Feiras culturais: espaço de música, artesanato e gastronomia na cidade
02/08/2016 12:02
Texto e fotos de Mariana Casagrande

Nas esquinas da cidade a cultura pulsa nas feiras culturais, onde moradores e visitantes podem conhecer as histórias do Rio e do país no período olímpico.

Feira da General Glicério

Nas Laranjeiras, Zona Sul do Rio, a feira livre aos sábados, na Rua General Glicério, oferece frutas e verduras orgânicas, doces, flores, artesanato, além de programação cultural: todos os sábados, às 13h, o grupo de chorinho Pixin-Bodega toca no local, num ambiente familiar que reúne casais, crianças e idosos do bairro e visitantes. Durante as Olimpíadas, há encontros nos dias 6 e 20 de agosto. No sábado 13, às 11h30, quem assume o centro da roda, sob a sombra das árvores, é a Orquestra Camerata. Tiago Cosme da Silva, violinista e fundador do grupo musical Camerata, comemorou no dia 9 a centésima apresentação da orquestra na “GG”, como a rua é conhecida pelos moradores do bairro. Tiago conta que os violinistas e violoncelistas levam a arte à rua com o objetivo de “criar espaços de encontros”, por isso também exibem as músicas na feira hippie, em Ipanema, no Parque Lage e na Favela da Maré:

Feira da General Glicério.


– Temos a filosofia de que música e arte não se limitam às paredes de museus e teatros. Somos orquestra sem fronteira, integramos jovens de várias áreas do Rio de todas as origens, ricos e pobres, com sentimento comum de amor pela música – contou o fundador do grupo, que afirmou buscar, para as apresentações, lugares onde a música clássica quase não chega: – Para atraí-los, temos repertório diferenciado, com pop, bossa nova, lambada, além da música clássica.

O violinista acredita que “a rua tem alma”, por isso, tenta motivar relações entre vizinhos durante as apresentações e despertar cidadania na população, “atingindo a apropriação do lugar público e as interações pessoais”, que, segundo ele, “não acontecem em shoppings, onde apenas o consumo é desejado”.

A Camerata recebe, duas vezes por mês, artistas de todo o mundo para workshops e palestras voluntárias e se sustenta com doações do público e concertos remunerados. Nas Olimpíadas, a Igreja Norueguesa do Rio os contratou para uma apresentação aos turistas escandinavos. O músico lamenta a falta de apoio do governo à arte independente, “que proíbe manifestações em muitos lugares públicos”, como o metrô.

A feita da General Glicério também conta com a tradição do pastel de queijo (R$6) com caldo de cana (R$ 4) da barraca do Bigode. O casal Nilze e Roberto, morador do bairro há 10 anos,  frequenta a feira todo fim de semana “para sair da dieta” e para comprar flores, verduras e frutas. Roberto é fã do pastel e da cana, enquanto Nilze é “adepta do bolinho de bacalhau do Mazarope (R$ 6)”. Além desses petiscos, a feira oferece opções gourmets – como a cerveja libanesa 961 Beer (R$20), para levar para casa ou beber gelada na hora – e saudáveis, como a Rainha da Tapioca ou Estação Tapioca, que oferecem sabores doces e salgados entre R$ 5 e R$ 7.

Feira do Troca

Na Praça XV, Centro do Rio, há a Feira do Troca, aos sábados, das 8h às 14h, que durante as Olimpíadas será realocada para a vizinha Praça Marechal Âncora, como informa o presidente da feira, Raphael Barbeito. Celeiro de arte e antiguidade do Rio de Janeiro, que expõe relíquias como cartas de D. Pedro II e vídeo inédito do enterro do cronista Paulo Barreto, o João do Rio. Os expositores vão aproveitar o evento olímpico para expor a história da cidade aos turistas. Cerca de 300 barracas oferecem antiguidades a colecionadores e curiosos – há selos, moedas, roupas, móveis, brinquedos, revistas e gibis, que chegam a atrair 10 mil pessoas por edição. Nos dias 6, 13 e 20, a Praça XV vai abrigar o palco da Nike e o bungee jumping da Nissan, além de contar com um telão para transmitir os jogos.

Feira do Troca.


Raniere de Andrade é dono de uma barraca de gibis de HQs (super-heróis). Há mais de 40 anos colecionando essas revistas temáticas, ele vende parte de seu acervo para amigos que fez na praça:

– Nós nos reunimos todos os fins de semana para conversar e trocar revistas, por isso criamos a Confraria dos Gibis, grupo nacional que se reúne para o lançamento de fanzine (publicações amadoras feitas por fãs) produzido pelos membros do grupo, que considero uma família – conta, orgulhoso, Raniere, que também tem um blog, Museu dos Gibis, com mais de 200 matérias sobre quadrinhos, como Zé Carioca, Jerônimo, Marvel e Sítio do Picapau Amarelo.

Feira do Troca.


Estevão é fotojornalista e, aos sábados, vende moedas antigas. A coleção reúne cruzeiros, cruzados, notas de R$ 1, entre outras, que custam R$ 10 ou R$ 15 – dependendo do estado de conservação e raridade. Segundo ele, a coleção especial completa de moedas das Olimpíadas chega a R$ 150, já que apenas 20 milhões foram cunhadas, em vez dos habituais 60 milhões.

Feira do Troca se muda da Praça XV para a Marechal Âncora


Sérgio Levy é comendador aposentado e vende seu acervo pessoal de quadros – atualmente com 200 obras – para sobreviver. Para ele, que perdeu sua oficina de molduras na Sociedade Brasileira de Belas Artes, após a proibição de comércio dentro da instituição, “é difícil se sustentar de arte no Brasil, pois ela se desvalorizou muito”:

– Na década de 1980, eu vendia mil molduras por mês. Agora, meus quadros que já custaram R$ 1 mil, hoje só custam R$ 300, mas vendo pelo preço que oferecerem – contenta-se Levy.

Feira do Troca.


Jane é francesa e jornalista correspondente no Brasil. Para ela, que frequenta o local todos os sábados, “o mais divertido é garimpar”:

– Tenho uma casa cheia de coisas, mas quero enchê-la ainda mais. Já achei várias antiguidades interessantes e originais, mas minhas favoritas são objetos de decoração – contou ela, que afirmou ser motivada a frequentar a feira para conhecer mais a cidade onde vive há cinco anos.

Feira do Rio Antigo

Outro xodó dos cariocas é a Feira do Rio Antigo, na Rua do Lavradio, no Centro. Todo primeiro sábado do mês, a partir das 10h, essa feira reúne não só antiguidade, gastronomia e artesanato, como também oferece repertório musical com chorinho, samba e MPB, além de um passeio pela história do Rio. No dia 6 de agosto, a rua vai estar ornamentada com bandeiras de todos os países para receber os atletas. Além disso, estão confirmadas Adriana Dutra, para uma roda de samba, e a Companhia de Dança CCC para se apresentarem nessa edição dos Jogos.

A primeira rua residencial da cidade já recebeu grandes personalidades, como Machado de Assis e Carmen Miranda, e virou história para o jornalista João do Rio, que retratou os cabarés e casas de show do fim do século XIX e início do XX. Além disso, a arquitetura colonial também atrai muitos visitantes. Hoje, com 20 anos de exposição, a maioria dos produtos do Rio Antigo é artesanato, mas o programa pode se estender aos restaurantes ao redor, como Boteco Belmonte, Bar do Elias, Conexão, Santo Scenarium, Lua Cheia, entre outros.

Feira da Fotografia

No Palácio do Catete, na Zona Sul, é organizada, no último domingo do mês, a Feira da Fotografia, das 10h às 18h. Nesse local bucólico e silencioso da cidade, rodeado por altas palmeiras imperiais, Cilano Simões, engenheiro aposentado e fotógrafo, leva a arte da fotografia para quem passa pelos jardins do palácio desde 1999. Inicialmente, contava com a parceria da Associação Profissional de Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Rio de Janeiro (Arfoc Rio), mas, hoje, é curador da feira com apoio da Associação Brasileira de Arte Fotográfica (Abaf).

Feira da Fotografia. Foto: Cilano Simões


Para a primeira parte da feira, em uma estrutura de bambu, ele seleciona um convidado por mês para expor parte de seu trabalho. Do outro lado, Simões monta o estande com as próprias fotos e também de outros integrantes da Abaf. No dia 28 de agosto, para quem ainda estiver na cidade, Irones Monteiro da Silva foi escolhido para compor esse time. Ex-funcionário da antiga TV Tupi e autor do livro Nossos ídolos, ainda não publicado, ele reúne registros de Cauby Peixoto, Beth Carvalho, Vanuza, entre outras personalidades do país. Todas essas fotos podem ser vendidas ao público, mas o preço não é pré-estabelecido, depende da oferta do cliente. Às 15h, Simões, clarinetista, e outros amigos músicos se reúnem no local para tocar chorinho.

Feira da Fotografia. Foto: Cilano Simões


A feira já rendeu prêmios a Simões, como a condecoração da Academia de Artes e Letras de Paris, e reuniu nomes renomados como Evandro Teixeira, José Gois e Sebastião Neri. No entanto, ela também está de braços abertos para receber fotógrafos amadores. Além da exposição, workshops já foram organizados, mas hoje, a feira precisa de apoio e divulgação para que sejam preparadas novas atividades.

No Palácio, além de caminhadas pelo belo jardim, que funciona das 8h às 20h, o público pode também visitar o Museu da República, antigo Palácio Nova Friburgo, onde moraram, de 1894, quando a cidade do Rio de Janeiro ainda era capital do país, a 1960, devido à transferência para Brasília, os presidentes da República. Esse local é símbolo de eventos importantes da história do Brasil, como o suicídio de Getúlio Vargas. O museu é gratuito aos domingos e funciona das 11h às 18h. Nos outros dias da semana, funciona das 10h às 17h e é cobrado R$6. O restaurante dentro do Palácio, Bistrô República, oferece almoço com saladas, massas e feijoada, mas o prato mais pedido é o escalope com batata rostie (R$40). Para completar o passeio cultural, há o Cine Museu da República, que oferece filmes fora do circuito blockbuster.

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