Futuro do Meio Ambiente
09/10/2023 16:26
Carolina Bottino

Professores analisam as consequências da emergência climática

Catástrofes ambientais evidenciam falta de planejamento. Imagem de Freepik

A última década foi marcada por ciclones, tempestades, rompimento de barragens e as consequências das ações do ser humano no meio ambiente. Em um intervalo de quatro semanas, 11 mil pessoas morreram em inundações na Líbia, 5 mil estão desabrigadas no Rio Grande do Sul, após as recentes tempestades, e o inverno mais quente da história do Brasil foi registrado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Além da evidente crise climática, grande parte dos locais atingidos por catástrofes naturais sofrem com o mau planejamento urbano do espaço em que se encontram. À sombra disso, fenômenos como o El Niño ou La Niña têm seus efeitos potencializados pela ausência de um planejamento de risco, pois não recebem o devido investimento.

Para o professor de geomorfologia Marcelo Motta, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Rio, as cidades, especialmente as localizadas nas periferias do capitalismo, como as da América Latina, não possuem uma gestão de risco para eventuais tempestades que ocorrem de maneira cada vez mais frequente, consequência do aquecimento global.

– Mudanças climáticas acontecem há milhões de anos, é um processo comum, mas vem sendo intensificado e piorado pela degradação do ambiente. Nas últimas décadas, a exploração de combustíveis fósseis acelerou o processo de aquecimento do planeta. As cidades estão sendo construídas de maneira equivocada. Há um problema de planejamento urbano, pois a produção dos espaços são de risco.

Marcelo Motta reforça a importância do planejamento urbano para o gerenciamento de catástrofes climáticas. Foto: Mateus Monte

Para além das questões ambientais, existem aspectos socioeconômicos a serem considerados quando se tratam das consequências da crise climática, como as habitações irregulares em locais de encostas, e a relação dos países desenvolvidos e subdesenvolvidos na crise. Em 1997, durante a 3ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, foi criado o Protocolo de Kyoto, que delimita as emissões de carbono de cada país. No entanto, com a política de compra do crédito de carbono, países desenvolvidos - principais responsáveis pelo aquecimento global - podem adquirir uma maior quantidade comprando dos países subdesenvolvidos. Segundo o professor Marcelo Motta, é importante que os dois temas, clima e sociedade, sejam avaliados de maneira conjunta.

– No caso do Brasil, existem construções residenciais logo abaixo de barragens, e sabe-se que são de risco. É preciso refletir sobre o porquê em um bairro nobre, três pessoas moram em um apartamento de 120 metros quadrados, e nessa mesma área em uma região periférica, vivem 30 pessoas em condições precárias – questiona o geógrafo.  

A responsabilidade de ação sobre as mudanças climáticas vai além das entidades políticas. Na visão do jornalista André Trigueiro, professor do Departamento de Comunicação, quanto menos a população estiver disposta a lidar com a crise do clima, piores serão as consequências.

– Nós, como cidadãos, podemos fazer essa diferença. Ano que vem haverá eleições para prefeito e vereador, e o nosso dever é escolher quem não replique o analfabetismo ambiental. Precisamos ser seletivos quanto aos lugares em que compramos, com a carne que comemos, de onde veio. É necessário ter protagonismo, não adianta apenas assinar petições on-line. O que muda o mundo são ações, fazer o que você sabe ser o certo, de onde estiver e do jeito que puder. 

Atualmente, a principal forma de produção de energia ainda é a exploração do petróleo, carvão e gás, principais causadores do efeito estufa. Ações por parte das entidades governamentais estão sendo criadas para a mitigação e adaptação de regiões que sofram com o calor extremo. Entretanto, há uma desigualdade no planejamento, pois determinados bairros localizados em áreas nobres recebem mais investimento em relação às regiões periféricas. De acordo com uma pesquisa feita pelo Observatório do Calor da UFRJ, no mesmo dia e horário, a diferença de temperatura da Gávea, área nobre do Rio de Janeiro, e de Madureira, localizada na Zona Norte, era de 11 graus. Isso ocorre devido à maior arborização da Gávea.

André Trigueiro destacou a responsabilidade da população sobre as mudanças climáticas. Foto: Carolina Bottino

Atuações governamentais para atenuar o problema são essenciais. Para o professor André Trigueiro, as escolhas que um governante faz são determinantes em vários aspectos.

– Não falamos apenas de soluções, mas adaptações, como preparar a cidade para um calor cada vez maior. É necessário construir propriedades que gerem conforto térmico, construir telhados com tinta branca reflexiva, criar cidades resilientes, assim como reduzir o risco de enchentes. Em geral, promover consciência ambiental por meio da criação de parques e chafarizes, como fizeram no Parque de Madureira. São soluções necessárias para o âmbito da saúde pública também, porque o calor extremo é gatilho para problemas como derrame cerebral, complicações cardíacas e desidratação.

De acordo com a visão dos docentes, a responsabilidade em alterar a maneira como se lida com as mudanças climáticas vêm, primeiramente, da população, ao eleger políticos capazes de lidar com a questão e, em seguida, da ação individual. A problemática vai além de catástrofes ambientais, mas sobre como o ser humano explora os recursos naturais de maneira que prejudica a si mesmo.

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