Oralidade como instrumento de memória
31/10/2023 09:49
Carolina Bottino

Mediado por estudantes da PUC-Rio, o encontro promoveu debates sobre a preservação da cultura a partir da fala

Lucas Van de Beuque, Yke Leon, Danielle Barros e Júlio Ludemir discutiram o papel da oralidade na cultura popular. Foto: Mateus Monte

A linguagem oral como forma de preservação da cultura popular foi tema do Simpósio da Oralidade, que ocorreu entre os dias 16 e 17 de outubro na sala Cleonice Berardinelli, no Departamento de Letras. Organizado pelos estudantes Yke Leon, doutorando em Comunicação, e Luis Fernando Bruno, mestrando em Literatura, Cultura e Contemporaneidade, o encontro contou com a presença da Secretária de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, Danielle Barros, e a Coordenadora de Literatura do Instituto Moreira Salles, Rachel Valença.

A abertura das mesas foi feita pelo vice-reitor da PUC-Rio, Padre André Luís de Araújo, S.J., que ressaltou a importância desses debates para a continuidade da linguagem oral. Em seguida, a palestra “Difusão e Manutenção dos bens imateriais e da cultura popular” discutiu a necessidade da população em reconhecer a relevância que a oralidade teve para a história do País. O curador da Festa Literária das Periferias (FLUP), Júlio Ludemir, explicou o processo como uma metodologia que a humanidade utilizou de maneira exclusiva até o início da prática escrita. Principalmente no Brasil que sempre teve altas taxas de analfabetismo ao longo dos séculos. Segundo Ludemir, a partir da maneira como as pessoas se expressam oralmente é possível perceber aspectos, como emoções e sentimentos, que outras formas de expressão não permitiriam reconhecer da mesma forma.

Júlio Ludemir, curador da FLUP, ressaltou a importância da linguagem oral até o surgimento da escrita. Foto: Mateus Monte

A Secretária Danielle Barros destacou a  importância da Festa Literária das Periferias para a democratização do acesso à informação para os moradores de periferias do estado do Rio de Janeiro.

– Esses espaços de diálogo são muito importantes. Valorizamos a possibilidade de prestação de contas desse serviço, pois é uma maneira de nos comunicarmos com a população acadêmica, e graças à transmissão on-line, também com aqueles que não fazem parte da academia. A ideia é democratizar o acesso aos recursos da cultura, e os editais são os instrumentos para isso. Chegamos nas periferias do estado do Rio de Janeiro por meio da difusão desses materiais em eventos como esse.

A segunda mesa discutiu o tema “Oralidade e estética” com Rachel Valença, o fotógrafo Ratão Diniz, e o professor Nilton Gamba Jr, diretor do Departamento de Artes & Design da Universidade. Os convidados debateram a união da linguagem oral e artística como pontos centrais para um entendimento mais amplo de certos aspectos da sociedade. Ratão Diniz, que também é Coordenador da Escola de Fotografia Popular da Maré, destacou a diferença que a fotografia faz na preservação da memória de um lugar.

– A formação profissional das pessoas de comunidades é essencial para que elas possam contar suas próprias histórias. O retrato de um local ajuda na preservação da memória não apenas daquela localidade, mas da população que vive ali. A manutenção desses espaços, como a Maré, é importante, e a maneira que encontrei de contribuir para isso foi pela fotografia.

Rachel Valença, Coordenadora de Literatura do IMS, revelou a relação do samba com a oralidade. Foto: Mateus Monte

A professora Paloma Roriz, pesquisadora do Departamento de Letras da PUC-Rio, mediou uma mesa sobre a infância e a oralidade. Com a participação dos autores Warley Goulart, Juliana Correia e Karen Accioly, a palestra girou em torno da discussão sobre o hábito de leitura entre o público infantojuvenil. Juliana contou que escreveu seu primeiro livro pensando em trazer referências sobre ancestralidade para seu filho, pois gostaria que ele se orgulhasse de suas origens desde os primeiros anos de vida. Assim começou a criar histórias a partir de aspectos que fizeram parte de sua juventude.

– Já no fim da adolescência, quase na fase adulta, comecei a me orgulhar da minha ancestralidade, que tinha o funk, samba e capoeira como elementos marcantes. Acredito que demorei certo tempo para isso porque fora desses espaços é difícil ver essa diversidade. Uni a pesquisa sobre raça e essa vontade de fazer com que as crianças se sentissem representadas também, e a partir desse ponto nasceu o perfil Baobazinho – explicou Juliana.

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