Homenageado com nome de estação de BRT, ex-professor da PUC-Rio abriu as portas para computação brasileira
04/10/2016 11:59
Ana Clara Silva

Ao embarcar na largada do primeiro computador nacional, nos anos 1970, Luiz Guarabys Rego irrigou o terreno para a informatização do país

Luiz Felipe Guanaez. Foto: Arquivo pessoal

Pioneiro da computação nacional, o ex-diretor de Eletrônica da Marinha José Luiz Guaranys Rego batizou recentemente uma estação do BRT carioca, em Jacarepaguá. Há 40 anos, já havia batizado um dos primeiros computadores fabricados no Brasil, o G 10 (a letra refere-se ao sobrenome), e a rua, também naquele bairro, que abrigava a Cobra, uma das precursoras da informatização verde-amarela. Comandante Guanarys, como era conhecido, morreu aos 36 anos, por complicações cardíacas, em 1973, um ano antes da inauguração da empresa que ajudara. Ainda assim, já havia irrigado o terreno no qual floresceria, na virada do século, a indústria digital.

Parte da efervescência digital contemporânea – estampada, por exemplo, no recorde de quase 50 milhões interações em redes sociais durante os Jogos Olímpicos – deve-se ao pioneirismo reconhecido pelos colegas de Marinha e de pesquisa. Alguns chegavam a qualificá-lo de visionário. Para o filho Luiz Felipe Guanaes, “era um homem dedicado ao trabalho e com uma visão voltada para o futuro”. Embora tivesse só 11 anos quando o pai morreu, Luiz Felipe herdou o fervor acadêmico, embora direcionado a outra área: ele é o diretor do Núcleo Interdisciplinar do Meio Ambiente da PUC-Rio.

Outro ponto comum revela-se o tino empreendedor. Em Luiz Felipe, manifesta-se na coordenação de iniciativas como a coleta seletiva na Universidade. Em José Luiz, confundiu-se com os primeiros passos da computação no Brasil. Desde meados dos anos 1960, ele costurou esta largada, tanto na Marinha quanto nas pesquisas acadêmicas. Mérito reconhecido não com os batismos do computador pioneiro, do logradouro público e, recentemente, da estação de BRT, mas da sala que hospedava, em Brasília, a Comissão de Informática, germe da extinta Secretaria de Informática.

No fim da década de 1960 Guaranys voltava ao Brasil depois de ter cursado, por alguns anos, doutorado em eletrônica nos Estados Unidos. A qualificação coincidia com um projeto ainda embrionário da Marinha brasileira para o desenvolvimento de um computador nacional. O engenheiro formado pela própria Marinha não tardou em embarcar na empreitada. A ideia, ambiciosa, era tornar o Brasil o primeiro “país tecnológico” da América Latina.

O comandante supervisionou a criação do software do computador nacional, tarefa designada a professores e alunos do Departamento de Engenharia Elétrica da PUC-Rio. O abraço na inovação desdobrou-se num processo longo, complexo, apesar de a universidade ter sido a primeira do país a acolher um computador e contar com uma das melhores estruturas na área. Os desafios e o custo alto exigiam dedicação integral dos envolvidos.

Em 1973, quando o projeto já havia deslanchado, foi criada a Eletrônica Digital Brasileira (EDB), que se transformaria em Digibrás, holding em torno da qual se recrutaram os recursos também do exterior. Adubava-se o terreno para a empresa que ajudaria a impulsionar a computação nacional: Computadores e Sistemas Brasileiros (Cobra). Embora tenha morrido um ano antes da inauguração, Guaranys foi um dos profissionais decisivos para concebê-la e materializá-la.

A morte prematura não diminuiu a importância de Guaranys para a arrancada da computação brasileira. O legado refletiu-se, por exemplo, no G11, considerado um marco na gestação de computadores totalmente brasileiros. Reflete-se também, e de maneira não menos importante, na memória afetiva dos colegas de Marinha e de PUC-Rio que conviveram com o comandante visionário.

Mais Recentes
Fantástico universo dos animes
Influenciados pelos mangás, os desenhos animados japoneses conquistam fãs no Brasil e no mundo  
Reitor da PUC-Rio visita MPRJ
Padre Josafá se encontra com procurador-geral do Ministério Público do Rio de Janeiro, Eduardo Gussem
Vozes pela educação
Passeata no Centro do Rio reúne cariocas de diversas idades contra a redução de verbas para o ensino público