Leituras da ‘Laudato Si’
25/05/2016 13:46
Diana Fidalgo

Debate entre reitor e professores celebra dez anos da Cátedra Unesco de Leitura e um ano da publicação da Encíclica

O Reitor, Padre Josafá, entre os professores Alessandro Rocha e Roberto DaMatta. Foto: Mariana Salles  

Ao lembrar o primeiro ano de publicação da encíclica Laudato Si', elaborada pelo Papa Francisco, o Reitor da PUC-Rio, Padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J., destacou um dos seus aspectos mais importantes: “Se nós queremos um mundo diferente, uma mudança, é preciso fazer gestos pequenos e acessíveis às nossas mãos. Essa ética é algo muito importante dentro da Encíclica Laudato Si'. A inspiração forte está exatamente no Evangelho. Como diz Jesus, ‘Quem é fiel no pouco saberá ser fiel no muito’. É uma dimensão muito importante porque é algo que podemos fazer, está ao nosso alcance. Essa dimensão da ética é fundamental para não dar uma dimensão abstrata, são coisas reais que não estão longe das nossas mãos”, afirmou o Reitor, na mesa-redonda Leituras da Laudato Si', que celebrou os dez anos da Cátedra Unesco de Leitura, nesta terça-feira, 24 de maio.

 

Participaram do debate Padre Josafá e os professores Roberto DaMatta, do Departamento de Ciências Sociais, e Alessandro Rocha, diretor do Instituto Interdisciplinar de Leitura (iiLer). Mediado pela professora Eliana Yunes, do Departamento de Letras, o encontro abordou perspectivas éticas, antropológicas e de fé, em sentido amplo – três leituras propiciadas pelo documento papal. “Há tantas leituras como leitores, basta que se indique o lugar de onde se fala para que o ponto de vista se abra e se refina o ponto de vista do ângulo dessa leitura”, lembrou o Reitor.

Ao comemorarmos um ano de Laudato Si', precisamos analisar em sua visão profética. Isso porque, ao mesmo tempo em que denuncia contradições nas relações Homem, Deus e Natureza, apresenta também muitas alternativas de mudança de vida, sustentabilidade, de pensar em um mundo um pouco diferente do que temos no contexto atual.

O professor Roberto DaMatta ressaltou sua feliz surpresa com o “enorme paralelismo” que encontrou entre a encíclica e a Antropologia Social, devido ao exercício de realizar um olhar distanciado:

– O mais surpreendente neste texto é o olhar distanciado. A Igreja, através do Papa Francisco, fez esse exercício. Não é uma leitura segmentada do mundo, com um interesse católico, mas a relação com a “casa maior”, como é dito na Encíclica.

DaMatta também observou a importância de considerar a finitude do mundo:

– Nós sabemos dos nossos finitos, um dia nós morremos. Finitude tanto dos recursos como das certezas transcendentais, como afirmavam as religiões monoteístas, com mitos e animais que lhes davam significado.

Eliana Yunes Foto: Mariana Salles

O professor Alessandro Rocha destacou a convergência entre filosofia e espiritualidade na Encíclica. Para ele, um dos grandes méritos da Laudato Si' está em tornar nítida a relação entre natureza e fé:

– Após falar da realidade como natureza, Papa Francisco trata a realidade não como natureza, e sim como criação. Ele oferece um elemento que ainda não estava de forma tão clara nas discussões sobre ecologia.

O Reitor, que possui mestrado e doutorado em Ciências Biológicas, também ressaltou a preocupação já estabelecida com a biodiversidade e questões socioambientais:

 

– São posturas e hábitos que temos que corrigir. Não podemos mais conviver com o desperdício da água: 35 países têm problema de escassez. Um terço da comida produzida no mundo é jogada fora, no Brasil são 27 milhões de toneladas de desperdício. O Rio de Janeiro é campeão de perda de água tratada.  São posturas pequenas que podem ser adotadas no nosso cotidiano, como a reciclagem, a carona solidária, abrir a generosidade. Pequenos gestos que estão na questão da fidelidade da ética.

Ainda na perspectiva ética, o Reitor propôs que devemos ser movidos por duas perguntas, respectivamente, moral e ética: “O que eu posso fazer?” e “Por que estou fazendo isso?”.

– A ética é uma tarefa de construção permanente do que fazemos e do por que fazemos – afirmou Padre Josafá, que também lembrou a frase do Padre Antônio Vieira: “Nós somos o que fazemos... Só existimos quando fazemos. Nos dias que não fazemos, apenas duramos”.

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