Interatividade, o grande desafio da comunicação estratégica
11/07/2016 17:05
Lucas Paes

Jornalistas reunidos em seminário na PUC-Rio discutem os impactos das mídias digitais sobre a postura de empresas e veículos de informação

Foto: Gabriel Molon

As empresas e os meios de comunicação estão pouco preparados para a realidade de interação criada pelas mídias digitais. Essa é a análise do jornalista e gerente de comunicação da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) Roberto Falcão, que esteve no Seminário Olimpíadas 3.0, realizado na PUC-Rio no dia 28 de junho. As redes sociais são os grandes instrumentos para impulsionar os conteúdos estratégicos e estabelecer contato direto com o público. Prova disso foram os vídeos da Copa América Centenário, disponibilizados pelo canal SporTV, que atingiram mais de 35 milhões de visualizações em apenas 13 dias. No entanto, saber usar esse potencial das mídias sociais ainda é um desafio a ser superado. Falcão ressaltou, por exemplo, “a baixa frequência com que páginas institucionais interagem com seus seguidores, que são também consumidores das marcas”.

– A interação é o ponto primordial para a comunicação estratégica no ambiente digital. Uma das vantagens que isso pode proporcionar é o aproveitamento das informações que outros atores geram sobre as nossas empresas. Não somos os únicos a produzir conteúdos sobre nós mesmos, e precisamos aproveitar as diferentes vias de interatividade que existem, seja diretamente com os consumidores ou com os demais produtores – avaliou Falcão.

Eduardo Mansell, também jornalista e convidado do encontro organizado pelos professores do Departamento de Comunicação Alexandre Carauta e Luiz Léo, fez coro ao discurso de Falcão. Para ele, as mídias sociais puseram dentro das mesmas comunidades as empresas e seus consumidores. Com isso, os comportamentos estratégicos precisam ser adaptados, visando a construção de uma imagem corporativa e a conquista da atenção do público.

Uma das exceções no aproveitamento da interatividade é a comunicação em rádio. O jornalista Álvaro Oliveira Filho, comentarista esportivo da CBN, destacou o histórico de contato direto entre locutores e ouvintes durante as transmissões:

– A interação está na essência de quem trabalha com rádio desde os primórdios das transmissões. Os apresentadores sempre conversaram com o público, e essa relação só se aperfeiçoou com o passar do tempo. Recentemente, o WhatsApp fortaleceu a interatividade, permitindo aos ouvintes, inclusive, fornecer informações às emissores e participar diretamente da escolha de pauta.

Marina Izidro e Roberto Falcão. Foto: Gabriel Molon

Da mesma forma, a repórter do SporTV Marina Izidro mencionou iniciativas que estimulam a participação do público em programas de televisão. Algumas dessas ações são a leitura ao vivo de mensagens dos telespectadores e a promoção de enquetes realizadas nas redes sociais. Segundo a jornalista, contudo, por mais que a interatividade seja um desfio para os produtos audiovisuais, “é preciso vê-la com parcimônia”:

– Há formatos de programas em que a interação com o público não se encaixa. Nos telejornais de hard news, por exemplo, não podemos interromper a transmissão das notícias para lermos opiniões e comentários de quem nos assiste – opinou.

Mudanças na cobertura esportiva

Além do desafio da interatividade, as mídias digitais também promoveram transformações na cobertura esportiva. No último dia 19 de junho, o SporTV, pela primeira vez, deu uma notícia por meio das redes sociais antes de veiculá-la na televisão. O repórter Guido Nunes encontrou com o técnico Cristóvão Borges no aeroporto Santos Dumont e o entrevistou em uma transmissão ao vivo pelo Facebook (veja o vídeo completo). Guido descobriu que o treinador estava a caminho de São Paulo e quis descobrir se Cristóvão assumiria o comando do Corinthians. Por mais que a confirmação não tenha vindo na entrevista, o furo dado pelo repórter pautou o restante das transmissões da emissora naquele dia.

A atitude de Guido Nunes está de acordo com a necessidade que Eduardo Mansell frisou de encaixar conteúdos da TV, do rádio e dos veículos impressos nas mídias digitais, pensando sempre no que pode ser agregado e também no retorno potencializado do público. Roberto Falcão complementou o pensamento, dizendo que é preciso “pensar o esporte fora do esporte”, levando em consideração a dimensão dele como veículo de inclusão social, saúde, educação e negócios.

Por outro lado, Álvaro Oliveira Filho realçou o aumento da concorrência trazida para os veículos de comunicação mais tradicionais:

– O avanço digital alcançou um estágio em que os próprios clubes de futebol, vôlei e outros esportes dispõem de mídias próprias. Os sites, as páginas em redes sociais e os canais na internet que atendem a interesses institucionais têm prioridade no acesso a informações das equipes e constantemente apresentam informações desconhecidas dos demais jornalistas. É difícil competir com eles – avaliou.

Foto: Gabriel Molon

Oportunidades para os universitários

Ainda ao falar sobre as mudanças geradas pelas mídias digitais, Mansell trouxe à tona as vantagens para os jovens. De acordo com ele, o domínio de ferramentas tecnológicas pode levar visibilidade aos universitários e atrair a atenção das empresas:

– Antigamente, processos seletivos eram feitos e os interessados deveriam se candidatar às vagas. Agora, é possível que as próprias instituições busquem jovens que se destacam nas plataformas digitais. As carreiras, portanto, podem ser iniciadas também de fora para dentro, complementando as transformações geradas pelo desenvolvimento das mídias. 

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