Imagine isto: um mundo sem guerras
25/11/2017 18:19
Pedro Madeira

Júlia Baird, irmã de Lennon, trouxe de Liverpool muita história e interpretação. Tudo com muito humor  

Descontraída, Julia não usou meias palavras ao falar da história do irmão e da família (Foto: Fernanda Maia)
 

Julia ficou presa em Copacabana e começou a conversa se desculpando pelo atraso - disse ter ficado assustada com o trânsito no Rio. Logo quebrou o gelo com uma piada sobre o preço do livro que escreveu: Imagine: crescendo com meu irmão John Lennon. Júlia Baird é a filha do meio das três de Julia Stanley, mãe de John. Nasceu no dia 5 de março de 1947, sete anos após o futuro Beatle, e, assim como a juventude europeia da época, era filha da guerra. Este é o ponto de partida de Julia na conversa promovida pela Coordenação Central de Extensão (CCE) que organiza o curso Beatles: História, arte e legado, na terça-feira, 14, no Auditório Padre José de Anchieta.

Liverpool, cidade da Inglaterra onde John Lennon cresceu, estava sendo bombardeada na época de seu nascimento. Por isto, lembrou a irmã do compositor, ele viveu a infância sob forte vigilância, medo e racionamento, o que viria marcar a história e a arte do artista.

- John nasceu durante a guerra, em Liverpool, que na época era uma cidade estratégica. Na sua tenra idade, John Lennon lidava com bombardeios toda noite: boom, boom! -  afirmou a eloquente Julia, em pé atrás da bancada.

Liverpool era um centro importante na produção de navios de combate. As famílias da comunidade britânica viveram em estado de exceção, durante e no pós-guerra. Julia lembra que, até os 15 anos, o irmão vivenciou um racionamento estrito.

- Eram 60 gramas de manteiga por pessoa, por semana. Para uma criança comer um chocolate, era exigido assinatura de termo dos pais. Era por isso que nós não éramos gordos – comentou com uma ironia tipicamente inglesa.

Mesmo falando sobre guerra, Julia manteve o humor durante toda a conversa (Foto: Fernanda Maia)

Segundo Julia, por causa desse contexto de insegurança, os adultos impuseram limites à liberdade dos jovens, e, em tempos de guerra, a paranoia dos adultos não deixava brechas para a juventude.

- Nada do que os mais velhos nos falavam era agradável. Nós escutávamos sobre guerra, mortes e depravação, até o Elvis chegar.

Desde a entrada de Julia no auditório, ficou difícil acreditar na semelhança com irmão: o longo nariz e a feição indolente vinham da mesma forma de Lennon. Julia se divide entre as palestras, a vida acadêmica e a empresarial. É socióloga em educação escolar e fez mestrado em filosofia na França, quando participou de protestos contra guerra do Vietnam ao lado de Simone de Beauvoir.

- Na verdade, eu até que sou uma acadêmica séria. Estudei sociologia da educação e fiz mestrado em filosofia. Mas o que mais me dá prazer é beber no Cavern Club- disse Julia, que é uma das donas do Cavern, o clube que alçou os Beatles para o grande público britânico.

O rock’n roll tinha atitudes novas e linguagem própria, não somente na estética musical, mas no estilo de vida, e John Lennon, com os Beatles, virou ator e testemunha desta gênese.

- Depois do Elvis, vieram os Beatles e, pela primeira vez na história, os adolescentes tinham uma identidade própria. De repente nasceu um grupo de pessoas que tinham um lugar, que tinham uma mente e estavam aptos a falar por si próprios. Os Beatles eram uma das frentes que empurraram a juventude para a evidência - assinalou

John Lennon foi um poeta da paz. Entre as composições de verve pacifista estão Give peace a chance e a clássica Imagine. Nos anos 70, Lennon viveu uma década engajado com desarmamento e o fim da guerra do Vietnam.

- Quando John escreveu Imagine, ele lembrava dos tempos de guerra vividos e pedia, nas letras, para não impor a outras gerações ao que ele tinha sofrido nos anos em Liverpool.  

Ao final, o público fez perguntas pertinentes à história de Lennon e dos Beatles, mas ficou evidente que Julia estava ali para perpetuar a mensagem do irmão. Quando perguntada sobre o legado do artista, ela foi segura.

- Não façam guerra.

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