Iniciativas promovem aceitação da diversidade e convivência igualitária
14/09/2016 17:46
Lucas Paes

Especialistas reunidos em palestra na PUC-Rio trocam experiências sobre ações de acessibilidade e inclusão em bibliotecas, festivais de cinema e teatro e intercâmbios no exterior

Profissionais de diferentes áreas expuseram projetos culturais que atendem a pessoas com deficiência na última sexta-feira, no 1º Encontro PUC-Rio de Sensibilização, Acessibilidade e Inclusão + II Semana de Acessibilidade PUC-Rio (Inclusive), que teve início no dia 8 e vai até sexta-feira, 16 de setembro. Na mesa, estavam a diretora da Biblioteca Parque Estadual (BPE), Adriana Karla Rodrigues, a produtora de teatro e cinema Lara Pozzobom, e o especialista em tradução, interpretação e ensino de libras Ricardo de Siqueira. A conversa foi mediada pela professora e supervisora do Núcleo de Apoio e Inclusão da Pessoa com Deficiência da universidade (NAIPd), Renata Mattos Eyer de Araújo. Ao abordar aspectos singulares da cultura surda, Siqueira ressaltou que a linguagem de sinais apresenta diferenças semelhantes às da escrita, quando se muda de um país para outro.  Além disso, ele também destacou a importância da troca de experiências entre os deficientes:

– Costumo viajar para outros países, a fim de conhecer surdos desses lugares e suas rotinas. É sempre emocionante conhecer outros costumes e tratar de temas como responsabilidade e inclusão. A cultura do deficiente auditivo não é universal, a linguagem que usamos não é universal. Com toda a experiência que adquiri nas minhas viagens, comecei a traduzir libras estrangeiras para a brasileira – contou, acompanhada de uma intérprete.

A interação entre pessoas com deficiência também é proposta da Biblioteca Parque Estadual, na Avenida Presidente Vargas. “Consideramos a acessibilidade para além do entendimento de ter ou não deficiência”, afirmou a diretora, destacando que o espaço físico, o acervo, o conteúdo e as tecnologias procuram integrar literatura, artes e educação desde a reforma na biblioteca do Estado, ao lado do Campo de Santana. Atualmente, a biblioteca dispõe de 1.321 títulos e 2.044 exemplares acessíveis para deficientes, seja com escrita em braile, acompanhamento de libras, gravação do som ou outro recurso empregado.

– A Biblioteca Parque Estadual já nasceu acessível, mas reconhecemos que sempre é preciso evoluir. Por isso, criamos ambientes de convivência, espaços de troca e condições sustentáveis para manter o evoluir. Estamos sempre disponíveis para entender o diferente e lidar com ele da melhor maneira possível – afirma a diretora.

No mês de setembro, o local e a Biblioteca Parque Municipal recebem a 1ª Semana Internacional de Acessibilidade e Cultura. A iniciativa de um conjunto de órgãos de sete países – Brasil, França, Alemanha, Suécia, Inglaterra, Coreia do Sul e Estados Unidos, além da União Europeia – reúne artistas, políticos, pesquisadores e gestores do mundo todo para exposições, espetáculos, mesas de debate e oficinas.

Festival de cinema brasileiro abre espaço para filmes sobre deficientes

Responsável por tratar da relação entre deficiência e produções de cinema, a produtora Lara Pozzobon relatou a história do festival Assim vivemos, o primeiro no Brasil a oferecer acessibilidade para pessoas com deficiência visual (audiodescrição e catálogos em braile) e com deficiência auditiva (legendas closed caption nos filmes e interpretação em Libras nos debates). Lara teve a ideia após assistir ao curta Cão guia, de Gustavo Acioli. Desde 2003, cerca de 30 filmes que tenham protagonistas portadores de necessidades especiais são exibidos anualmente no festival. De acordo com a organizadora, a seleção é complicada:

– Os filmes precisam tratar os deficientes com bom senso, sem vitimizar essas pessoas. Também é importante que elas apareçam constantemente, mostrando seu rosto, sem vergonha da sua diferença. Já desclassifiquei um excelente documentário português, que mostrava parentes e amigos falando, mas não retratava diretamente a deficiência.

O Assim vivemos tem três edições anuais, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB)  do Rio, de São Paulo e de Brasília, em ambientes com condições adequadas de acessibilidade. A próxima edição será na capital paulista, entre 23 de setembro e 5 de outubro, com entrada gratuita.

Leia também: Pequenas ações para uma cidade sem barreiras

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