Gregório Duvivier celebra literatura em Aula Magna
06/05/2024 17:29
Marina Kersting

Escritor acredita que o bom humor é o segredo para lidar com o mercado

Para que serve uma faculdade? Passar quatro, cinco ou seis anos em uma formação profissional pode parecer desanimador para alguns estudantes; para outros, o tempo pode passar voando. Gregório Duvivier confessou que, para ele, uma faculdade pode não servir para nada. Mas, no seu caso, a experiência universitária foi fundamental para a carreira dentro e fora dos palcos.  

Com auditório lotado, Gregório Duvivier ministra Aula Magna do Departamento de Letras. (Foto: Antônio Albuquerque)

O humorista e escritor foi o escolhido de forma unânime pelos professores do curso de Letras para ministrar a Aula Magna, no dia 4 de abril. O interesse não era só do corpo docente. O Auditório do RDC lotou antes mesmo de o escritor chegar, e os ouvintes tiveram que se aglomerar nos cantos e nos fundos da sala. Com um discurso em mãos, Gregório começou a fala com a mesma vibração do programa Greg News: foi ágil, crítico, criativo e engraçado.

– Gosto do fato de que a língua portuguesa não ter uma palavra para aquele que se forma em Letras. Quase todas as graduações reservam um termo para o profissional que se forma. Já a faculdade de Letras não te permite dizer: “Eu sou letreiro”. E eu queria dar os parabéns a vocês que fazem um curso que não permite dar ‘carteirada’ com o diploma. 

Segundo o humorista, foi dessa ideia que veio o bordão do Greg News. “Sou formado em Letras”. Em meio a risadas, Gregório deixou as folhas do discurso de lado e continuou a palestra em tom de bate-papo. Como um irmão mais velho que se dispõe a dar conselhos, o escritor explicou que atualmente nenhuma faculdade garante um futuro promissor ou sequer um emprego.

Mesa da Aula Inaugural do Departamento de Letras composta pelo prof. Paulo Henriques Britto, Gregório Duvivier e prof. Alexandre Montaury. (Foto: Antônio Albuquerque)

Para o ex-aluno, o contato com o leitor é mais importante do que qualquer doutrina mercadológica, mas é necessário que o jovem saiba navegar com as expectativas do mercado. Segundo o humorista, o artista não deve seguir uma carreira só porque ela tem demanda, o ideal é acreditar no próprio instinto com coragem de fazer o que não sabe e tentar desbravar na produção de algo inédito. Para ilustrar, ele explicou como o programa Porta dos Fundos, do qual fez parte, surgiu em 2012. Justamente no momento em que foi criado, não havia mercado de vídeos na internet. 

– Fábio Porchat, João Vicente, Antonio Tabet e eu nos conhecemos na TV  Globo porque éramos roteiristas. Quando a gente levava ideias,  a direção da emissora respondia que o brasileiro não gostava daquele  tipo de humor. Criamos, então, o Porta dos Fundos para fazer algo que a gente gostava. E o canal ganhou visibilidade porque sentimos que era um algo bom que valia a pena fazer. 

Paulo Henriques Britto foi professor do humorista Gregório Duvivier, na PUC-Rio. (Foto: Antônio Albuquerque)

Mas antes do sucesso com Porta dos Fundos, Gregório se formou em Letras com a tese que virou seu primeiro livro: “A partir de amanhã eu juro que a vida vai ser agora”. O antigo aluno contou que tinha muito medo do curso. Acreditava que seria um lugar em que só se estudaria o cânone, uma linguística prescritiva e as regras duras da gramática. No entanto, o que ele encontrou na faculdade foi o contrário: ele aprendeu que as regras são normativas, a língua é viva, mas principalmente, há necessidade da leitura crítica.

– A leitura crítica é a melhor coisa que você pode fazer na faculdade e na vida, porque aprender a ler livros é o que melhor ajuda a ler a realidade. Cursar Letras te dá ferramentas para decodificar o mundo, o que é a coisa mais difícil e importante.

Os últimos anos, no Brasil, foram marcados por crises econômicas e políticas, que, para Gregório, são parte de uma crise de realidade. No mundo de algoritmos em que as experiências são recortes personalizados, o escritor ressalta a importância da leitura como forma de compartilhar a narrativa e criar uma nova realidade. 

– E quem inventa um país? Acho que não são só os sociólogos e políticos, mas todos aqueles que sonham, criam e leem e que a partir da leitura são capazes de formular narrativas. Um país é inventado pelos seus romancistas. Nas obras inaugurais, você inventa mais do que uma língua, você inventa todo um país. Acho que o mito inaugural do Brasil ainda está para ser inventado – concluiu Gregório Duvivier.

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