Programa de aceleração de Start-Ups auxilia no desenvolvimento de projetos voltados para a Bacia Amazônica
30/09/2016 19:28
Camila de Araujo/Foto: Thayana Pelluso

Coca-Cola Open Up The Boat Challenge contempla negócios concentrados na biodiversidade local.

Participantes, mentores e convidados reunidos em rodada de apresentação


Polo tecnológico e industrial instalado na região amazônica, a Zona Franca de Manaus coexiste com o empreendedorismo social destinado ao impacto socioambiental positivo. Para auxiliar no desenvolvimento de negócios localmente sustentáveis e inovadores, 15 projetos foram selecionados para participar do programa de aceleração de Start-Ups Coca-Cola Open Up TheBoat Challenge, em parceria com a incubadora Artemisia, entre os dias 25 e 28 de junho.

Durante três dias, os empreendedores cruzaram o rio Amazonas, no trajeto entre Parintins e Manaus, a bordo de um navio no qual apresentaram os projetos a mentores e convidados. As start-ups foram selecionadas, a partir de 200 negócios analisados, com base no potencial de impacto socioambiental, histórico de realizações e progressão de equipes, modelos de negócio, estágio de maturidade e alinhamento com o programa cujo foco principal está na Região.

Foram exibidas propostas nas mais diferentes áreas, como telecomunicações, saneamento básico e recursos hídricos. Em algumas apresentações, houve um trabalho direcionado especialmente para aqueles que trabalham com matérias-primas diretamente envolvidas em atividades tradicionais na Bacia Amazônica.

Como o projeto nascido em Caruari, Amazonas, a Unidade de Beneficiamento de Produtos da Floresta (UBPF), conecta a cadeia produtora e grandes empresas de cosméticos como a Natura, desde a coleta de sementes como o açaí, a andiroba e o murumuru. Segundo o empreendedor responsável por este projeto, Mailson Gondim, de 26 anos, não há invasão na área florestal, uma vez que os grãos estão disponíveis de forma abundante.

- Na UBPF, trabalhamos com espécies em grande quantidade na natureza. A retirada é feita de maneira sustentável, ou seja, deixamos o necessário para a reprodução das sementes. Nós incentivamos os coletores para capacitação de boas práticas e agimos de forma direta dentro da comunidade – afirmou Gondim.

Centrada na indústria de pescados, a central de cooperativas de piscicultores do Acre, a Acrepeixe, busca desenvolver uma plataforma digital disponível para cadastro, planejamento e assistência dos produtores. Empreendedora responsável pela start-up, Camila Oliveira, de 25 anos, informou que o dispositivo estará disponível em duas interfaces de fácil acesso.

- No primeiro módulo, o produtor vai precisar fornecer dados básicos sobre o tamanho da área de trabalho e o tipo de produção, em seguida, nós vamos repassar informações como a quantidade de ração necessária. Esta etapa é voltada para o cadastro e plano de produção, fase em que é possível gerar expectativa de receita. Já o segundo módulo é direcionado para assistência técnica. Queremos fazer a capacitação e profissionalização dos piscicultores como um todo – explicou Camila.

Já o tucupi, subproduto líquido derivado da manipueira, oriunda mandioca, é utilizado na elaboração de pratos típicos da gastronomia do Norte. Atenta à qualidade da produção do insumo, a aluna e pesquisadora do Instituto Federal do Amazonas (IFAM), a química Suane Viana, de 34 anos, representante da start-up manauara Coaraci, planeja implantar parâmetros de excelência acadêmica para a comercialização do extrato. Segundo ela, a dificuldade para estabilizar o negócio esbarra nas diferenças entre os ambientes universitário e empreendedor.

- O pensamento do pesquisador é voltado para testagem em condições extremamente controladas, já no empreendedorismo quanto mais arriscado mais perto do objetivo estamos – disse Suane.

A complexidade em empreender de forma sustentável na região amazônica é o desafio que deve ser refletido e enfrentado pelos participantes do programa de aceleração Coca Cola Open Up The Boat Challenge, apontou o superintendente técnico cientifico da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Eduardo Taveira.

- A capacidade das start-ups que se apresentaram de inovar em uma região altamente complexa de fazer negócio, preocupadas com o impacto social, é um duplo desafio – disse.

Para ele a grande inovação dos projetos que assistiu é a criação de um modelo de negócio sustentável que garanta qualidade e regularidade no fornecimento. De acordo com o superintendente da FAS, é preciso considerar os processos da natureza, como as diferentes sazonalidades climáticas, que interferem nas questões da produção. Os empreendedores precisam, observou, se perguntar em como conciliar as diferentes safras para que os produtos estejam rotineiramente disponíveis. Outro ponto que ele indicou é o atendimento a legislação.

Taveira comentou que os modelos de negócio estão em transição, uma vez que questões sobre sustentabilidade são reivindicações cada vez mais presentes na sociedade. Para ele é interessante observar uma nova geração de empreendedores preocupada em conectar formas de obtenção do lucro e práticas sustentáveis.

- As escolas passaram, a partir, das novas diretrizes de ensino, a incorporar as questões de meio ambiente nos currículos. É muito interessante ver jovens pensando possibilidades de negócio mais sustentável, sem problema de falar que querem ganhar dinheiro. Eu acho que temos um bom indicativo de como pode ser o futuro em médio prazo se parte dessas empresas conseguirem se colocar no mercado – avaliou Taveira.
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