Homenagem a Silviano Santiago
10/10/2017 12:23
Lucas França

Vida e obra do escritor foram relembrados em encontro na Universidade

O escritor Silviano Santiago foi homenageado durante encontro organizado pelo Departamento de Letras e pelo Decanato do Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH) nesta segunda-feira, 9, no Auditório Padre José de Anchieta. Ao longo do dia, mesas de debate discutiram a vida e as obras escritas pelo romancista. Professor mineiro de 81 anos, Santiago recebeu diversos prêmios literários, entre eles o Jabuti e o Prêmio Machado de Assis. Erradicado nos Estados Unidos, Silviano deu aula em Universidades americanas até 1969. A partir dos anos 1970, ele veio para a PUC-Rio.

A abertura do encontro ocorreu pela manhã, com o Decano do CTCH, professor Júlio Diniz, e o diretor do Departamento de Letras, professor Alexandre Mountaury. Eles relembraram os anos em que Santiago ensinou na Universidade. Para Alexandre Mountaury, a homenagem é também um registro do valor dos textos do escritor.

— Silviano foi presente nos projetos de pesquisa e nas áreas de ensino e extensão. Seus textos descortinaram modos de olhar e têm oferecido permanente sustentação teórica para muitas atividades desenvolvidas por nós.

Diretor do Departamento de Letras, Alexandre Mountaury enalteceu Silviano Santiago e falou sobre a importância do autor para a PUC-Rio Foto: Isabella Lacerda

Segundo Júlio Diniz, Silviano Santiago foi umas das pessoas que ajudou na fundação e no crescimento dos programas de pós-graduação do CTCH. O professor mineiro é lido não só em Letras, mas em Filosofia, Ciências Sociais, História e as Artes em geral, como disse Diniz. O Decano destacou ainda que, acima de romancista e poeta, Silviano era um provocador.

— Santiago não pensou só a vida cultural brasileira, mas a política também. Ele trouxe questionamentos, interrogações e um olhar cosmopolita das nossas relações, tanto aqui quanto na Universidade Federal Fluminense.

Cultura e política brasileira na obra de Santiago foram temas abordados na fala do Decano Júlio Diniz Foto: Isabella Lacerda

A primeira mesa de debate abordou as obras literárias e as características dos textos de Silviano. Ela foi composta pela professora Eneida Maria de Souza, da Universidade Federal de Minas Gerais, pelos professores do Departamento de Letras da PUC-Rio Frederico Coelho e Renato Cordeiro Gomes, e com mediação do professor Miguel Jost, também do Departamento de Letras.

Eneida Maria, que foi orientada por Santiago quando fez mestrado na PUC-Rio, em 1972, comentou sobre a riqueza de detalhes existente na escrita do romancista. Ela analisou o romance Machado, de 2016, uma obra biográfica de dez capítulos que explora os últimos anos de Machado de Assis. Para ela, o texto de Silviano é fluido e acessível para todo tipo de leitor, seja ele crítico literário, historiador ou leitor comum.

- O narrador do livro articula vida e obra de Machado com muitos detalhes, visita lugares comuns do escritor brasileiro e expõem imagens do universo do protagonista, como reproduções jornalísticas, anúncios e receituários de homeopatia. A Rio de Janeiro também é descrito no livro, com a arquitetura e o embate político entre Monarquia, República e abolição dos escravos.

Miguel Jost (PUC-Rio), Eneida Maria (UFMG), Frederico Coelho (PUC-Rio) e Renato Cordeiro (PUC-Rio) participaram da mesa de debate sobre as obras de Silviano Santiago Foto: Isabella Lacerda

Outras obras analisadas na mesa foram o livro de poemas Saltos (1970), a coletânea de contos O Banquete (1970) e Stella Manhattan, romance originalmente publicado em 1985, mas reeditado neste ano pela Companhia de Letras. O livro é considerado o primeiro a mostrar o universo trans em uma história de ficção. O professor Frederico Gomes expôs características de cada texto. Ele comentou sobre o período de estadia de Silviano nos EUA, que inspirou a escrita de Stella Manhattan, e a atualidade do livro para as discussões políticas, sociais e culturais no Brasil.

— Em dias cuja ideia pública sobre os corpos e a arte regride para o controle e demonização, Silviano pode novamente apresentar uma obra e vida que saltam sobre o abismo Brasil.

Para o professor Renato Cordeiro, Silviano estabelece relações entre os textos dele, a vida acadêmica e outros autores, “uma espécie de hipertexto”, conforme nomeou Cordeiro. Ele analisou a obra O Cosmopolitismo do Pobre, de 2004, que aborda temas como a identidade do brasileiro, a relação com a cultura e como Santiago entende a maneira que o cidadão se porta na sociedade, ideia central do conceito de cosmopolitismo. O professor disse que é possível identificar nos textos de Santiago os assuntos que o movem e que o escritor nos ensina a aproveitarmos a literatura completamente

— Antes do cosmopolitismo ser um tema, ele representa uma atitude que condicionava a formação de Silviano desde o tempo de jovem em Minas Gerais. Silviano nos passa o método de que a tradição da literatura ocidental é feita para que a usássemos da maneira que quisermos.

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