Uma viagem pela Comic Con Experience
12/12/2023 12:44
Joana Benigno



Já fui a muitos Rio Anime Clubs na minha pré-adolescência, a um Anime Friends que mal tinha começado em São Paulo, a um bem mais robusto, anos depois, aqui no Rio e à Bienal do Livro. Mas nada poderia me preparar para a Comic Con Experience, a CCXP para os íntimos, de 30 de novembro a 3 de dezembro, no bairro de Vila Água Funda, em São Paulo. 

A convenção completou dez anos e aconteceu na São Paulo Expo. Foto: Daniel Porto Lira

Meus companheiros de viagem são todos amizades que fiz na internet, menos um  que conheci no primeiro dia da CCXP, amigo da amiga. Eles são: Maria Júlia Loli, 26 anos, formada em Relações Internacionais, que mora em  Gabriel Monteiro, uma cidadezinha do interior de São Paulo. Helena Orsi, 26, Campinas, e Tales Rodes, 29, São Paulo capital, ambos engenheiros químicos. Os três têm duas coisas muito importantes em comum: são cosplayers e veteranos do evento, foram em todas as edições da CCXP desde seu início em 2014. A convenção completou dez anos e aconteceu na São Paulo Expo. Lá estava eu, indo na minha primeira visita. 

A única frase que poderia descrever a  impressão que tive do espaço da São Paulo Expo é “Tudo Em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo”. Diferentemente de suas xarás gringas, a Comic Con brasileira tem a participação de uma variedade imensa de marcas que fazem ativações (ações publicitárias) estonteantes para atrair os fãs que chegam em manada. Eles compram de tudo, até marcas que normalmente não se associam à estética nerd. Tudo entra na brincadeira para conseguir agradar as 280 mil pessoas que passeiam pelas ruas coloridas do evento. Nos Estados Unidos e no Canadá, a convenção é bem mais sóbria: painéis sobre séries e filmes feitos pelos grandes estúdios e canais americanos, artistas oferecendo autógrafos e fotos, nada muito além disso. 

Em São Paulo, vi a empresa de café Três Corações lançar uma máquina de café de Star Wars com um espaço inspirado na franquia, com um Darth Vader de Lego na entrada e seus expositores vestidos a caráter. Entrei  na loja de fraldas Huggies, que construiu um Bebêverso. A Intimus forneceu absorventes e calcinhas de graça em  todos os banheiros femininos e criou Carmesim, super heroína que fica mais poderosa quando menstrua. Na Game Arena, assisti a  jogos de League of Legends ao vivo com direito à narração e torcida com tambor. E claro, as ativações da Globoplay, Netflix, Prime Video, Apple+, HBO Max e várias outras empresas de streaming, que competiam entre si pela atenção do público. Verdadeiras atrações de um parque da Disney.  

Um espacinho dedicado a uma série da TV Cultura que marcou demais a minha infância: “Castelo Ra-Tim-Bum”. Foto: Joana Benigno

Foi muito emocionante ver, em meio a títulos tão gigantescos como “The Boys”, “Star Trek”, Zach Snyder, “Barbie”, Marvel e Disney, um espacinho para uma série de TV Cultura que marcou demais a minha infância. Na réplica da entrada icônica do “Castelo Ra-Tim-Bum”, havia um enorme Mau por cima do cenário. Por dentro, um pequeno museu com os fantoches originais do Mau, Godofredo e o boneco de stop-motion do Ratinho. Tirar fotos com a Celeste e com o Ratinho era um must. Mas a amiga Maria Julia me contou que nem sempre as produções nacionais deram muito valor para esse evento.

– Antes era mais coisa gringa. Só  depois de algumas edições a CCXP ficou mais variada, incluindo produções nacionais – afirmou Maria Júlia.

O Palco Thunder é o mais importante de todos, e nessa edição tivemos a presença de Xuxa, o elenco de "Ritmo de Natal", Sandy com o elenco de "Evidências do Amor”, Maurício de Sousa, Selton Mello, Matheus Nachtergaele e Taís Araújo representando a sequência de "O Auto da Compadecida" e o elenco dos "Mamonas Assassinas”.  A presença de Rafael Grampá, ilustrador brasileiro dos quadrinhos de Batman, foi marcante. Além disso, o Globoplay ocupou um imenso quarteirão do São Paulo Expo. Tudo isso foi fruto de anos da popularidade crescente da CCXP. Para mim, foi muito bom ver nossas obras e artistas nacionais recebendo a devida atenção, lado a lado de obras e artistas estrangeiros. 

Infelizmente, ficou muito difícil assistir a qualquer painel devido à popularidade da CCPX. Os fãs  mais dedicados dormem na fila de um dia para o outro para ficar o dia seguinte inteiro sentados na plateia para assistir a uma única atração de maior interesse. Eles guardam o lugar, impedindo que outras pessoas assistam aos demais convidados.

Minhas atrações preferidas de qualquer convenção de fãs são a Artists' Alley e os cosplayers. Artistas independentes colocam barraquinhas e suas artes numa verdadeira feira de talentos.  Os produtos desses artistas são na maioria das vezes superiores aos oficiais: artes de fãs, broches, bottons, adesivos, cadernos. Cada coisa mais linda que a outra. Se me deixarem solta lá dentro, eu gasto todo meu dinheiro num piscar de olhos.

 Fiquei muito feliz em rever Cecília Ramos, a Cartumante, uma carioca talentosíssima com um estilo de desenho bem humorado. Ela vende camisetas, canecas, bolsas, prints e livros de tirinhas com frases como "Viva como se você fosse morrer, porque você vai" e outras originalidades da artista.  Reconheci de longe o trabalho de Hugo Canuto, suas ilustrações de orixás em estilo de quadrinhos de super heróis americanos que ficaram muito populares e se tornaram dois volumes encadernados. Ele estava emocionado, mas um pouco preocupado com  o estoque que já estava acabando. 

Os quatro dias de evento não foram moleza. Como eu disse, meus companheiros de viagem eram três cosplayers, pessoas que se fantasiam de personagens por diversão. E o que  o cosplayer mais gosta de fazer? Andar, exibir sua fantasia e tirar foto, é claro. E lá fui eu, no primeiro dia, atrás do Punho de Ferro e do Dr. Octopus da Marvel com seus quatro tentáculos mecânicos que pesavam 15 quilos. No segundo, caminhei ao lado de Crowley e Aziraphale de “Belas Maldições” e Demolidor da Marvel. No terceiro dia, acompanhei Winnie Sanderson de “Hocus Pocus”, Ellie e Joel de “The Last Of Us”. E no último, Leia, Luke e Din do universo “Star Wars”. E isso foram só as fantasias que meus amigos usaram. 

Vi cosplayers de todas as idades, cores e formas, idosos e crianças, pretos, brancos, asiáticos, gordos, magros, de cadeira de rodas e muletas. Foto: Joana Perci

Vi cosplayers de todas as idades, cores e formas, idosos e crianças, pretos, brancos, asiáticos, gordos, magros, de cadeira de rodas e muletas. Dos mais simples aos mais complexos,  dos personagens mais antigos aos mais novos, dos mais obscuros aos mais populares. De video game, filme, série, anime, desenho, tokusatsu. Tinha gente fantasiada até de quem nem era personagem: um Prince, um Michael Jackson, uma Lady Gaga. Muitas drag queens. O único lugar do mundo que deu pra ver uma “paquita” da Xuxa dançando Ilariê com o Naruto. Senti respeito e carinho muito grande por todos, independentemente de habilidade e corpo. Não há nada igual à intimidade instantânea e momentânea de duas cosplayers que nunca se viram na vida e que estão vestidas de personagens complementares. 

Para mim, essa é a alma verdadeira desse tipo de evento, os fãs. Por mais que seja impressionante ver as construções que as marcas conseguem produzir, por mais incrível que seja ver astros de filme e TV de perto, nada supera o entusiasmo das pessoas que estão ali reunidas para celebrar as obras que mais gostam. E a equipe da CCXP também reconhece isso, pois oferece, sem custo extra, o espaço Universo Cosplay, com guarda volumes, banheiro e camarim exclusivos para os cosplayers. 

Foi exaustivo e eu não recomendo ir de primeira com um passe de quatro dias (R$ 740, meia entrada). O ritmo é intenso, acordar cedo para não perder nada, andar por cerca de dez horas, voltar tarde, dormir e repetir. A comida dentro do evento é variada, Domino's, China In Box, Cup Noodles, Spoleto e até o Outback, mas é cara.  No entanto, na volta,  quando estávamos dentro do carro carregado de malas das fantasias,  Maria Júlia abriu o celular e disse: 

–Lena, já confirmaram as datas do ano que vem.

 Helena respondeu imediatamente:

–Vou marcar minhas férias assim que chegar em casa.

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