Forças militares de um povo esquecido
03/11/2023 15:13
João Lustosa

Em palestra, historiadores explicam o papel das forças militares compostas por indígenas durante o período colonial

Obra intitulada "Gouaranis civilisés employés a Rio Janeiro comme artilleurs", Jean Batiste Debret / Brasiliana Iconográfica / Domínio Público / Wikimedia Commons

As tropas auxiliares, força militar predominante no período colonial, foi o tema do debate entre historiadores no seminário “As milícias de homens de cor no Atlântico Sul (séculos XVIII e XIX)”. O encontro ocorreu nos dias 24 e 25 de outubro e foi organizado por meio de uma parceria entre a PUC-Rio, a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e a Universidade de Calgary, no Canadá. A série de palestras teve como objetivo discutir um assunto pouco explorado, mas de extrema importância para a história do país.

No segundo dia do seminário, no Auditório do IAG, a palestra “Indígenas em armas: formação de tropas e disputas políticas”, foi mediada pelo professor Diego Galeano, do Departamento de História da PUC-Rio. A conversa contou com a participação dos professores João Paulo Peixoto Costa, do Instituto Federal do Piauí (IFPI), Mariana Dantas, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), e Rafael Rocha, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

Os docentes abordaram o contexto da criação de tropas auxiliares por parte dos povos indígenas, além da importância e atuação em conflitos. O professor Rafael Rocha, que atua na área de pesquisa em História do Brasil Colonial, relatou como as tropas de resgate funcionavam. Compostas por indígenas e portugueses, eram encarregadas de proteger as fronteiras do Nordeste brasileiro de outros povos colonizadores, como os holandeses.

O professor João Paulo Peixoto Costa apresentou um trecho de sua tese de doutorado, em que analisa a atuação militar dos povos originários no Ceará, entre 1817 e 1824. Ao se aliarem à monarquia, os soldados lutavam na expectativa de garantir que suas prerrogativas, baseadas na tradição de reciprocidade, fossem atendidas.

Historiadores discutem sobre um assunto pouco explorado, mas de extrema importância para a história do Brasil. Foto: Antônio Albuquerque

Mariana Dantas, professora do Departamento de História da UFRPE, seguiu o raciocínio de João Paulo. Ela usou os dados de sua tese de doutorado, premiada em 2015 pelo Arquivo Nacional.  Para Mariana, a participação militar dos indígenas implicou nos posicionamentos políticos destes povos e na relação com as dinâmicas locais. A professora explicou que, ao contrário do que a historiografia conta, a motivação dos indígenas para se envolver nestas revoltas não era defender os interesses da elite. Eles tinham uma motivação consciente porque acreditavam que seriam “beneficiados" no futuro.

Adriana Barreto, uma das organizadoras do seminário e professora do Departamento de História da UFRRJ, exaltou o intercâmbio e a parceria entre as três instituições e também comentou sobre como surgiu a ideia de realizar o encontro.

— Somos três pesquisadores que trabalham com esta temática. Eu e o professor Hendrik Kraay, do Canadá, orientamos alunos sobre esse assunto, que é pouco trabalhado. A professora Crislayne Alfagali, da PUC-Rio, então se uniu a nós, por possuir uma documentação sobre essas milícias de homens de cor. A gente resolveu então fazer este evento para dar mais visibilidade para o tema e, com isso, chamar novas gerações de pesquisadores.

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