Cidade das Crianças celebra dia Nacional do Atleta Paralímpico
24/10/2019 16:47
Paula Veiga

Encontro reúne crianças com paralisia cerebral e Síndrome de Down

Vila Olímpica Cidade das Crianças, em Santa Cruz. Foto: Paula Veiga

Ao entrar em um teatro que não suporta além de 500 pessoas, os espectadores se deparavam com o coro da Escola Especial Municipal Doutor Hélio Pellegrino, durante a performance da música Enquanto Houver Sol. O lema “A inclusão acontece quando se aprende com as diferenças e não com as igualdades” ilustrava o palco da Vila Olímpica Cidade das Crianças, construído em um trabalho conjunto de professores e alunos da unidade.

A data 22 de setembro marca o dia Nacional do Atleta Paralímpico no Brasil. Das 25 vilas no Rio de Janeiro, o administrador da Cidade das Crianças, Arlindo Braz, suspeita que esta seja a única a celebrar a ocasião. O encontro comemorou também o dia da árvore, 20 de setembro. Segundo Braz, o espaço estava com a lotação máxima - 500 crianças presentes, 80 são cadeirantes. A vila olímpica se responsabiliza pelos os alunos da Escola Municipal Ricardo Beltrano, que também estavam no encontro. Com 186 mil metros quadrados, a Cidade das Crianças é a única vila olímpica com acessibilidade. 

O centro em Santa Cruz recebe crianças de diversos bairros da Zona Oeste. De acordo com Braz, a Cidade das Crianças é o maior parque da América Latina, é maior que a Quinta da Boa Vista. No parque há rampas para cadeirantes entrarem na água, além de boias e a orientação de professores especializados. 

- Utilizamos o Ônibus da Liberdade, que é especializado para trazer as crianças com maiores necessidades, os cadeirantes. É tudo com muita dificuldade, a situação do município e do estado não está legal. Isso aqui não custou um centavo, todos foram convidados, 90% das escolas participantes vieram por meio próprio, ônibus, carro, Kombi e van. É muito difícil, mas você tira a criança da rua. 

As crianças da Escola Especial Municipal Doutor Hélio Pellegrino foram convidadas do encontro. Foto: Paula Veiga

De acordo com o Comitê Paralímpico Brasileiro, a ocasião só começou a ser celebrada em 2014, com a instituição do decreto de lei nº12.622, de 8 de maio de 2012. No dia 22 também é comemorada a fundação do Comitê Paralímpico Internacional.

Braz contou que a Vila Olímpica também tem um bosque porque há preocupação com o reflorestamento e a ecologia. O administrador afirmou que 500 mudas foram plantadas e, a partir de outubro, copos plásticos não serão usados dentro parque. 

- Se cada um fizer sua parte, o sistema vai melhorar. A partir de outubro cada um traz a sua caneca de casa. A não ser que venha uma visita, no dia-a-dia não haverá mais copos e canudos plásticos. A gente ajuda como pode.

Paulo Cabral é o técnico da Seleção Brasileira de Futebol PC. Foto: Paula Veiga

O técnico Paulo Cabral, da Seleção Brasileira de Futebol PC - para paralisados cerebrais -, foi um dos convidados especiais. O time liderado pelo profissional de educação física já conquistou títulos como o bronze nos Jogos Paralímpicos Rio 2016, bronze no Mundial da modalidade em 2019, na Espanha, e ouro no último Parapan-Americano. Cabral comentou que o encontro é importante porque é o primeiro contato de uma criança especial com um atleta especial de alto nível. 

- No esporte paralímpico não existem limites, espero que sempre acreditem no potencial e na vontade de vocês. Mesmo que não consigam ser atletas de alto nível, o esporte prepara vocês para a vida. É isso que eu quero que vocês carreguem - a insistência e a determinação.

O professor Valdemir Santos, da vila olímpica, descreveu o encontro como uma oportunidade de as crianças se espelharem em profissionais como o técnico Paulo Cabral. O educador disse que o trabalho, realizado no dia 20, foi também para mostrar como as pessoas podem ser bons cidadãos, mesmo que não se tornem atletas de alto nível. Segundo Santos, há gente que reclama da vida sem perceber a superação dos paralímpicos que o professor define como “verdadeiros heróis nacionais e mundiais”.

Outra participação especial foi a do grupo de capoeira Centro Cultural Terra Brasil. O líder, Leandro Corrêa, é o professor mais graduado da equipe, com faixa roxa e marrom. Corrêa contou que houve a demanda de um novo público e ele buscou trabalhar com a inclusão, igualdade de condições e pelo acesso de todos. O professor explicou que o grupo adapta os exercícios e movimentos de acordo com a necessidade de cada aluno, como, por exemplo, para integrantes do centro cultural que são crianças com Síndrome de Down.

- A capoeira é uma atividade lúdica que tem várias ferramentas para trabalharmos com todos os públicos. Chegamos com o berimbau e cantamos músicas de capoeira adaptadas com temas sobre educação, inclusão, natureza e de cunho social. Com ou sem deficiência, todos treinam juntos, aprendendo os mesmos métodos.

O Centro Cultural Terra Brasil se apresentou na homenagem. Foto: Paula Veiga

De acordo com Corrêa, Janderson dos Santos é o primeiro professor com necessidades especiais formado pelo grupo. Conhecido como “Professor Camaleão”, o atleta contou que pratica o esporte desde pequeno, passou pela aprendizagem de técnicas da modalidade como a queixada, ginga e o martelo.  

O funcionamento do complexo é de terça a sexta-feira, com aulas, e sábados, domingos e feriados com um trabalho voltado para a comunidade. Banho de piscina, das 8h às 17h, jogo de bola e skate são algumas das atividades que o público pode escolher nos dias sem programação.

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