Organizado pela Associação Latino-Americana de Literatura e Teologia (Alalite), Congresso Internacional reúne pesquisadores de diversos países para discutir pontos comuns presentes na literatura e na teologia

As relações entre a mística e a poesia são o foco do VII Congresso Internacional de Literatura e Teologia, que começou na terça-feira, 25, no auditório do RDC. Na abertura, estavam presentes o Reitor da PUC-Rio, padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J., o Decano do CTCH, professor Júlio Diniz, a professora Maria Clara Bingemer, do Departamento de Teologia e presidente da Associação Latino Americana de Literatura e Teologia (ALALITE), e o diretor do Departamento de Teologia, professor padre Waldecir Gonzaga.

O Reitor ressaltou a importância de trazer à tona a racionalidade de valores para o momento de tensão que os brasileiros enfrentam no cenário atual. Para ele, a importância do encontro se dá pelo fato de que interligar a teologia com a mística é fundamental para compor os princípios éticos do mundo moderno. Gonzaga afirmou que o encontro é essencial para estabelecer uma ponte entre a misericórdia que o cristão do século XXI precisa ter e a mística teológica.

Falar sobre pesquisa e cultura é considerado um ato de resistência para o professor Júlio Diniz, que lembrou a recente perda do acervo do Museu Nacional após o incêndio. Para ele, o diálogo entre o divino e o humano deve ser incentivado. Ainda na abertura, o músico Danilo Caymmi, filho de Dorival Caymmi, apresentou algumas obras de autoria do pai, para ilustrar a correlação entre espiritualidade e arte, tema principal do encontro.

A videoconferência inaugural foi ministrada pelo Vice-Reitor da Universidade Católica Portuguesa (UCP-Lisboa), Dom José Tolentino Mendonça. O professor, que é arquivista e bibliotecário da Santa Sé, abordou o modo como a teoliterária reflete o papel do leitor por meio do conceito de nudez original e a condição humana na literatura bíblica. Para ele, o sentido do nu é, em última análise, o desejo do silêncio.

Tolentino explicou a diferença entra a nudez vista como desobediência e obediência no Evangelho. Para o professor, ela pode ser associada a transgressão, como é apresentada na passagem sobre Adão e Eva, e também pode ser associada a inocência, como na crucificação de Cristo, que tem suas vestes despidas.

— Podemos estabelecer um paralelo entre a experiência mística e a experiência literária. Tal como a experiência mística, esta última é um aprendizado da nudez. A poesia e o romance, no fundo, nos ensinam a nudez fundamental, que nos leva para além da própria palavra. O poeta não quer escrever o poema, ele quer ser o poema.

No primeiro painel do Congresso, a professora Lucía Puppo, da Universidade Católica de Buenos Aires, palestrou sobre a poesia e o mistério nas obras da poeta cubana Dulce María Loynaz. Ela definiu a escritora como uma das maiores vozes femininas da lírica cubana.

O professor Luís Gustavo Meléndez, da Universidade Iberoamericana da Cidade do México, discutiu sobre os elementos místicos da poesia contemporânea. Ele apresentou três traços que compõem esses elementos: a linguagem, o erotismo e o amor. Meléndez também pontuou o contraste entre a necessidade de falar e o problema para encontrar as palavras certas que expressem determinado sentimento.

— Essa convergência entre a poesia e a mística, no limite último da linguagem, acontece necessariamente graças à substancialidade das palavras. A percepção sensorial da palavra faz os poetas e místicos falarem sobre a comunhão da carne.

Por videoconferência, o professor Peter Casarella, da Universidade de Notre Dame – EUA, abordou sobre a teopoética latina nos Estados Unidos e além do contexto norte-americano. Ele frisou a importância de transmitir a tradição latino-americana para a América do Norte.

O Congresso, promovido pela Alalite, teve início no dia 25 e prossegue até o dia 27 de setembro, no auditório RDC da PUC-Rio. A programação conta com a participação de inúmeros pesquisadores do Brasil, América Latina, Estados Unidos e Europa, e tem como objetivo promover um intercâmbio entre religiosidade, fé, arte e cultura.