Identificação e diversidade no audiovisual
13/11/2023 16:55
Carolina Bottino

Em debate com os estudantes da PUC-Rio, roteiristas da Rede Globo ressaltam a importância de representar histórias plurais

Thaís Pontes e Renata Andrade, criadoras da série do Globoplay conversaram sobre a necessidade de representatividade no audiovisual. Foto: Mateus Monte

As professoras Carla Siqueira e Elaine Vidal, do Departamento de Comunicação, organizaram um encontro com Paula Teixeira, pesquisadora da novela “Vai na Fé”, e com Renata Andrade e Thaís Pontes, criadoras da série do Globoplay “Encantado’s”. A palestra, que ocorreu no dia 23 de outubro, discutiu as conquistas e os desafios na busca por diversidade no audiovisual.

Para a novela “Vai na Fé”, o cotidiano dos evangélicos moradores da Zona Norte do Rio de Janeiro, foi o ponto de partida da autora Rosane Svartman. Após uma pesquisa de mercado, os criadores da obra perceberam que grande parte das novelas da emissora, ao retratar questões religiosas, costumavam focar no catolicismo ou espiritismo. Entretanto, com a realidade atual do Brasil apontando para o crescimento do número de evangélicos, essa representação era necessária. A equipe tinha uma preocupação em não perpetuar estereótipos, com o intuito de revelar a rotina diária desses personagens para além da questão religiosa. A pesquisadora da trama Paula Teixeira afirmou que o processo de pesquisa começou em 2020, durante a pandemia, o que ela considerou ter sido o maior desafio.

– Uma parte importante do trabalho de campo foi assistir a cultos de igrejas evangélicas, principalmente as da Zona Norte, porque seria de lá que pegaríamos histórias para construir nossas narrativas. Mas com a Covid-19, tudo estava parado, o contato com as pessoas era complicado, e isso retardou o processo. Foi difícil achar personagens dentro do perfil que queríamos representar. Nosso objetivo era retratar a figura do evangélico brasileiro, que em sua maioria é preto e pobre.

A pesquisadora da novela Vai na Fé, Paula Teixeira revelou o processo de pesquisa sobre as narrativas da trama durante a palestra. Foto: Mateus Monte

Para além da diversidade religiosa a qual buscaram retratar, a pluralidade de personagens foi destaque na trama. Com um elenco em sua maior parte representado por atores negros, a novela discutiu questões como racismo e homofobia. Paula ainda ressaltou a importância da diversidade encontrada por trás das câmeras também: ”A diversidade só foi possível na tela porque nos bastidores tivemos isso também”, ela afirmou.

As criadoras de “Encantado’s”, Renata Andrade e Thaís Pontes, começaram a desenvolver a obra durante uma oficina para roteiristas negros da Globo, e o projeto final seria a criação de uma trama original. Ao pensar no que gostariam de ver nas telas, as roteiristas concluíram a necessidade de representar personagens pretos. Com o bairro de Encantado, na Zona Norte, como pano de fundo, a série - que terá segunda temporada - gira em torno de dois irmãos gerentes de um supermercado local que, à noite, transforma-se palco dos ensaios da escola de samba Joia do Encantado.

As roteiristas contaram que a desconstrução de estereótipos era essencial no processo de criação dos personagens. Em geral, personagens pretos são sempre representados como melhores amigos dos principais personagens, mas raramente são escolhidos como protagonistas. Mas na produção de “Encantado’s”, o uso do gênero cômico foi usado para criticar o racismo, tornando a narrativa mais leve. Renata revelou que a representatividade negra ia além do elenco, pois a equipe por trás das câmeras refletia essa maioria também.

– Queríamos uma representação. As questões que vimos na série ligadas à raça foram situações que passamos. A presença de pessoas negras em todas as etapas do processo ainda é raridade  Ter a caneta na mão é importante, mas a estrutura para que isso aconteça também é necessária – concluiu Thaís Pontes.

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