A fome como forma de resistência
11/10/2023 17:36
Angelo Ye

Museu Universitário Solar Grandjean de Montigny da PUC-Rio recebe montagem experimental que retrata manifestação de presos políticos nos anos 70

Cartaz da montagem sobre a greve de fome de presos em 1979. Foto: Kathleen Chelles.

“Anistia ampla, geral e irrestrita”. Esse era o lema das dezenas de presos políticos do presídio Frei Caneca, no Rio de Janeiro, em 1979. O levante teve proporções nacionais e foi aderido pelos presos de outras cadeias fluminenses. Para chamar atenção da imprensa e das autoridades da época, os detentos resolveram fazer uma greve de fome que durou 32 dias.

Para lembrar o ato ousado, os coletivos Lacuna (Laboratório de Artes, Literatura e Contemporaneidade a Partir de Arquivos) e o Contra-Arquivo, grupo de pesquisa em imagens, coordenado pela professora do Departamento de Comunicação Patrícia Machado resolveram agir. Os grupos inauguraram a montagem intitulada “32 dias: a greve de presos em 1979”, no Solar Grandjean de Montigny, no dia 4 de outubro. A mostra ficará em cartaz no mesmo número de dias do protesto na penitenciária.

A curadora da montagem Patrícia Machado explica como foi o trabalho de apuração das imagens cedidas pelo fotógrafo Paulo Jabur, um dos presos políticos, que compõem a exposição.

— A atividade partiu de um convite do Lacuna Arquivo, que está cuidando do Solar, para que nós fizéssemos uma ocupação com o material de pesquisa do Práticas de Contra-Arquivo. O grupo faz parte do Departamento de Comunicação e foi convidado para pensar em um evento específico da época da ditadura militar. Nesse caso, foi a greve dos presos políticos do presídio Frei Caneca, em 1979. O acontecimento  produziu uma farta documentação, especialmente em imagens, porque um dos presos políticos, Paulo Jabur, entrou escondido com uma câmera fotográfica e duas filmadoras. Dessa forma, ele produziu fotos e vídeos do acontecimento.

Frames dos rostos dos presos que aderiram à greve. As imagens são resultado do trabalho de pesquisa dos grupos citados na matéria. Foto: Kathleen Chelles.

A pesquisadora enfatiza que a proposta é apresentar os arquivos que foram impressos, fazer projeções e achar maneiras de expô-los. Para ela, a montagem é uma experimentação. Uma das atividades é convidar pessoas que estão nas imagens exibidas para que relembrem o ocorrido. O objetivo é elucidar o que esses ativistas queriam alcançar com esse ato durante o período da Ditadura. Diante disso, os organizadores também querem dar início a processos de ativação de memória e analisar como a imprensa noticiou a greve. As fontes variam desde jornais da época até documentos da polícia política.

Patrícia Machado não esconde o desejo de, no futuro, fazer com que a montagem transcenda a simples ocupação do Museu Universitário, como também é conhecido o Solar, e ganhe maior proporção.

— A ideia é que mais adiante possamos fazer uma exposição, algo maior, por meio de algum edital – afirma a professora do Departamento de Comunicação.

Professora Patrícia Machado (camisa bege) e Joana Passi (de azul) coordenam as atividades de montagem entre os alunos.

Do Departamento de Letras da PUC-Rio e líder do Lacuna, Joana Passi fala um pouco sobre a história e as atividades do grupo. Para ela, o objetivo do coletivo é criar pontes entre os departamentos da Universidade.

— O grupo surgiu na Letras, mas faz pesquisa independente. Somos um coletivo horizontal e tentamos criar conexões entre os departamentos que também estão pensando na prática do arquivo. A parceria com a professora Patrícia nasceu dessa premissa e daí surgiu a ideia de ocupação com a intenção de trazer a comunidade PUC-Rio de forma ampla, para que pudéssemos pensar juntos. O Solar é um espaço que tem proporcionado isso.  Mesmo sendo experimental, o projeto pode crescer com as informações que os visitantes vão trazer. É um trabalho em processo. 

Alunos dos grupos de pesquisa fazem os ajustes finais antes da abertura oficial da montagem no Solar Grandjean de Montigny. Foto: Kathleen Chelles.

O horário de visitação do Solar é de segunda a sexta-feira, das 10h às 17h, exceto em feriados. A entrada é gratuita. Para mais informações, siga os perfis do Lacuna e do Contra-Arquivo.

 

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