Combate à desinformação
23/11/2023 12:41
Carolina Bottino

Professores da PUC-Rio se juntam para debater a responsabilidade dentro do ambiente digital em encontro interdisciplinar

Para discutir a desinformação, o cancelamento e os limites do mundo virtual, os Departamentos de Comunicação, Direito e Psicologia se uniram para uma semana de palestras com o tema “Responsabilidade em Foco”. Entre os dias 6 e 10 de novembro, professores, jornalistas, advogados e psicólogos debateram os reflexos da vida digital em suas áreas de atuação, além de refletirem sobre as fronteiras do universo on-line.

Durante a abertura das mesas, o Vice-Reitor Geral, Padre André Luís de Araújo, S.J., destacou a importância da comunicação para o desenvolvimento da capacidade de resposta. Ele reforçou a importância de se conversar sobre esses temas.

O Padre André Luís de Araújo, S.J., Vice-Reitor Geral, discutiu a necessidade de abordar questões como a desinformação no ambiente universitário. Foto: Mateus Monte

Com a mediação do professor Luiz Leo, do Departamento de Comunicação,  a desinformação e fake news foram tema da conversa entre os professores Leonel Aguiar, Chico Otávio e Marcelo Alves, também da Comunicação. Luiz Leo refletiu sobre o processo histórico da disseminação de notícias falsas, evidenciando que o fenômeno não é atual, tendo sofrido modificações e se intensificado no contexto digital. Para ele, o mais importante é avaliar a dimensão desses casos no presente.

– A desinformação perpassa gerações e está presente de diversas maneiras no nosso cotidiano. Essa proporção no contexto digital é muito mais relevante hoje que no passado, mesmo que as mentiras venham sendo repassadas há centenas de anos. Atualmente, existem as agências de checagem de fatos que tornam esse processo mais eficiente, mas é extremamente importante se posicionar sobre essas questões, pois esses fenômenos vão além dos muros da Universidade.

Os professores Leonel Aguiar, Chico Otávio e Marcelo Alves refletiram sobre o processo de reconhecimento das notícias falsas e as medidas para combatê-las. Para Leonel, que lidera um Grupo de Pesquisa sobre as Teorias do Jornalismo, é preciso denunciar as mentiras e combater a desinformação. Já na visão de Chico Otávio, a maneira de combater a desinformação é pela educação.

– Não adianta combater fake news com processos e julgamentos, acredito que a melhor forma de enfrentá-las é blindar a cabeça das pessoas. A maneira de fazer isso é começando pela escola, especialmente na rede pública, onde se tem um alcance maior, mostrando o perigo dessa disseminação e que cuidados as pessoas devem ter, desde jovens, para não cair nessas notícias falsas – revelou o jornalista.

Para o professor Marcelo, é preciso analisar quem deve ser responsabilizado pela disseminação de mentiras. Segundo sua avaliação, o movimento de elaboração de notícias falsas se intensificou nos últimos quatro anos, se transformando em um dos negócios mais lucrativos, principalmente no ambiente digital.

Inovações da LGPD

As professoras Caitlin Mulholland e Mariana Palmeira, dos Departamentos de Direito e Comunicação conversaram com Isabella Frajhof, do Instituto ECOA, sobre a importância e o papel da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) para a segurança dos usuários.

Isabella Frajhof e as professoras Caitlin Mulholland e Mariana Palmeira discutiram as diretrizes da LGPD e a aplicação das leis no ambiente digital. Foto: Mateus Monte

A LGPD foi aprovada em 2018 com o objetivo de proteger os dados pessoais dos cidadãos, sejam eles fornecidos de maneira digital ou não. As convidadas avaliaram que, para determinadas atividades, não há a necessidade de compartilhar certos dados, pois não têm relevância para determinadas finalidades. Entretanto, é dever do consumidor analisar o que pode ser informado e quais informações podem ser resguardadas, além de entender que esses dados possuem uma tutela.

– É um desafio resolver a questão da inteligência artificial e a proteção dos dados pessoais. Uma boa prática seria as plataformas colocarem uma marca d 'água em imagens modificadas pela IA. Existem alguns aplicativos e pessoas especializadas que conseguem identificar, mas para público comum é muito difícil identificar essa modificação – afirmou Isabella Frajhof.

Internet e difamação de minorias políticas e sociais

Para discutir os limites do mundo digital, a doutoranda em Comunicação Inês Azevedo se juntou ao professor Florian Hoffmann, do Departamento de Direito, a fim de analisar a exclusão de determinadas parcelas da sociedade e os ataques que recebem.

A professora Elaine Vidal, do Departamento de Comunicação, considerou que, apesar de serem chamadas de minorias, as populações de grupos socialmente excluídos são maioria entre os brasileiros. No último censo, representando o ano de 2022, a parcela de cidadãos que se autodeclaram negros ou pardos é de 56% do total, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A professora Elaine Vidal, do Departamento de Comunicação, apresentou dados que mostram as disparidades sociais na realidade brasileira. Foto: Mateus Monte

Ela afirmou que, mesmo sendo mais da metade da população, por estarem em posições distintas em termos de oportunidades - sejam elas econômicas, educacionais ou de ascensão social - não fazem parte do grupo que majoritariamente possui posses e visa o lucro, e por isso não haveria uma preocupação com suas necessidades dentro das relações de poder. 

Cancelamento e sofrimento psicológico

A responsabilidade on-line dos usuários sobre o que publicam nas redes sociais foi um dos temas discutidos durante a semana de debates. Na quinta-feira, o Auditório B6 recebeu as professoras Luciana Pessoa e Maracy Alves, do Departamento de Psicologia, para conversar sobre os impactos das publicações na mente dos indivíduos envolvidos.

A psicóloga e psicopedagoga Patricia Magacho, que também atua na PUC-Rio, falou sobre a necessidade da população se responsabilizar e responder por suas ações, sejam elas no meio digital ou físico.

Patricia Magacho, Luciana Pessoa e Maracy Alves, do Departamento de Psicologia, destacaram as dificuldades que podem surgir ao lidar com os comentários nas redes sociais. Foto: Mateus Monte

– Responsabilidade é responder com habilidade. Existem algumas habilidades que podemos adquirir e desenvolvê-las, como a gentileza, discernimento, equilíbrio e autocontrole, e a partir delas, responder e incluí-las em nosso cotidiano. No momento em que se age com gentileza, pontes são criadas, e relações são estabelecidas.

Formas consensuais de resolução de conflitos e comunicação não violenta

Durante o último dia de palestras, professores do Departamento de Direito discutiram abordagens dialogais para a gestão de divergências. Gilberto Martins de Almeida e Samantha Pelajo, junto à mediadora Fernanda Pradal, ressaltaram a necessidade de negociação para a garantia dos direitos individuais.

– Estamos sempre pensando em quem tem razão e em punir quem está do outro lado. A mediação de conflitos sai desse lugar e passa a tentar compreender de que maneira pode-se alterar o que era considerado conflito até se estabelecer uma cooperação. A sociedade deve se conscientizar de que, se não houver espaços de comunicação e colaboração, não há possibilidade de encontrar um consenso - destacou o professor e advogado Gilberto Martins de Almeida.

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