avaliados no levantamento de 2015, o Brasil ficou na 63ª posição em ciências; 59ª em leitura; e 66ª em matemática. Thedim reforça a relevância da educação criativa ao horizonte da economia:

– Investimos num modelo econômico que já foi. Não apostamos em mitigar os problemas e diminuir a desigualdade, em aumentar a produtividade dos trabalhadores menos escolarizados. Esquecemos de apostar na economia do conhecimento e da criatividade, que é a economia do futuro. Daqui para a frente, o trabalho não criativo, que não fomenta novas formas de produção, vai acabar. Vai sobreviver o trabalho que inventa, que inova.

Soluções ambientais esboçam também uma luz no fim do túnel, como indica o legado ecológico da crise de 2008, observa Besserman. De acordo com o ambientalista, tanto o Brasil quanto o Rio "têm potencial para crescer com uma agricultura de baixa emissão de carbono e utilizando a energia de biomassa". Em expansão, esta fonte energética já ultrapassou o gás natural na Oferta Interna de Energia Elétrica (OIEE). Embora o gás natural libere menos CO2 por quantidade de energia produzida, a biomassa tem a vantagem de ser um recurso renovável, oriundo de resíduos orgânicos.

Uma das investidas brasileiras na área é o Plano de Agricultura de Baixo Carbono (ABC), desenvolvido para incentivar práticas que reduzam a emissão de gases do efeito estufa. Por meio do programa setorial, a atividade pode recuperar pastagens degradadas e aumentar a integração entre as plantações e as florestas.

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