A potência do mundo intimista de Ana C.
03/11/2023 17:35
Carolina Bottino e Letícia Guimarães

40 anos após a curta vida da autora, o legado da vida poética, filtrada pela poesia, permeia a literatura brasileira

Ana Cristina Cesar. Foto: Acervo Instituto Moreira Salles

A poesia e a herança deixadas por Ana Cristina Cesar, escritora, ex-aluna e professora da PUC-Rio, ainda inspiram as novas gerações de poetisas. No dia 27 de outubro, em um tributo aos 40 anos de sua morte, a Universidade recebeu pesquisadores da obra de Ana C. e professores do Departamento de Letras para discutir a poética de uma das escritoras mais singulares da literatura brasileira.

O Reitor Padre Anderson Antonio Pedroso, S.J., apontou a importância da autora para a história da Universidade, além de afirmar a necessidade desses tipos de debate para a preservação da memória, uma maneira de manter essas figuras ativas na recordação.

O Vice-Reitor Geral, Padre André Luis de Araújo, S.J., organizador do encontro, teve o primeiro contato com o trabalho da escritora durante a graduação em Letras. A admiração foi tanta que resultou na dissertação de Mestrado em Estudos Literários intitulada “Ana Cristina Cesar: o devir de um corpo” . Posteriormente, o inspirou no  Doutorado: “Eu existo pelo nome que te dei: Ana C. por Bernardo Carvalho”. Durante a palestra com professores e pesquisadores, o jesuíta destacou a potência e a contemporaneidade da autora. Para ele, discutir as ideias de Ana C. é fundamental para a preservação de seu legado e memória.

Bruno Cosentino, do Instituto Moreira Salles (IMS), Júlio Diniz, decano do Centro de Ciências Sociais, e o Padre André Luis de Araújo, S.J., vice-reitor geral, discutem o legado e memória de Ana C. Foto: Kathleen Chelles

A carioca Ana Cristina Cesar foi poetisa e crítica literária, com licenciatura em Letras pela PUC-Rio. Os textos, que marcaram a poesia marginal dos anos 70 com elementos irônicos e existenciais, por vezes retratavam situações cotidianas e de sua própria história. Uma novidade na época.

O professor Alexandre Montaury, diretor do Departamento de Letras da PUC-Rio, ressaltou o legado da autora como singular para a história da Universidade. Ele caracterizou sua trajetória como inspiradora para as futuras gerações de poetisas.

— A passagem de Ana Cristina Cesar na PUC-Rio foi singular, assim como seu falecimento precoce. Realizar encontros para refletir a sua poesia é fundamental para ter um registro e manter a memória viva. Ela me entusiasmava muito e me inspirou a ir para as letras. Ana C. vive nas visões e buscas artísticas de nossos alunos.

Ítalo Moriconi, amigo pessoal de Ana Cristina, escreveu o livro Ana C.: O sangue de uma poeta, biografia da autora. Foto: Mateus Monte

As mesas receberam os professores Ítalo Moriconi, da UERJ, Paulo Henriques Britto, e Júlio Diniz, decano do Centro Tecnológico de Ciências Humanas (CTCH), os dois últimos da PUC-Rio. Eles falaram sobre a carreira da autora, além de avaliar os impactos de sua poesia na literatura. Ítalo era amigo pessoal de Ana C. e é autor da biografia “Ana Cristina Cesar: O sangue de uma poeta”, que analisa a obra e a vida da poetisa, que são indissociáveis.

— A parte mais desafiadora para mim foi contar a história de alguém tão próximo e que tirou a vida com as próprias mãos. O legado dela é imenso, mesmo que não  haja um acervo tão grande, apesar de ter obras póstumas. A marca que ela deixou é muito significativa na poesia contemporânea e feminista que se desenvolveu ao longo dos anos. Ela era uma praticante da prosa e poesia, o que ficou marcado como proesia em seus textos.

A professora Maria Lúcia Camargo, da Universidade Federal de Santa Catarina, também foi convidada para o tributo a Ana C. Ela lembrou o início dos estudos sobre a poesia da escritora durante o seu doutorado. Para ela, estudar a poetisa é importante, mas não se deve misturar os eventos da vida e da morte com o que foi escrito. A pesquisa começou partir do suicídio da escritora. As obras de Ana C. são marcadas pela aflição de sua poesia, pela escolha deliberada de uma escrita interpessoal e que se estendem além da vida física, como um movimento de afastamento e aproximação.

O professor emérito do Departamento de Letras da PUC-Rio Eduardo Jardim também estava presente. Ele falou sobre a constante necessidade de considerar a variedade de aspectos que compõem a personalidade de Ana C. — pesquisadora, que examinou filmes com Heloísa Buarque de Hollanda;  tradutora, que enfrentou o grande desafio de traduzir poesias; e, naturalmente, a Ana poeta. Influenciada pelo modernismo, era ávida leitora de Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade. A marca, ou singularidade da poetisa, é de uma literatura feminina, marcada pelo movimento de busca. A coloquialidade de seus poemas determinava um ritmo único, cadenciado e não melodioso.

— Eu acho que o que distingue Ana C. é a radicalidade com que ela faz esse processo. É o que a diferencia do conjunto dos outros poetas brasileiros que possivelmente não tinham ainda incorporado essa ideia como ela incorporou.

O encontro também recepcionou Bruno Cosentino, da coordenadoria de literatura do Instituto Moreira Salles (IMS), que ilustrou a palestra com os arquivos da instituição. O IMS zela pelo acervo pessoal de Ana Cristina, que é composto por biblioteca, periódicos, revistas de arte e tese de doutorado, com 797 itens catalogados. Além disso, são 300 documentos de sua produção intelectual, entre os quais: anotações de leitura, críticas literárias, poemas e cadernos de notas. O Instituto também conta com correspondências, recortes de jornais, desenhos, documentos audiovisuais e provas de impressão de livros, que complementam o legado rico que revela a força de Ana C.

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